Um som diferente
Adolescência é um momento único e conturbado, onde todos os medos eclodem ao mesmo tempo. Precisamos crescer, mostrar nossa cara ao mundo, enfrentar todos os desafios. Tudo parece bobagem aos olhos alheios. Mas é duro vivenciar cada segundo que parece uma eternidade. Qual garoto ou garota não sonhou em ter um espaço anônimo onde pudesse falar o que quisesse, ser o que imaginasse, soltar todos os seus anseios e abrir sua alma? A internet veio como um sopro nesse vazio existencial, por isso vemos tantos fakes por aí. Na época em que essa senhora não existia, a criatividade tinha que ser maior. Foi assim que Mark, personagem de Christian Slater em Um Som Diferente, filme do início dos anos 90 dirigido por Allan Moyle, arrumou sua válvula de escape em uma rádio pirata na madrugada.
Happy Harry Hard On, o codinome que ele adota, torna-se mais do que isso. O locutor anônimo vira a voz dos adolescentes da escola Hubert Humpfrey High School. Todos que, assim como ele, estão entediados com suas vidas e são reprimidos por diretora, pais e professores encontram em suas palavras incentivos para romper a ordem estabelecida. Happy Harry torna-se conselheiro, confidente, cúmplice de todos aqueles ouvintes que pensam e sentem como ele, mas não tinham coragem de assumir seus atos. As mudanças provocadas começam a incomodar os adultos que vão à caça do responsável por aquilo sem perceber que os culpados, na verdade, são eles próprios, os autores daquela sociedade fechada.
É interessante perceber a miopia completa daqueles que deveriam orientar os adolescentes em suas vidas futuras. Os primeiros suspeitos são sempre os arruaceiros, os alunos com notas ruins, os rebeldes confessos. Aqueles sujeitos tímidos, introspectivos são sempre elogiados. "Meu filho é um amor, fica quieto em seu quarto, sem dar trabalho". Não sabem eles que são esses os mais problemáticos. Os que estão implodindo por dentro. Os rebeldes não precisam de máscaras para se soltar. É o próprio contraste e questão do rock dos anos oitenta, pós movimento hippie, pós lutas de movimentos estudantis. Uma geração sem ideologias, sem rumo, sem motivações. São essas as questões levantadas na voz anônima que os liberta usando uma trilha sonora que vai desde Pixies e Leonard Cohen, passando por Sonic Youth, Concrete Blonde, Cowboy Junkies, Soundgarden, Peter Murphy e Bad Brains.
Com esta trilha sonora repleta de clássicos dos anos 80, e tocando em assuntos profundos para os jovens daquela idade, o longa mantem o formato de filme adolescente aparentemente sem compromisso, mas que não poderia passar na íntegra na Sessão da Tarde por ter algumas cenas que, não são nada demais, mas a censura de hoje, provavelmente, barraria. Falar de sexo, suicídio, violência é algo proibido em horários vespertinos. Mas, Allan Moyle toca nesses assuntos de uma forma verdadeira para quem a vive e sem tabus. Talvez não sendo mais adolescentes, possamos assistir ao filme com outros olhos e achar tudo isso uma rebeldia sem causa. Para quem vive esses dilemas é uma voz que se ergue e diz "vocês podem encontrar sua própria maneira". As vezes vale muito mais.
Happy Harry Hard On, o codinome que ele adota, torna-se mais do que isso. O locutor anônimo vira a voz dos adolescentes da escola Hubert Humpfrey High School. Todos que, assim como ele, estão entediados com suas vidas e são reprimidos por diretora, pais e professores encontram em suas palavras incentivos para romper a ordem estabelecida. Happy Harry torna-se conselheiro, confidente, cúmplice de todos aqueles ouvintes que pensam e sentem como ele, mas não tinham coragem de assumir seus atos. As mudanças provocadas começam a incomodar os adultos que vão à caça do responsável por aquilo sem perceber que os culpados, na verdade, são eles próprios, os autores daquela sociedade fechada.
É interessante perceber a miopia completa daqueles que deveriam orientar os adolescentes em suas vidas futuras. Os primeiros suspeitos são sempre os arruaceiros, os alunos com notas ruins, os rebeldes confessos. Aqueles sujeitos tímidos, introspectivos são sempre elogiados. "Meu filho é um amor, fica quieto em seu quarto, sem dar trabalho". Não sabem eles que são esses os mais problemáticos. Os que estão implodindo por dentro. Os rebeldes não precisam de máscaras para se soltar. É o próprio contraste e questão do rock dos anos oitenta, pós movimento hippie, pós lutas de movimentos estudantis. Uma geração sem ideologias, sem rumo, sem motivações. São essas as questões levantadas na voz anônima que os liberta usando uma trilha sonora que vai desde Pixies e Leonard Cohen, passando por Sonic Youth, Concrete Blonde, Cowboy Junkies, Soundgarden, Peter Murphy e Bad Brains.
Com esta trilha sonora repleta de clássicos dos anos 80, e tocando em assuntos profundos para os jovens daquela idade, o longa mantem o formato de filme adolescente aparentemente sem compromisso, mas que não poderia passar na íntegra na Sessão da Tarde por ter algumas cenas que, não são nada demais, mas a censura de hoje, provavelmente, barraria. Falar de sexo, suicídio, violência é algo proibido em horários vespertinos. Mas, Allan Moyle toca nesses assuntos de uma forma verdadeira para quem a vive e sem tabus. Talvez não sendo mais adolescentes, possamos assistir ao filme com outros olhos e achar tudo isso uma rebeldia sem causa. Para quem vive esses dilemas é uma voz que se ergue e diz "vocês podem encontrar sua própria maneira". As vezes vale muito mais.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Um som diferente
2010-06-16T08:38:00-03:00
Amanda Aouad
Christian Slater|critica|drama|Samantha Mathis|
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