À procura da felicidade
The American Dream: conceito que prega que os Estados Unidos é a terra das oportunidades. Qualquer pessoa, independente de classe, cor ou credo com perseverança e trabalhando duro pode alcançar o sucesso e subir na vida. Milhares de filmes, até mesmo desenho animado, já propagaram essa idéia e fizeram o resto do mundo sonhar em viver na América. Por que, então, o filme do diretor italiano Gabriele Muccino tocou tão fundo a todos, a ponto de À Procura da Felicidade figurar como a maior nota no IMDB de todos os tempos? Primeiro porque, por mais surrada que seja, a idéia de correr atrás dos seus sonhos e realizá-los é um ânimo a mais para nossa labuta diária. Segundo porque o roteiro de Steven Conrad não é uma idéia original, mas baseada na vida de Chris Gardner, um homem que conseguiu virar uma lenda no mercado de ações.
Chris Gardner era um homem sem sorte que apostou todas as suas economias em um invento estranho, um scanner médico de última geração. Comprou todas as unidades de uma fábrica e tentou revendê-las de porta em porta, ou melhor, de consultório em consultório. Como ele mesmo define, um scanner vendido paga as contas do mês. Nessa corda bamba, onde os médicos insistem em considerar o objeto um luxo, Chris tem que cuidar de seu filho Christopher e de sua mulher Linda, que está cansada de tantas incertezas. É quando Chris começa a observar os executivos da bolsa de valores e define aquilo como felicidade. Começa, então, sua luta para se tornar um deles e uma sucessão de azares que faz sua mulher o abandonar, ser despejado várias vezes e até ter que dormir um dia em um banheiro de uma estação de metrô.
E o mais interessante é que não fica exagerado demais, a sucessão de acontecimentos é crível, não apenas porque sabemos que é baseado em uma história real. Inclusive, com uma pesquisa no Google é possível perceber que Steven Conrad floreou um pouco a trajetória de Chris, exagerando em alguns momentos e omitindo alguns outros detalhes para fazer do personagem o herói perfeito. Totalmente incompreendido pela mulher que o abandona em um momento decisivo, Chris passa noites em claro estudando, faz jornada dupla e ainda tem tempo para levar o filho para passear nos fins de semana. Com um estágio não remunerado na Dean Witter, Chris tem que passar pela seleção que após seis meses contratará um candidato entre 20 estagiários.
Will Smith, indicado ao Oscar por esse papel, consegue uma interpretação emocionante desse pai dedicado e homem obstinado. Nos envolvemos com o sonho de Chris e torcemos para que ele consiga, principalmente pelos entraves que encontra pelo caminho, desde a mulher, passando pelos locatários das casas, até o instrutor que o faz de boy muitas vezes. O pequeno Jaden Smith, seu filho com a atriz Jada Pinkett, já demonstra o talento que se comprova em Karatê Kid. Sua atuação é bastante natural, sem afetações típicas de crianças nessa idade. Claro que atuar com o próprio pai deve ter ajudado. Thandie Newton está bem também como Linda, a ex-esposa de Chris, mas sua personagem é uma das mais injustiçadas no roteiro.
Buscando exagerar na identificação com o protagonista, o roteiro fecha o enquadramento neste e nos torna um pouco cegos. Não há a oportunidade de entender a personagem Linda e seus dramas com aquele marido sonhador, ela é quase uma vilã que abandonou o barco. Assim também é como acabamos sendo levados a ver os cobradores de Chris, que não compreendem que ele está falido. Mas, não nos é mostrado o drama dessas pessoas, o taxista que levou calote também deve ter contas a pagar, assim como o dono da casa onde a família mora, sem falar no amigo que lhe deve 14 dólares. Outra coisa estranha é a capacidade que Chris tem de sempre se bater com os transeuntes que roubaram um scanner seu.
Mas, nada disso tira o mérito e o brilho da história, nem do filme. Muito bem dirigido, com fotografia bem cuidada sempre privilegiando o drama do protagonista, À Procura da Felicidade é daqueles dramas envolventes que nos passam a idéia de que a vida tem um sentido maior e que devemos buscar os nossos sonhos. O próprio protagonista em uma cena diz a seu filho que nunca deixe ninguém dizer o que ele não pode fazer. Nem mesmo ele. Se temos um sonho devemos buscá-lo. É essa certeza que nos impulsiona a viver. Por isso, o filme nos toca tão profundamente. Quem não tem um sonho guardado em algum lugar dentro de si?
