Na Natureza Selvagem
Qual o sentido da vida? Complexa e sem resposta concreta, essa pergunta permeia a trajetória do jovem Christopher McCandless, que poderia se definir como um aventureiro nato, desprendido e que queria apenas experimentar uma sensação incrível de liberdade. Apesar disso, demonstra ser também, um rebelde ferido, que não consegue superar o trauma da relação de seus pais e abandona tudo o que a vida lhe deu para expurgar essa sensação de mediocridade humana que o sufoca. Ele quer o silêncio da vida ao natural. Sem dinheiro, sem vínculos, sem passado. Seu novo nome, Alexander Supertramp, já é uma brincadeira irônica, já que tramp é vagabundo em inglês.
Em Na Natureza Selvagem, Sean Penn, que além de dirigir, assina o roteiro do filme, conta essa história de uma maneira bem instigante e funcional. Misturando as épocas, tendo como base o ônibus abandonado onde Chris passou os últimos dias de sua vida, tenta reconstruir essa aventura que aos olhos de muitos pode parecer uma grande maluquice. Afinal, quem largaria o conforto de uma vida urbana, bem resolvida da classe média, com uma vaga em uma universidade, um carro novo e um futuro promissor para se embrenhar no meio do mato? As lições de vida e os questionamentos que esse menino faz nos levam a pensar em nossas vidas, na futilidade de muitas coisas que nos parecem essenciais e no verdadeiro sentido de estarmos nesse planeta.
A vida de Christopher McCandless e o filme de Sean Pean são pura filosofia. E das boas, pois toca em assuntos como liberdade, felicidade, sentido da vida, relações humanas, traumas familiares e natureza selvagem. A interpretação de Emile Hirsch e do elenco de apoio ajuda nessa construção, tornando tudo bastante real e profundo. Destaque para participação de Kristen Stewart, a Bella Swan de Crepúsculo, como uma cantora de beira de estrada.
Chris fala para um de seus novos amigos ao se despedir: "Mas, se engana se acha que a alegria de viver vem principalmente das relações humanas. Deus colocou-a a nosso redor. Está em tudo que possamos experimentar. As pessoas apenas precisam mudar a maneira como olham para essas coisas." E o amigo lhe diz que é para ele pensar em tudo que lhe aconteceu, em seus pais e para perdoar, pois "quem perdoa, ama. E quando se ama, a luz de Deus nos ilumina". É impressionante como o ser humano consegue machucar uns aos outros. E como é difícil perdoar algumas coisas que consideramos mais profundas. Mas, tudo isso se torna tão pequeno diante de momentos cruciais da nossa existência. Esse road movie é mais do que história e entretenimento, é material para se pensar. E muito.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Na Natureza Selvagem
2010-03-30T08:51:00-03:00
Amanda Aouad
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