Cabeça a Prêmio
Ator, produtor, roteirista e agora diretor de cinema, Marco Ricca faz uma estreia promissora com uma adaptação do livro de Marçal Aquino. Cabeça a Prêmio acaba surpreendendo pela beleza da composição das imagens e da força de seus personagens. É um filme sobre laços de família, poder e traição. Focado no drama interno de cada ser ali exposto, ele acaba se tornando uma grande catarse de emoções diversas. Longo, no entanto, além de possuir uma fotografia muito escura, que incomodou meus olhos, por vezes.
A trama gira em torno de uma família de pecuaristas no Mato Grosso do Sul que aproveita as viagens de negócios para contrabandear mercadorias da Bolívia, provavelmente, drogas, mas o roteiro não deixa isso tão claro. O cerco, no entanto, está se fechando e Miro, o chefe da família resolve que eles têm que acabar com o negócio ilícito aos poucos. Abílio, seu irmão mais novo, no entanto, não concorda com isso e luta para continuar com as encomendas. Mas, esse é apenas o fio central da trama que discute, na verdade, valores e degradação humana. Desde os capangas de Miro à sua adorada filha, todos os personagens estão em plena ebulição de amor e dor. Elaine ainda vive um amor proibido com o piloto de seu pai, o simpático Denis, que irá desencadear novos rumos à trama.
A força do filme está mesmo na direção de atores. Não por acaso é a estreia de um diretor que é ator e conviveu muito tempo com Beto Brant, um diretor que valoriza a interpretação. Não há um único ator fora do tom. O maior destaque é mesmo Fulvio Stefanini, que empresta ao Miro toda a carga dramática necessária ao destroçado personagem. Mas, todos tem sua contribuição, foram mesmo escolhidos a dedo. Alice Braga com Elaine, mostra que não está fazendo sucesso internacional apenas pelo seu belo rosto. Otávio Müller está bem como o asqueroso Abílio. Cássio Gabus Mendes e Du Moscovis fazem um belo complemento de dois capangas tão complexos. Via Negromonte está encantadora como Marlena e Ana Braga é uma bela volta surpresa após abandonar a carreira por tantos anos. Os uruguaios Daniel Hendler, como o piloto Denis e Cesar Troncoso como Porfírio são um plus ao elenco.
Mas, nem só de atores vive o filme, o que é uma grande surpresa. Marco Ricca, que também assinou o roteiro junto com Felipe Braga, tendo a colaboração de Marçal Aquino, valoriza muito as imagens contemplativas. Fugindo de plano e contra-plano, ele nos brinda com olhares únicos e enquadramentos diversos. Há muitas panorâmicas no filme e jogos de luz para compor o quadro. Temos ainda belas imagens aéreas do Mato Grosso do Sul e montagens interessantes como a sequência inicial de assassinato. Só ressalvo que, por procurar uma luz natural e constraste de jogos de sombra, o filme acaba ficando muito escuro. A meu gosto, incomodou.
O roteiro é bem escrito, não nos entrega nada de bandeja, nem pára para explicar passados, nem relações de personagens. Vamos juntando as peças aos poucos. Os diálogos são fortes, reveladores, sem ser didáticos. E as tramas paralelas são acompanhadas de forma coerente. Acaba sendo um filme longo, de quase duas horas, mas nem por isso cansativo. É tenso, bom de acompanhar e o final é de uma sensibilidade extrema, principalmente pela interpretação de Fulvio e Alice. Temos ainda o brinde de uma cena com a música Cristal de Mercedes Sosa, onde Ana Braga tem sua chance de mostrar que talento não se perde.
Marco Ricca estreia como diretor demonstrando promissor talento. Raramente procurou o cinema puramente comercial como ator, O Casamento de Romeu e Julieta pode ser considerado uma excessão. Já era de se esperar que seu primeiro longametragem também não o fosse. Dá vontade de acompanhar sua carreira, ver outros projetos que possa nos presentear. Pena que tenha ressaltado em entrevista aqui que o processo de fazer cinema independente no Brasil seja tão penoso e não se tenha previsão de quando voltará a atuar atrás das câmeras. Torço para que não demore muito.
