O Doc foi um dos contemplados pelo programa do Ministério da Cultura e fala do Movimento dos Sem Terra por uma visão própria da diretora que conviveu por alguns meses em assentamentos com essas pessoas. Vi algumas críticas questionarem o título como pretensioso, eu dou outra interpretação após assistir ao filme e entrevistar a diretora. Na verdade, a visão de dentro não seria simplesmente de dentro do movimento como algo verdadeiro, distante da imagem da mídia. Claro que a intenção inicial é essa. Mas, acho que o documentário tem uma visão de dentro da diretora. Sua relação com a terra, com os valores em que acredita e com o que gostaria de passar a seu público. E nisso, não é nada pretensioso. É apenas verdadeiro.
A amostra é pequena para falar de uma visão do Movimento dos Sem Terra. Talvez por isso, para alguns ficou superficial. São visões de algumas pessoas em um determinado assentamento. O tema não tem mesmo como ser esgotado em um doc de 52 minutos. As imagens dão voz ao comum, a pessoas que estavam esquecidas, não é algo político, panfletário. Não se propõe a discutir a questão fundiária no país, nem mesmo a função do MST. É mais uma pequena amostra de pessoas que vivem com pouco, lutam por sua terra e tiram dela o seu sustento.
O filme é bem construído, tem uma bela fotografia, com enquadramentos artísticos e experimentações. Uma cena da sombra de um sem terra pegando água com um balde em um rio imundo foi a que mais me chamou a atenção. Pela plástica, pela poesia, pela metáfora e pela denúncia. O Doc mescla depoimentos, com imagens locais sempre com intervenções artísticas, a progressão é aleatória, mas expõe bem a mensagem principal que é mostrar a realidade daquele povo e seu ponto de vista. Tem depoimentos emocionantes. A trilha sonora é outro ponto positivo, bastante feliz, agrega ao tema, tendo inclusive uma música sobre o movimento.
Como primeiro documentário profissional (digamos assim), Sophia demonstrou ter muito a mostrar ainda. Apenas por ser tão envolvida com o tema, percebe-se alguns escorregões no pacto de documentário, quando, por exemplo, induz a entrevistada na pergunta "mas você não acha que aqui tem mais cooperação?" Em alguns momentos também, ela exagerou nos experimentos artísticos para o meu gosto, se empolgou mostrando folhas, céu, pan rápida da festa, constraste de terra e sol escaldante que poderiam ficar mais harmônicos como inserts nos depoimentos.