Passado o absurdo, vamos ao filme. Alguns esclarecimentos são necessários para que compreendam meu paradoxo e para que eu não pareça me contradizer durante o texto. Nunca gostei de Alice no País das Maravilhas, vi o filme da Disney apenas uma vez (um recorde para uma criança) e dei uma passada em um livro ilustrado. Aquela viagem definitivamente não me atraiu, por isso, nem tinha ficado tão empolgada com esse novo filme. Em contrapartida sou fã incondicional de Tim Burton. Adoro a forma como ele constrói seus mundos, suas viagens através das sombras, sua forma de nos conduzir na história. Até hoje, nada superou Edward Mãos de Tesoura, é verdade, mas gosto muito de cada nova investida.
Então, Alice é uma mistura dessas duas coisas. Estão lá a história insossa e as técnicas cinematográficas de Tim Burton. O clima psicodélico é elevado ao quadrado, já que ambos tem essas características. A parte antes e depois da aventura na toca do coelho, no entanto, é chatíssima. Acredito que nem precisava existir. O filme é uma espécie de continuação da história original, tomando como base o livro Alice através do Espelho. Aos 17 anos, a moça retorna ao mundo subterrâneo, sem lembrar da primeira aventura, com uma nova missão que já estava prevista no oráculo.
Em termos de história ou roteiro, pouco têm-se a acrescentar. É aquela coisa meio boba, meio onírica, sem sentido mesmo. Mas, se você vai se deixando levando, funciona. O plus é a direção de arte, a atmosfera sombria, os enquadramentos. A cena em que o chapeleiro mostra a Alice o campo desvastado é uma pintura. O rio de cabeças que ela tem que pular. A escadaria onde ocorre a batalha final. Eu gostei muito de tudo que foi apresentado. Já o 3D, tem dois bons momentos, quando Alice passa por um matagal e parece que os galhos vão nos cortar e uma cena de vôo, em que os garotos Tweedledee e Tweedledum são pegos. Fora isso, é um grande desperdício de dinheiro. Só pra dizer que tem versão nesta tecnologia. Até a legenda não é tão eficaz quanto Avatar. Fica, muitas vezes atrás de algum elemento, dificultando a leitura.
Os atores foram para mim a grande decepção. Johnny Depp está caricato demais como o chapeleiro. Acho que ele ficou tanto tempo fazendo papéis esquisitos que esqueceu de colocar um tom a menos. Anne Hathaway como a rainha branca, então, que coisa artificial. Já Helena Bonham Carter está muito bem como a rainha vermelha (ou rainha de Copas, como eu me lembro), protagonizando boas cenas de histeria. Já de Mia Wasikowska eu não esperava muito. Assisti toda a primeira temporada de In Treatment e dava para ver suas limitações. Agora, meu personagem preferido, o coelho branco, está fantástico. Muito bem feito, como todos os personagens em computação do filme, fofo e sagaz, ele é uma luz na história. Destaque também para a lagarta azul dublada pela inconfundível voz de
Agora vem o paradoxo. Com tudo isso dito, prós e contras na mesa, devo dizer que o filme é bom. A mistura de tudo ao entrar na toca do coelho me fez sentir a liberdade de Alice em seu sonho mágico. Acredito que tudo aquilo seja uma grande metáfora da vida, com mensagens subliminares diversas. E embarcando nessa viagem foi muito divertido viver cada momento. Mesmo com dor nas costas por não ter onde sentar. Acho que valeu a experiência. Estava precisando de algo assim, sem compromisso, depois de ver Anticristo.