Uma curiosidade, o verdadeiro Chris Gardner aparece no filme. Na cena final, ele cruza com Will Smith e seu filho. O ator ainda olha para trás sorrindo e acompanhando os passos do empresário, dando a dica para platéia.
Chris Gardner era um homem sem sorte que apostou todas as suas economias em um invento estranho, um scanner médico de última geração. Comprou todas as unidades de uma fábrica e tentou revendê-las de porta em porta, ou melhor, de consultório em consultório. Como ele mesmo define, um scanner vendido paga as contas do mês. Nessa corda bamba, onde os médicos insistem em considerar o objeto um luxo, Chris tem que cuidar de seu filho Christopher e de sua mulher Linda, que está cansada de tantas incertezas. É quando Chris começa a observar os executivos da bolsa de valores e define aquilo como felicidade. Começa, então, sua luta para se tornar um deles e uma sucessão de azares que faz sua mulher o abandonar, ser despejado várias vezes e até ter que dormir um dia em um banheiro de uma estação de metrô.
E o mais interessante é que não fica exagerado demais, a sucessão de acontecimentos é crível, não apenas porque sabemos que é baseado em uma história real. Inclusive, com uma pesquisa no Google é possível perceber que Steven Conrad floreou um pouco a trajetória de Chris, exagerando em alguns momentos e omitindo alguns outros detalhes para fazer do personagem o herói perfeito. Totalmente incompreendido pela mulher que o abandona em um momento decisivo, Chris passa noites em claro estudando, faz jornada dupla e ainda tem tempo para levar o filho para passear nos fins de semana. Com um estágio não remunerado na Dean Witter, Chris tem que passar pela seleção que após seis meses contratará um candidato entre 20 estagiários.
Will Smith, indicado ao Oscar por esse papel, consegue uma interpretação emocionante desse pai dedicado e homem obstinado. Nos envolvemos com o sonho de Chris e torcemos para que ele consiga, principalmente pelos entraves que encontra pelo caminho, desde a mulher, passando pelos locatários das casas, até o instrutor que o faz de boy muitas vezes. O pequeno Jaden Smith, seu filho com a atriz Jada Pinkett, já demonstra o talento que se comprova em Karatê Kid. Sua atuação é bastante natural, sem afetações típicas de crianças nessa idade. Claro que atuar com o próprio pai deve ter ajudado. Thandie Newton está bem também como Linda, a ex-esposa de Chris, mas sua personagem é uma das mais injustiçadas no roteiro.
Buscando exagerar na identificação com o protagonista, o roteiro fecha o enquadramento neste e nos torna um pouco cegos. Não há a oportunidade de entender a personagem Linda e seus dramas com aquele marido sonhador, ela é quase uma vilã que abandonou o barco. Assim também é como acabamos sendo levados a ver os cobradores de Chris, que não compreendem que ele está falido. Mas, não nos é mostrado o drama dessas pessoas, o taxista que levou calote também deve ter contas a pagar, assim como o dono da casa onde a família mora, sem falar no amigo que lhe deve 14 dólares. Outra coisa estranha é a capacidade que Chris tem de sempre se bater com os transeuntes que roubaram um scanner seu.
Mas, nada disso tira o mérito e o brilho da história, nem do filme. Muito bem dirigido, com fotografia bem cuidada sempre privilegiando o drama do protagonista, À Procura da Felicidade é daqueles dramas envolventes que nos passam a idéia de que a vida tem um sentido maior e que devemos buscar os nossos sonhos. O próprio protagonista em uma cena diz a seu filho que nunca deixe ninguém dizer o que ele não pode fazer. Nem mesmo ele. Se temos um sonho devemos buscá-lo. É essa certeza que nos impulsiona a viver. Por isso, o filme nos toca tão profundamente. Quem não tem um sonho guardado em algum lugar dentro de si?
Uma curiosidade, o verdadeiro Chris Gardner aparece no filme. Na cena final, ele cruza com Will Smith e seu filho. O ator ainda olha para trás sorrindo e acompanhando os passos do empresário, dando a dica para platéia.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
À procura da felicidade
2010-08-29T22:37:00-03:00
Amanda Aouad
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