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O contador de histórias

O Contador de HistóriasIndependente de qualquer qualidade fílmica, vale a pena conhecer a história de Roberto Carlos Ramos. Nono filho de uma família carente, é enviado para FEBEM com a esperança que sua mãe tem dele se tornar "dotô" e lá sua vida mudar completamente. A princípio muda para pior, sendo considerado irrecuperável, depois para melhor, quando conhece a pedagoga francesa Margherit que o adota e dá a oportunidade dele se tornar um grande contador de histórias, pós-graduado em literatura infantil.

Uma pena, no entanto, que a empolgação de contar histórias de Roberto Carlos não tenha sido transmitida para a construção do roteiro. Há boas tentativas no início, quando a fantasia se mistura à realidade pela imaginação do menino, tão bem feito em Peixe Grande e recentemente em Preciosa. Porém, assim como o filme de Lee Daniels, O Contador de Histórias larga esse recurso no meio da história concentrando-se apenas no drama. Seria mais interessante se víssemos mais cenas como a versão de sua ida para FEBEM naquele assalto no melhor estilo anos 70, ou com a professora de ginástica transformada em hipopótamo, ou ainda no "cabelinho de fogo" descendo as escadas como um príncipe.

O Contador de Histórias Pelo menos, o roteiro também não é tão didático quanto as primeiras cenas, quando vemos Roberto Carlos todo ferido deitar no trilho do trem e uma narração over dizer "naquele dia, eu queria morrer" ou então, a câmera mostrar o detalhe do sapato de Margherit e a insistente voz dizer: "a primeira coisa que vi dela foi o sapato". Passado esse susto incial, a narração cumpre um papel, afinal estamos mostrando a vida de um contador de histórias e é interessante vê-lo contando-a (é o próprio Roberto Carlos quem narra). Melhor ainda que Luis Vilaça não tenha partido para o óbvio recurso de imitação de Forrest Gump, colocando o protagonista em algum lugar contando literalmente aquela trama.



O diretor consegue mostrar seu filme mais maduro e cumpre o objetivo de emocionar. O filme tem bons momentos e dosa sofrimento com cenas divertidas, tornando a trajetória mais crível que Um Sonho Possível, por exemplo, apesar de ambos tratarem de uma história parecida  e real como já havia ressaltado outro blog.

As interpretações, por sua vez, estão muito boas, principalmente dos dois meninos que vivem o protagonista e da atriz Maria de Medeiros como a pedagoga francesa. Há emoção, há história, há vida. Nada de excepcional, nada que mudará a história do cinema, mas um filme a ser visto. Já nos créditos, o verdadeiro Roberto Carlos entra em ação. Vale a pena conferir.


Ainda em tempo, Denise Fraga, esposa do diretor, aparece em duas pontas, percebam. Ela é a mulher que tem a bolsa roubada pelo "time" de Roberto Carlos e é uma das pessoas que está no parque ouvindo a história ser contada.

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