Os melhores amigos são os de infância
Tendo como ponto de partida o filme Toy Story 3, a Revista Time resolveu criar uma lista com os dez filmes infantis mais tristes. A chamada da matéria dizia "Nós sabemos que você viu Toy Story 3 essa semana e que chorou. Time relembra alguns outros grandes filmes infantis que fizeram chorar". Alguns sites e blogs citaram a lista que você pode conferir abaixo, e, em todos os comentários que li, a ausência mais sentida é de O Rei Leão. Um belo filme, com cenas tristes como a morte do pai de Simba. Só que acessando o meu passado e aproveitando o dia do amigo que foi essa semana, relembro aqui o filme que mais me marcou na infância, uma animação da Disney pouco cultuada, mas que para mim é a tradução da amizade: O Cão e a Raposa.
De 1981, com direção e roteiro de Ted Berman, levemente inspirado no livro de Daniel Pratt Mannix IV com o mesmo nome, o filme narra a história de uma amizade proibida entre uma raposa e um cão de caça. Dodó e Toby são apenas filhotes inocentes que brincam no lago e pela floresta sem nenhum preconceito ou noção de que existe algo muito mais complexo nas relações pessoais do que o sentimento puro. Eles reforçam os votos de amizade com um juramento de que serão "amigos para sempre". Os avisos são muitos, principalmente da sábia mamãe coruja que alerta Dodó de que "para sempre é muito tempo e que o tempo tem seu jeito de mudar as coisas". Mas, a pequena raposa não dá ouvidos, afinal confia no amigo e na eternidade de seus sentimentos.
Não vou me preocupar tanto com spoilers nesse texto, porque é mesmo um clássico infantil e só posso expor melhor o tema, detalhando alguns acontecimentos. Nem todos serão detalhados, no entanto. Dodó ficou orfão após uma caçada e foi adotado por uma bondosa senhora que mora ao lado do velho caçador, dono de Toby. O homem ainda tem cão mais velho chamado "chefe" que é incubido de ensinar o pequeno cãozinho a caçar. Em uma temporada nas montanhas, Toby se torna um grande cão de caça, com um faro de dar inveja, sendo o orgulho da família. Ele já sabe que as coisas mudaram, agora ele é um caçador, mas como contar isso ao amigo Dodó? O sentimento dos dois personagens continua intacto, mas as circunstâncias são outras. Quantos amigos fomos deixando no caminho da vida porque saímos da escola, mudamos de cidade ou mesmo de emprego? Mas, o sentimento fica lá, como diz a velha senhora ao deixar Dodó em uma reserva ecológica: "é triste a despedida, adeus parece o fim, mas guardarei pra sempre você em meu coração".
O roteiro é bem simples, quase didático e a técnica não é das mais apuradas. Não tem a mágica dos desenhos Disney sempre grandiosos, mas o desenho funciona bem ainda hoje, tanto que ganhou versão em DVD. As músicas são emocionalmente envolventes e os personagens cativantes. Têm ainda uma história paralela que as crianças adoram com dois pássaros caçando uma lagarta. Completamente atrapalhados, eles criam as situações mais esdrúxulas e engraçadas. É o alívio cômico necessário diante de um tema tão profundo e propenso à tragédia.
A história de Toby e Dodó é a mais triste que já assisti porque não é a morte, uma tragédia ou mesmo um vilão que os afasta, é a vida. A cena final é nostálgica demais. Uma prova de amizade, mas também uma constatação de que somos frágeis diante de algumas certezas. Através de uma linguagem simples e bastante infantil, Ted Berman conseguiu traduzir a essência da nossa busca por amigos verdadeiros, que surge quando menos esperamos e sempre estarão em nossas lembranças. Lindo, triste e bastante marcante em minha vida. Dedico-o a todos os amigos que tive e foram ficando pela estrada, mas nunca saíram em definitivo da minha vida.
