
O título nos dá a falsa impressão de que vamos assistir a um tratado anti-fumo, mas na verdade, o assunto é apenas mais um elemento para fazer a história andar, além de uma metáfora do estado de espírito de Baby, a protagonista vivida muito bem por Glória Pires. Conseguimos esquecer sua imagem "global" ao interpretar essa suburbana simples, solteirona de meia-idade, que vive seu cotidiano entre as aulas de violão que dá em sua residência e as brigas com as irmãs por causa de um sofá velho de uma tia. Tudo muda na vida de Baby quando chega Max, em mais uma interpretação interessante do Titã Paulo Miklos. A moça vê no vizinho uma nova oportunidade de vida.

A frase que ela repete compulsivamente para irmã "estou em uma nova fase da minha vida", soa estranho como se ela quisesse introjetar aquilo que nem mesmo ela acredita. É algo parecido com o mantra da associação para parar de fumar. "o cigarro parece meu amigo, mas é meu inimigo". Sim, porque depois de se envolver com Max, Baby vai tentar parar de fumar a pedido dele. Tudo é muito sutil e, na verdade, creio que o título se refere a algo que acontece bem depois e causa uma reviravolta na história. Tal qual em Durval Discos, aquilo que parecia o cotidiano mais comum de um bairro simples, ganha toques surreais. Só que desta vez com menos força. Não vamos ver um cavalo entrando no meio de um quarto em caos.

À medida de que o filme avança, vai nos pregando peças. Quando acreditamos que sabemos o que vai acontecer, a cena seguinte nos surpreende. Isso é muito interessante no filme de Anna Muylaert. Nada está ali por acaso. E o final também. Sem muitas explicações, nos deixa entender o que aconteceu. Sem resoluções moralistas, sem julgamentos. Apenas seres humanos, nem bons, nem ruins. Algo me incomodou um pouco no fim, mas vou parar por aqui para não virar spoiler. Pois, ainda assim, é um filme que surpreende.