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Peter Jackson
Stanley Tucci
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Um olhar do paraíso
Um olhar do paraíso
Um Olhar do Paraíso é uma adaptação do livro de Alice Sebold, Uma Vida Interrompida – Lembranças de um Anjo Assassinado lançado em 2002. O título original The Lovely Bones (Restos Angelicais) é sutil na metáfora não apenas daquela menina ingênua, como nos laços que une e separa sua família após a tragédia. Mas tudo o que o filme de Peter Jackson não é, é sutil. Não que eu ache isso ruim, tem muita coisa boa no filme, mas também tem muita coisa ruim. No equilíbrio, um filme que poderia ser maravilhoso se torna apenas mediano e a tensão das interpretações, aliada à fotografia e direção de arte acabam se destacando.
Em dezembro de 1973, Susie Salmon está voltando do colégio quando é abordada por um vizinho e é assassinada. Começa, então, narrativas paralelas, Susie em uma espécie de intermédio entre o céu e a terra, sua família corroída pela dor à procura de respostas para o que aconteceu e seu assassino deliciando-se com o ocorrido e já preparando o novo ataque. A montagem é extremamente feliz ao dar uma dimensão exata desses paralelos, principalmente na primeira parte do filme, antes da menina ser assassinada, criando uma tensão e suspense bem dosados. Mas, já aí começam os problemas, ao insistir em uma narrativa em off de Susie nos antecipando muitas coisas. Há um jogo interessante, como na primeira aparição do assassino, que apenas os espectadores mais atentos verão, mas há também a entrega muito fácil de todo o ocorrido e uma explicação excessiva quase didática do que o roteiro queria passar.
O mundo intermediário, formado por elementos da vida de Susie, é belo, bem construído e grandioso, bem ao estilo do diretor. E a sobreposição de imagens é muito bem feita, dando uma dimensão exata dos sentimentos da menina que observa sua família daquele lugar estranho. A premissa desse estágio é bem parecida com Amor Além da Vida, tendo os efeitos visuais e sonoros os principais ajudantes na composição. Mas, o clichê dos filmes espiritualistas norte-americanos me incomodam um pouco. Isso, no entanto, é um comentário bem pessoal. Sei que muitos podem adorar.
O clima de suspense e drama, no entanto, vai caindo após o crime em si, chegando a uma sequência lamentável com uma deslocada Susan Sarandon em um clipe absurdo em meio a toda aquela situação. Prefiro esquecer esses dez minutos de filme. Já Mark Wahlberg me surpreendeu em diversos momentos, conseguindo uma boa dramaticidade no sofrimento daquele pai obstinado, achei que ele nunca conseguiria passar emoção. Saoirse Ronan também está bem, trazendo verdade em seus momentos tensos. Mas, o filme é mesmo de Stanley Tucci. A indicação ao Oscar é mais do que merecida. Ele consegue dosar bem o seu perturbado George Harvey, dando total veracidade aos seus atos insanos e a frieza ao ser confrontado pela polícia e pelo pai aflito.
E como a curva dramática vai caindo em vez de subindo, o final é algo de lamentável. Vários detalhes quase destroem a história, que não irei exemplificar aqui para não perder o sentido, mas são diversos pontos apelativos, irreais ou mesmo clichês que culminam no desfecho final totalmente apático. É uma pena, pois tudo poderia ser grandioso e muito melhor. Ainda assim, é um bom filme, nos faz pensar e constrói sensações intensas em sua apreciação. Devo confessar que chorei, tive medo, fiquei revoltada e tensa, em diversos momentos, só isso já vale a experiência fílmica.
Em dezembro de 1973, Susie Salmon está voltando do colégio quando é abordada por um vizinho e é assassinada. Começa, então, narrativas paralelas, Susie em uma espécie de intermédio entre o céu e a terra, sua família corroída pela dor à procura de respostas para o que aconteceu e seu assassino deliciando-se com o ocorrido e já preparando o novo ataque. A montagem é extremamente feliz ao dar uma dimensão exata desses paralelos, principalmente na primeira parte do filme, antes da menina ser assassinada, criando uma tensão e suspense bem dosados. Mas, já aí começam os problemas, ao insistir em uma narrativa em off de Susie nos antecipando muitas coisas. Há um jogo interessante, como na primeira aparição do assassino, que apenas os espectadores mais atentos verão, mas há também a entrega muito fácil de todo o ocorrido e uma explicação excessiva quase didática do que o roteiro queria passar.
O mundo intermediário, formado por elementos da vida de Susie, é belo, bem construído e grandioso, bem ao estilo do diretor. E a sobreposição de imagens é muito bem feita, dando uma dimensão exata dos sentimentos da menina que observa sua família daquele lugar estranho. A premissa desse estágio é bem parecida com Amor Além da Vida, tendo os efeitos visuais e sonoros os principais ajudantes na composição. Mas, o clichê dos filmes espiritualistas norte-americanos me incomodam um pouco. Isso, no entanto, é um comentário bem pessoal. Sei que muitos podem adorar.
O clima de suspense e drama, no entanto, vai caindo após o crime em si, chegando a uma sequência lamentável com uma deslocada Susan Sarandon em um clipe absurdo em meio a toda aquela situação. Prefiro esquecer esses dez minutos de filme. Já Mark Wahlberg me surpreendeu em diversos momentos, conseguindo uma boa dramaticidade no sofrimento daquele pai obstinado, achei que ele nunca conseguiria passar emoção. Saoirse Ronan também está bem, trazendo verdade em seus momentos tensos. Mas, o filme é mesmo de Stanley Tucci. A indicação ao Oscar é mais do que merecida. Ele consegue dosar bem o seu perturbado George Harvey, dando total veracidade aos seus atos insanos e a frieza ao ser confrontado pela polícia e pelo pai aflito.
E como a curva dramática vai caindo em vez de subindo, o final é algo de lamentável. Vários detalhes quase destroem a história, que não irei exemplificar aqui para não perder o sentido, mas são diversos pontos apelativos, irreais ou mesmo clichês que culminam no desfecho final totalmente apático. É uma pena, pois tudo poderia ser grandioso e muito melhor. Ainda assim, é um bom filme, nos faz pensar e constrói sensações intensas em sua apreciação. Devo confessar que chorei, tive medo, fiquei revoltada e tensa, em diversos momentos, só isso já vale a experiência fílmica.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Um olhar do paraíso
2010-03-03T08:25:00-03:00
Amanda Aouad
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