A trama gira em torno de uma família de pecuaristas no Mato Grosso do Sul que aproveita as viagens de negócios para contrabandear mercadorias da Bolívia, provavelmente, drogas, mas o roteiro não deixa isso tão claro. O cerco, no entanto, está se fechando e Miro, o chefe da família resolve que eles têm que acabar com o negócio ilícito aos poucos. Abílio, seu irmão mais novo, no entanto, não concorda com isso e luta para continuar com as encomendas. Mas, esse é apenas o fio central da trama que discute, na verdade, valores e degradação humana. Desde os capangas de Miro à sua adorada filha, todos os personagens estão em plena ebulição de amor e dor. Elaine ainda vive um amor proibido com o piloto de seu pai, o simpático Denis, que irá desencadear novos rumos à trama.
A força do filme está mesmo na direção de atores. Não por acaso é a estreia de um diretor que é ator e conviveu muito tempo com Beto Brant, um diretor que valoriza a interpretação. Não há um único ator fora do tom. O maior destaque é mesmo Fulvio Stefanini, que empresta ao Miro toda a carga dramática necessária ao destroçado personagem. Mas, todos tem sua contribuição, foram mesmo escolhidos a dedo. Alice Braga com Elaine, mostra que não está fazendo sucesso internacional apenas pelo seu belo rosto. Otávio Müller está bem como o asqueroso Abílio. Cássio Gabus Mendes e Du Moscovis fazem um belo complemento de dois capangas tão complexos. Via Negromonte está encantadora como Marlena e Ana Braga é uma bela volta surpresa após abandonar a carreira por tantos anos. Os uruguaios Daniel Hendler, como o piloto Denis e Cesar Troncoso como Porfírio são um plus ao elenco.
Mas, nem só de atores vive o filme, o que é uma grande surpresa. Marco Ricca, que também assinou o roteiro junto com Felipe Braga, tendo a colaboração de Marçal Aquino, valoriza muito as imagens contemplativas. Fugindo de plano e contra-plano, ele nos brinda com olhares únicos e enquadramentos diversos. Há muitas panorâmicas no filme e jogos de luz para compor o quadro. Temos ainda belas imagens aéreas do Mato Grosso do Sul e montagens interessantes como a sequência inicial de assassinato. Só ressalvo que, por procurar uma luz natural e constraste de jogos de sombra, o filme acaba ficando muito escuro. A meu gosto, incomodou.
O roteiro é bem escrito, não nos entrega nada de bandeja, nem pára para explicar passados, nem relações de personagens. Vamos juntando as peças aos poucos. Os diálogos são fortes, reveladores, sem ser didáticos. E as tramas paralelas são acompanhadas de forma coerente. Acaba sendo um filme longo, de quase duas horas, mas nem por isso cansativo. É tenso, bom de acompanhar e o final é de uma sensibilidade extrema, principalmente pela interpretação de Fulvio e Alice. Temos ainda o brinde de uma cena com a música Cristal de Mercedes Sosa, onde Ana Braga tem sua chance de mostrar que talento não se perde.
Marco Ricca estreia como diretor demonstrando promissor talento. Raramente procurou o cinema puramente comercial como ator, O Casamento de Romeu e Julieta pode ser considerado uma excessão. Já era de se esperar que seu primeiro longametragem também não o fosse. Dá vontade de acompanhar sua carreira, ver outros projetos que possa nos presentear. Pena que tenha ressaltado em entrevista aqui que o processo de fazer cinema independente no Brasil seja tão penoso e não se tenha previsão de quando voltará a atuar atrás das câmeras. Torço para que não demore muito.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Cabeça a Prêmio
2010-09-27T08:42:00-03:00
Amanda Aouad
Alice Braga|cinema brasileiro|critica|drama|filme brasileiro|Marco Ricca|
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