Por que tanto barulho por Guerra ao Terror?
Um filme independente foi lançado, poucos apostaram nele, quase não houve divulgação. A miopia foi tanta que os distribuidores brasileiros acharam que não valia a pena gastar cartucho com ele e lançaram diretamente no DVD. De repente, esse filme começa a ganhar a mídia, finalista de vários prêmios, vencedor de alguns, incluindo o recente BAFTA onde levou melhor filme, direção e roteiro. Chegou ainda ao Oscar com nove indicações e dividindo os holofotes com uma super produção de 500 milhões que já era esperada há anos. Parece conto de fadas, a menina pobre que conhece o príncipe e vira uma princesa, mas a verdade é que por trás de tudo isso, encontra-se um filme tenso, muito bem dirigido, com um roteiro inteligentíssimo e, por que não, inovador.
Não é só com efeitos especiais que se inova no cinema. A forma de contar a história é essencial nesse processo e Kathryn Bigelow conseguiu aquilo que Neill Blomkamp tentou em Distrito 9, levar a linguagem do documentário para a ficção. A câmera na mão, efeitos sonoros todos intra-diegéticos, linguagem realista e ritmo narrativo real. Há elipses, claro, em documentários também, mas a construção das cenas nos dão uma sensação de documentação do dia a dia daqueles soldados. A edição, no entanto, é rápida, picotada, não deixando que a narrativa fique monótona. Não há uma grande trama, uma jornada a ser seguida. O filme conta a rotina de desarmadores de bomba no Iraque. Sem pontos de vistas privilegiados, sem vangloriar os Estados Unidos, nem mesmo o estado de guerra. Há apenas a tese defendida de que a adrenalina da batalha vicia. E quem um dia irá dizer que não há razão nisso?
A tensão é constante, porque a sensação é real. O plot point do filme é uma explosão, aos nove minutos de projeção, com a morte do que aparentava ser o protagonista. O impacto é forte. Desde então, ficamos suspensos em nossa atenção, com a eminência de outra explosão. Mesmo quando aparentemente a tensão acaba, fica uma dúvida, "será que agora tá seguro?" É assim em uma das cenas mais complexas do filme, quando James tenta desarmar várias bombas dentro de um carro. Mesmo depois dele ter achado o dispositivo, Kathryn Bigelow nos dá vários planos-detalhes que mantêm a tensão, como se algo ainda não tivesse terminado.
Aliás, o filme está repleto de planos detalhes, de big closes e câmeras subjetivas que só aumentam a tensão da situação. E mesmo com a explosão do início, a tensão consegue ser crescente. Por incrível que pareça, a tensão só cai um pouco em uma sequência de tiros, mesmo assim, a construção continua mantendo o suspense e após uma descarga forte, o clima volta a ficar o mesmo.
Em alguns momentos, o roteiro de Mark Boal apela para o melodrama, é uma forma, provavelmente, de humanizar um pouco mais a situação, precisamos nos afeiçoar ao personagem para sentir sua dor. É assim com o garoto iraquiano ou com um soldado mais novo que fala de sua certeza que vai morrer. Interessante perceber que ele fala da morte eminente enquanto joga um video-game de tiro. Mesmo em plena guerra, com toda aquela adrenalina, sua diversão é dar tiros na tela. Há uma bela crítica aí. Assim como na necessidade de adrenalina do sargento James, vivido muito bem por Jeremy Renner. Ele não se contenta em desarmar bombas. Ele arrisca mesmo quando seus superiores mandam parar, ele resolve pegar as luvas esquecidas no meio do teste de explosões, ele quer ficar quando todos sonham em ir embora. Seu embate com o sargento TJ (Anthony Mackie) é um ponto extra em toda a história, que a faz andar. Mesmo que não haja aqui, vilões ou mocinhos.
Por tudo isso, Guerra ao Terror está tão bem cotado, e provavelmente leva algumas estatuetas para casa. Eu torço para que seja o de direção, que ainda quebra o tabu de mulheres vencendo na categoria.
Não é só com efeitos especiais que se inova no cinema. A forma de contar a história é essencial nesse processo e Kathryn Bigelow conseguiu aquilo que Neill Blomkamp tentou em Distrito 9, levar a linguagem do documentário para a ficção. A câmera na mão, efeitos sonoros todos intra-diegéticos, linguagem realista e ritmo narrativo real. Há elipses, claro, em documentários também, mas a construção das cenas nos dão uma sensação de documentação do dia a dia daqueles soldados. A edição, no entanto, é rápida, picotada, não deixando que a narrativa fique monótona. Não há uma grande trama, uma jornada a ser seguida. O filme conta a rotina de desarmadores de bomba no Iraque. Sem pontos de vistas privilegiados, sem vangloriar os Estados Unidos, nem mesmo o estado de guerra. Há apenas a tese defendida de que a adrenalina da batalha vicia. E quem um dia irá dizer que não há razão nisso?
A tensão é constante, porque a sensação é real. O plot point do filme é uma explosão, aos nove minutos de projeção, com a morte do que aparentava ser o protagonista. O impacto é forte. Desde então, ficamos suspensos em nossa atenção, com a eminência de outra explosão. Mesmo quando aparentemente a tensão acaba, fica uma dúvida, "será que agora tá seguro?" É assim em uma das cenas mais complexas do filme, quando James tenta desarmar várias bombas dentro de um carro. Mesmo depois dele ter achado o dispositivo, Kathryn Bigelow nos dá vários planos-detalhes que mantêm a tensão, como se algo ainda não tivesse terminado.
Aliás, o filme está repleto de planos detalhes, de big closes e câmeras subjetivas que só aumentam a tensão da situação. E mesmo com a explosão do início, a tensão consegue ser crescente. Por incrível que pareça, a tensão só cai um pouco em uma sequência de tiros, mesmo assim, a construção continua mantendo o suspense e após uma descarga forte, o clima volta a ficar o mesmo.
Em alguns momentos, o roteiro de Mark Boal apela para o melodrama, é uma forma, provavelmente, de humanizar um pouco mais a situação, precisamos nos afeiçoar ao personagem para sentir sua dor. É assim com o garoto iraquiano ou com um soldado mais novo que fala de sua certeza que vai morrer. Interessante perceber que ele fala da morte eminente enquanto joga um video-game de tiro. Mesmo em plena guerra, com toda aquela adrenalina, sua diversão é dar tiros na tela. Há uma bela crítica aí. Assim como na necessidade de adrenalina do sargento James, vivido muito bem por Jeremy Renner. Ele não se contenta em desarmar bombas. Ele arrisca mesmo quando seus superiores mandam parar, ele resolve pegar as luvas esquecidas no meio do teste de explosões, ele quer ficar quando todos sonham em ir embora. Seu embate com o sargento TJ (Anthony Mackie) é um ponto extra em toda a história, que a faz andar. Mesmo que não haja aqui, vilões ou mocinhos.
Por tudo isso, Guerra ao Terror está tão bem cotado, e provavelmente leva algumas estatuetas para casa. Eu torço para que seja o de direção, que ainda quebra o tabu de mulheres vencendo na categoria.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Por que tanto barulho por Guerra ao Terror?
2010-03-05T08:18:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|Kathryn Bigelow|Oscar 2010|
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