Todos os Corações do Mundo
Já vi alguns blogueiros falando sobre este filme, mas acho que vale a pena reforçar o coro. Afinal, o longa dirigido por Murilo Salles é um dos melhores documentários do gênero. Além disso, a Copa de 94 é um bom exemplo para animar a torcida brasileira que está reclamando do time de Dunga, sem grande brilho ou craques. O título que veio após o jejum de 24 anos, não foi com o famoso futebol arte que nos fez sofrer em 82. Com resultados magros, o time de Parreira chegou à final sem nunca deixar a torcida satisfeita. Ainda mais em um campeonato onde tudo está tão estranho. Então, não custa sonhar com o hexa, afinal somos brasileiros e não desistimos nunca.
O longa mistura o clima do Cinema Verdade, buscando o povo nas ruas para falar de sua paixão com o formato consagrado pelo Canal 100. A própria locução over é apenas pontual, e acho que poderia ser suprimida por outros depoimentos, deixando o filme ainda mais dinâmico. Afinal, o gostoso do filme é se sentir no estádio, ouvindo a torcida, vendo as imagens impressionantemente próximas, detalhando a emoção em diversos pontos do mundo. A Copa do Mundo de Futebol é mesmo uma atração que para o planeta de quatro em quatro anos. Por ironia, apenas o país-sede daquele evento parece alheio a tudo isso.
De forma inteligente, Murilo Salles começa então, com os americanos dizendo o que acham que seja futebol (soccer), Copa e seleções favoritas. O contraste da ignorância do país sede com a paixão que o esporte desperta nas demais torcidas dá o tom do documentário. A forma como ele puxa as seleções também é intessante. Começando com nossos hermanos, ele mostra a Argentina e sua trajetória até a eliminação, passando pela expulsão de Maradona da competição por uso de entorpecentes. Então, ele puxa a história do seu adversário e assim vai até a final. Há uma quebra nesse formato apenas ao falar de Itália e Brasil, aí, a cada adversário que eles vão pegando o filme retorna para mostrar a trajetória deste.
Um problema que destaco é o tempo que eles reservaram à final. Demoraram tanto detalhando os demais jogos que a decisão acaba passando quase no susto. Não temos nem a dimensão do sofrimento que foi aquele zero a zero. Nem mesmo é mostrada a prorrogação. Quer dizer, para nós que somos brasileiros, dá para reconhecê-la pela corrida de Viola, mas um espectador desatento nem percebe. Aliás, a participação do jogador na final foi um show à parte. Última opção de entrada, foi só dizer a Zagalo que ele sonhou fazendo o gol do título que o supersticioso auxiliar técnico sugeriu a Parreira colocá-lo. Quem sabe, né? Seus minutos de fama não foram tão bem aproveitados, mas não podemos negar que ele entrou com vontade de tornar o sonho realidade.
O fato é que fomos para os pênaltis e a edição do longa mais uma vez vacilou em não mostrar as reações de atacante e goleiro ao mesmo tempo, a reação de Taffarel agradecendo aos céus por pegar o chute de Massaro mesmo ficou de fora. Mas, foi extremamente feliz ao deixar a câmera no desolado Baggio após aquele chute infeliz que nos deu o tetracampeonato. Já a comemoração do título ficou muito dispersa. Talvez a sensação seja por ser brasileiro e querer ver melhor esses momentos. E o longa é sobre Todos os Corações do Mundo, não apenas o brasileiro. Ainda assim, é bom lembrá-lo.
O longa mistura o clima do Cinema Verdade, buscando o povo nas ruas para falar de sua paixão com o formato consagrado pelo Canal 100. A própria locução over é apenas pontual, e acho que poderia ser suprimida por outros depoimentos, deixando o filme ainda mais dinâmico. Afinal, o gostoso do filme é se sentir no estádio, ouvindo a torcida, vendo as imagens impressionantemente próximas, detalhando a emoção em diversos pontos do mundo. A Copa do Mundo de Futebol é mesmo uma atração que para o planeta de quatro em quatro anos. Por ironia, apenas o país-sede daquele evento parece alheio a tudo isso.
De forma inteligente, Murilo Salles começa então, com os americanos dizendo o que acham que seja futebol (soccer), Copa e seleções favoritas. O contraste da ignorância do país sede com a paixão que o esporte desperta nas demais torcidas dá o tom do documentário. A forma como ele puxa as seleções também é intessante. Começando com nossos hermanos, ele mostra a Argentina e sua trajetória até a eliminação, passando pela expulsão de Maradona da competição por uso de entorpecentes. Então, ele puxa a história do seu adversário e assim vai até a final. Há uma quebra nesse formato apenas ao falar de Itália e Brasil, aí, a cada adversário que eles vão pegando o filme retorna para mostrar a trajetória deste.
Um problema que destaco é o tempo que eles reservaram à final. Demoraram tanto detalhando os demais jogos que a decisão acaba passando quase no susto. Não temos nem a dimensão do sofrimento que foi aquele zero a zero. Nem mesmo é mostrada a prorrogação. Quer dizer, para nós que somos brasileiros, dá para reconhecê-la pela corrida de Viola, mas um espectador desatento nem percebe. Aliás, a participação do jogador na final foi um show à parte. Última opção de entrada, foi só dizer a Zagalo que ele sonhou fazendo o gol do título que o supersticioso auxiliar técnico sugeriu a Parreira colocá-lo. Quem sabe, né? Seus minutos de fama não foram tão bem aproveitados, mas não podemos negar que ele entrou com vontade de tornar o sonho realidade.
O fato é que fomos para os pênaltis e a edição do longa mais uma vez vacilou em não mostrar as reações de atacante e goleiro ao mesmo tempo, a reação de Taffarel agradecendo aos céus por pegar o chute de Massaro mesmo ficou de fora. Mas, foi extremamente feliz ao deixar a câmera no desolado Baggio após aquele chute infeliz que nos deu o tetracampeonato. Já a comemoração do título ficou muito dispersa. Talvez a sensação seja por ser brasileiro e querer ver melhor esses momentos. E o longa é sobre Todos os Corações do Mundo, não apenas o brasileiro. Ainda assim, é bom lembrá-lo.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Todos os Corações do Mundo
2010-06-19T13:53:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|documentario|filme brasileiro|futebol|
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