Coco Chanel & Igor Stravinsky
Um primor, é como eu definiria os primeiros quinze minutos do filme Coco Chanel & Igor Stravinsky. A tensão da estreia da peça composta por Stravinsky. O clima no anfiteatro. A música estranha aos ouvidos da época, mas apoteótica para os acostumados a trilhas sonoras dos cinemas. A dança minimalista. Ou seja, a recriação na tela da catastrófica apresentação de A Sagração da Primavera em Paris é genial e torna-se uma introdução condizente com o que veremos a seguir.
Após um insosso Coco antes de Chanel dirigido por Anne Fontaine, é muito bom ver Coco depois de Chanel nessa quase continuação involuntária de Jan Kounen. Há, nesse filme, o que falta no de Fontaine: força, sensualidade, glamour, realidade. Como diz um figurante, até de luto Chanel fica elegante. Mas, apesar de vermos muitos vestidos, cuidados com unhas, cabelos e aromas, além de uma sequência encantadora da criação do famoso Chanel nº 5, mais uma vez não temos aqui uma cinebiografia. Não cabe ao roteiro de Chris Greenhalgh explicar quem, por que, nem como Channel se tornou uma mulher tão importante para sociedade parisiense e consequentemente para o mundo da moda. Não temos explicações, temos sensações. E como define o título, é um filme sobre Coco Chanel e Igor Stravinsky, logo é a relação dos dois que importa. Não apenas a relação sexual, mas a relação de vidas cruzadas com objetivos distintos.
Chanel convida Stravinsky para se recolher em seu chatô afastado da capital francesa para compor com mais tranquilidade. Ele vai com toda a família e a relação dos dois se inicia em um jogo mútuo de conquista e dominação. Tudo é feito aos poucos, com muita poesia na imagem e som. É nisso que se baseia o filme de Jan Kounen. Na forma como a câmera encontra o personagem, no contraste de claros e escuros, na trilha sonora quase toda composta com a música excêntrica do compositor. E, claro, toda a sensação que as combinações das cores preto e branco de Chanel são capazes de nos proporcionar. Claro que sua experiência com vídeoclipes deve ter influenciado nessa composição imagética. Os movimentos circulares, a visão de 360º das cenas, o ritmo no compasso da música. É gostoso de admirar o espetáculo, independente da história.
Apesar de adorar a eterna Amélie Poulain, Ana Mouglalis tem muito mais cara de Chanel. Sua interpretação sem exageros nos convence e dá vida à estilista tão enigmática. Já o ator dinamarquês Mads Mikkelsen não tem o mesmo brilho, mas consegue nos convencer do drama de Igor Stravinsky, criando uma boa química com Mouglalis que deixam as cenas de ainda mais sensuais. A comparação dos dois personagens em seus respectivos ofícios é muito bem explorada por direção, roteiro e fotografia nas montagens paralelas em momentos chaves e nas nuanças de uma frase ou outra. É possível compreender o ponto que os uniu. Tornando tudo ainda mais interessante.
A direção de arte recompondo os anos 20 em detalhes nos faz viajar em um mundo de transição do clássico século XIX para o as novidades do século XX. E todas as referências são instigantes. Coco Chanel & Igor Stravinsky é um filme para se sentir. Poesia em forma de narrativa audiovisual. Não há explicações racionais, nem força no texto. É deixar se levar pelas imagens e sons, ampliando os sentidos. É forte, poderosa, sensual. De fato, um belo filme.
Após um insosso Coco antes de Chanel dirigido por Anne Fontaine, é muito bom ver Coco depois de Chanel nessa quase continuação involuntária de Jan Kounen. Há, nesse filme, o que falta no de Fontaine: força, sensualidade, glamour, realidade. Como diz um figurante, até de luto Chanel fica elegante. Mas, apesar de vermos muitos vestidos, cuidados com unhas, cabelos e aromas, além de uma sequência encantadora da criação do famoso Chanel nº 5, mais uma vez não temos aqui uma cinebiografia. Não cabe ao roteiro de Chris Greenhalgh explicar quem, por que, nem como Channel se tornou uma mulher tão importante para sociedade parisiense e consequentemente para o mundo da moda. Não temos explicações, temos sensações. E como define o título, é um filme sobre Coco Chanel e Igor Stravinsky, logo é a relação dos dois que importa. Não apenas a relação sexual, mas a relação de vidas cruzadas com objetivos distintos.
Chanel convida Stravinsky para se recolher em seu chatô afastado da capital francesa para compor com mais tranquilidade. Ele vai com toda a família e a relação dos dois se inicia em um jogo mútuo de conquista e dominação. Tudo é feito aos poucos, com muita poesia na imagem e som. É nisso que se baseia o filme de Jan Kounen. Na forma como a câmera encontra o personagem, no contraste de claros e escuros, na trilha sonora quase toda composta com a música excêntrica do compositor. E, claro, toda a sensação que as combinações das cores preto e branco de Chanel são capazes de nos proporcionar. Claro que sua experiência com vídeoclipes deve ter influenciado nessa composição imagética. Os movimentos circulares, a visão de 360º das cenas, o ritmo no compasso da música. É gostoso de admirar o espetáculo, independente da história.
Apesar de adorar a eterna Amélie Poulain, Ana Mouglalis tem muito mais cara de Chanel. Sua interpretação sem exageros nos convence e dá vida à estilista tão enigmática. Já o ator dinamarquês Mads Mikkelsen não tem o mesmo brilho, mas consegue nos convencer do drama de Igor Stravinsky, criando uma boa química com Mouglalis que deixam as cenas de ainda mais sensuais. A comparação dos dois personagens em seus respectivos ofícios é muito bem explorada por direção, roteiro e fotografia nas montagens paralelas em momentos chaves e nas nuanças de uma frase ou outra. É possível compreender o ponto que os uniu. Tornando tudo ainda mais interessante.
A direção de arte recompondo os anos 20 em detalhes nos faz viajar em um mundo de transição do clássico século XIX para o as novidades do século XX. E todas as referências são instigantes. Coco Chanel & Igor Stravinsky é um filme para se sentir. Poesia em forma de narrativa audiovisual. Não há explicações racionais, nem força no texto. É deixar se levar pelas imagens e sons, ampliando os sentidos. É forte, poderosa, sensual. De fato, um belo filme.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Coco Chanel & Igor Stravinsky
2010-09-24T13:49:00-03:00
Amanda Aouad
Ana Mouglalis|critica|drama|Mads Mikkelsen|
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