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Reginaldo Faria
40 anos do Tri: Pra Frente Brasil
40 anos do Tri: Pra Frente Brasil
Hoje faz quarenta anos que o Brasil ganhou o tri campeonato mundial no México. Como já falei aqui de Pelé Eterno, vou abordar o ponto ruim daquela vitória: encobrir a ditadura militar que tomava conta do país. É essa a premissa do filme que Roberto Farias lançou em 1982, ainda no governo Figueiredo, sendo o primeiro filme a falar abertamente de torturas e todas as consequências do golpe de 64. O filme foi bem recebido pela crítica ganhando o Prêmio C.I.C.A.E., no Festival de Berlim e os prêmios de Melhor Filme e Melhor Edição, no Festival de Gramado.
O argumento é interessante, fazer um paralelo da Copa com as torturas. No dia do primeiro jogo do Brasil um pacato cidadão da classe média é confundido com um militante político e preso pelo DOPS. O processo de tortura ocorre enquanto está ocorrendo o campeonato de futebol e termina no dia da final. Reginaldo Faria, que vive o homem preso por engano, assina o roteiro junto a Paulo Mendonça e ambos pecam em não conseguir sustentar tão bem a premissa da comparação. As cenas dos jogos acabam sendo inseridas de forma forçada, principalmente no final. Poucos são os momentos em que a comparação é natural a exemplo de uma cena em que os militares se preparam para mais uma sessão de tortura quando alguém grita: o jogo vai começar. O comandante então, vira para o preso e diz: "reza para o Brasil ganhar".
A história se concentra na família de Jofre tentando descobrir seu paradeiro. Seu irmão Miguel, vivido por Antonio Fagundes, em uma ótima atuação. E sua mulher Marta, vivida pela ainda inexperiente Natália do Valle que em muitas cenas soa artificial. Destaque também para Elizabeth Savalla, como a noiva guerrilheira de Miguel, o torturador Carlos Zara e Neuza Amaral que vive a irônica mulher do chefe, interpretado por Paulo Porto.
Apesar do roteiro não ser tão feliz, o filme se sustenta na importância da denúncia e na força do argumento. Com uma fotografia carente de técnica e criatividade, mas com uma câmera bem posicionada, a história se desenvolve retratando o contraste da época, onde a classe média, alheia às manobras dos empresários que sustentavam a tortura, acaba atingida pela falta de lei. Muitos criticaram essa solução que o roteiro teve para expor as torturas, ao colocar estes militares à margem do processo total, como se não fosse uma coisa oficial. Porém, esta foi a única forma do filme ser exibido, e mesmo assim, depois de muita censura. Tanto que o presidente da Embrafilme Celso Amorim teve que se demitir do cargo após aprovar o financiamento do projeto.
Menos emotivo que O ano em que meus pais saíram de férias, filme que insere a copa de 70 de uma forma mais harmônica na trama, Pra Frente Brasil se coloca como um filme denúncia. Expõe o que pode nas cenas de tortura, retrata o drama daqueles que têm seus parentes sumidos e ninguém a quem recorrer, e demonstra como a grande massa estava alheia a tudo isso, comemorando a vitória no México. Para a época era a proposta mais interessante e por isso, fez tanto sucesso. Hoje, eu prefiro algo como o filme de Cao Hamburger, muito mais sutil, pelo foco do garoto que perde seus pais para ditadura. Sem nunca mostrar prisão, nem tortura, deixa no ar, para que o espectador imagine aquilo que ele já sabe.
O argumento é interessante, fazer um paralelo da Copa com as torturas. No dia do primeiro jogo do Brasil um pacato cidadão da classe média é confundido com um militante político e preso pelo DOPS. O processo de tortura ocorre enquanto está ocorrendo o campeonato de futebol e termina no dia da final. Reginaldo Faria, que vive o homem preso por engano, assina o roteiro junto a Paulo Mendonça e ambos pecam em não conseguir sustentar tão bem a premissa da comparação. As cenas dos jogos acabam sendo inseridas de forma forçada, principalmente no final. Poucos são os momentos em que a comparação é natural a exemplo de uma cena em que os militares se preparam para mais uma sessão de tortura quando alguém grita: o jogo vai começar. O comandante então, vira para o preso e diz: "reza para o Brasil ganhar".
A história se concentra na família de Jofre tentando descobrir seu paradeiro. Seu irmão Miguel, vivido por Antonio Fagundes, em uma ótima atuação. E sua mulher Marta, vivida pela ainda inexperiente Natália do Valle que em muitas cenas soa artificial. Destaque também para Elizabeth Savalla, como a noiva guerrilheira de Miguel, o torturador Carlos Zara e Neuza Amaral que vive a irônica mulher do chefe, interpretado por Paulo Porto.
Apesar do roteiro não ser tão feliz, o filme se sustenta na importância da denúncia e na força do argumento. Com uma fotografia carente de técnica e criatividade, mas com uma câmera bem posicionada, a história se desenvolve retratando o contraste da época, onde a classe média, alheia às manobras dos empresários que sustentavam a tortura, acaba atingida pela falta de lei. Muitos criticaram essa solução que o roteiro teve para expor as torturas, ao colocar estes militares à margem do processo total, como se não fosse uma coisa oficial. Porém, esta foi a única forma do filme ser exibido, e mesmo assim, depois de muita censura. Tanto que o presidente da Embrafilme Celso Amorim teve que se demitir do cargo após aprovar o financiamento do projeto.
Menos emotivo que O ano em que meus pais saíram de férias, filme que insere a copa de 70 de uma forma mais harmônica na trama, Pra Frente Brasil se coloca como um filme denúncia. Expõe o que pode nas cenas de tortura, retrata o drama daqueles que têm seus parentes sumidos e ninguém a quem recorrer, e demonstra como a grande massa estava alheia a tudo isso, comemorando a vitória no México. Para a época era a proposta mais interessante e por isso, fez tanto sucesso. Hoje, eu prefiro algo como o filme de Cao Hamburger, muito mais sutil, pelo foco do garoto que perde seus pais para ditadura. Sem nunca mostrar prisão, nem tortura, deixa no ar, para que o espectador imagine aquilo que ele já sabe.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
40 anos do Tri: Pra Frente Brasil
2010-06-21T12:07:00-03:00
Amanda Aouad
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