Lista completa da Time:
Bambi (1942)
Meu Melhor Companheiro (1957)
E.T. - O Extraterrestre (1982)
Where the Red Fern Grows (1974)
Up - Altas Aventuras (2009)
Dumbo (1941)
A Menina e o Porquinho (1973)
Meu Primeiro Amor (1991)
Fievel - Um Conto Americano (1986)
Lembranças de Outra Vida (1995)
De 1981, com direção e roteiro de Ted Berman, levemente inspirado no livro de Daniel Pratt Mannix IV com o mesmo nome, o filme narra a história de uma amizade proibida entre uma raposa e um cão de caça. Dodó e Toby são apenas filhotes inocentes que brincam no lago e pela floresta sem nenhum preconceito ou noção de que existe algo muito mais complexo nas relações pessoais do que o sentimento puro. Eles reforçam os votos de amizade com um juramento de que serão "amigos para sempre". Os avisos são muitos, principalmente da sábia mamãe coruja que alerta Dodó de que "para sempre é muito tempo e que o tempo tem seu jeito de mudar as coisas". Mas, a pequena raposa não dá ouvidos, afinal confia no amigo e na eternidade de seus sentimentos.
Não vou me preocupar tanto com spoilers nesse texto, porque é mesmo um clássico infantil e só posso expor melhor o tema, detalhando alguns acontecimentos. Nem todos serão detalhados, no entanto. Dodó ficou orfão após uma caçada e foi adotado por uma bondosa senhora que mora ao lado do velho caçador, dono de Toby. O homem ainda tem cão mais velho chamado "chefe" que é incubido de ensinar o pequeno cãozinho a caçar. Em uma temporada nas montanhas, Toby se torna um grande cão de caça, com um faro de dar inveja, sendo o orgulho da família. Ele já sabe que as coisas mudaram, agora ele é um caçador, mas como contar isso ao amigo Dodó? O sentimento dos dois personagens continua intacto, mas as circunstâncias são outras. Quantos amigos fomos deixando no caminho da vida porque saímos da escola, mudamos de cidade ou mesmo de emprego? Mas, o sentimento fica lá, como diz a velha senhora ao deixar Dodó em uma reserva ecológica: "é triste a despedida, adeus parece o fim, mas guardarei pra sempre você em meu coração".
O roteiro é bem simples, quase didático e a técnica não é das mais apuradas. Não tem a mágica dos desenhos Disney sempre grandiosos, mas o desenho funciona bem ainda hoje, tanto que ganhou versão em DVD. As músicas são emocionalmente envolventes e os personagens cativantes. Têm ainda uma história paralela que as crianças adoram com dois pássaros caçando uma lagarta. Completamente atrapalhados, eles criam as situações mais esdrúxulas e engraçadas. É o alívio cômico necessário diante de um tema tão profundo e propenso à tragédia.
A história de Toby e Dodó é a mais triste que já assisti porque não é a morte, uma tragédia ou mesmo um vilão que os afasta, é a vida. A cena final é nostálgica demais. Uma prova de amizade, mas também uma constatação de que somos frágeis diante de algumas certezas. Através de uma linguagem simples e bastante infantil, Ted Berman conseguiu traduzir a essência da nossa busca por amigos verdadeiros, que surge quando menos esperamos e sempre estarão em nossas lembranças. Lindo, triste e bastante marcante em minha vida. Dedico-o a todos os amigos que tive e foram ficando pela estrada, mas nunca saíram em definitivo da minha vida.
Lista completa da Time:
Bambi (1942)
Meu Melhor Companheiro (1957)
E.T. - O Extraterrestre (1982)
Where the Red Fern Grows (1974)
Up - Altas Aventuras (2009)
Dumbo (1941)
A Menina e o Porquinho (1973)
Meu Primeiro Amor (1991)
Fievel - Um Conto Americano (1986)
Lembranças de Outra Vida (1995)
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os melhores amigos são os de infância
2010-07-23T09:00:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|Especial|infantil|materias|
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