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Marco Ricca
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Entrevista com Marco Ricca
Entrevista com Marco Ricca
Como o bate-papo com os alunos no Cine XIV após a exibição do filme foi bastante frutífero, poucas perguntas ficaram para entrevistar Marco Ricca, então, acabei mesclando as duas conversas na entrevista abaixo. Espero que gostem e aguardem amanhã a crítica do filme Cabeça a Prêmio.
Ator, produtor, diretor de teatro, roteirista e agora diretor de cinema, esse caminho foi um processo natural? Você já pensava em dirigir?
Acho que é um processo natural. Não era um sonho de infância ou algo parecido. Mas, acho que no exercício do ator, de tanto experimentar, sugerir, acaba dando vontade de dirigir o próprio filme.
E por ser um ator-diretor, seu filme acaba pendendo para a atuação?
Sim, é um filme que eu considero para ator. Um filme de personagem que precisava que os atores fizessem isso bem porque é fácil de cair na mediocridade. O grande mérito do filme são os atores. No livro, por se tratar de preciosa literatura, a trama se desenvolve como um mosaico de acontecimentos (ações) que envolve os personagens; não há uma ordem cronológica. No roteiro, priorizamos os personagens e os direcionamos numa ordem cartesiana, tentando com isso dar mais voz às agruras dos personagens, em detrimento da ação
E a escolha de dirigir um filme baseado no livro de Marçal Aquino, como foi que surgiu?
Esse é um filme que eu gostaria de ter feito como ator, mas acabou que caiu em minha mão para dirigir e eu aceitei o desafio. Marçal Aquino tem um texto fantástico e eu quis contar essa história.
O que você quis passar com essa história?
Quis levantar uma série de dúvidas sobre o ser humano, como eles se portam em um determinado local. Ele poder ser um matador, mas passa pelas mesmas dores de amor que a gente passa. Então, na verdade é um questionamento sobre esses seres que estão aí, nesse momento, eles começam meio em crise. Não tem uma finalidade específica, eu espero que ele sirva para se comunicar com o público e a gente ter alguma reflexão sobre o ser humano. A capacidade do ser humano de fazer determinadas coisas.
Após o primeiro filme já dá para arriscar um estilo de direção?
Não, ainda está muito cedo, ainda não sei se vou fazer de novo, porque foi muito duro fazer esse filme, produzir.
O que foi o mais difícil?
Minha dificuldade é a mesma de todo mundo que faz cinema, conseguir dinheiro para filmar. Eu produzi o filme também e o mais difícil é conseguir levantar recursos para ele existir. A parte artística é a coisa mais linda, escrever, filmar, montar, estar aqui. Tudo isso é bom. A produção é o mais difícil.
Mas, tendo um produtor, você gostaria de dirigir novamente?
Sim. Gostei muito da experiência.
Como você se definiria?
Eu sou um ator de teatro, é o que eu sei fazer melhor. O resto é conseqüência. Não sei dizer o que eu gosto mais, mas o que eu sei fazer melhor é o teatro. Cinema é diferente de teatro, a gente recebe a resposta na hora, intui o que o público sentiu. Gosto desse barulhinho da platéia. No cinema, é difícil isso. Ao mesmo tempo em que está passando aqui, está passando em vários lugares do país, não tem noção de quem está vendo e o que está sentindo.
E a escolha dos atores, você fez testes? Escolheu antes de escrever?
Tenho o privilégio de todos os atores serem meus amigos. Eu não fiz teste, escrevi para cada um deles. Escalei primeiro a Alice Braga, queria o Fulvio, mas para um branquelo de olhos azuis ser o pai dela de forma crível resgatei a Ana Braga, a mãe verdadeira da atriz, que parou de atuar quando a Alice nasceu. Era uma grande atriz e eu a convenci a voltar para não ter erro de escalação. Aí foi formando o restante. Otávio Muller, Cássio, Du, grandes atores que são meus amigos e com quem queria trabalhar. Assim como os dois uruguaios que eu conheço. São grandes atores, um trabalha muito na Argentina que é o Daniel Hendler e o outro é o César Troncoso que é um dos maiores atores que eu conheço. Ele protagonizou O banheiro do Papa que recomendo a todos.
E como era a relação com você, por ser um diretor que é colega de atuação, era mais fácil ou mais complicado?
Era muito bom, eu entendia as dificuldades, o processo. E eles se portaram da melhor maneira possível, compraram a idéia do filme. Tivemos que viajar, ir para lugares difíceis de gravar e eles estavam todos lá, inteiros.
Onde foi rodado o filme?
Ele foi 80% filmado no Estado do Mato Grosso do Sul, em várias cidades, na fronteira da Bolívia e Bolívia e no interior de São Paulo, em Paulínia. Escolhi a região pela diversidade e beleza de locações, há ainda uma luz natural belíssima ali.
Como ator, qual o seu estilo preferido?
Eu já fiz vários gêneros diferentes, eu gosto de fazer personagens que me dêem boa possibilidade de criação. Gosto de variar. Adoraria fazer um bang bang, por exemplo.
Qual a cena que você mais gosta no filme, a que acha que saiu exatamente como imaginou?
São tantas, mas acho que a cena em que a Ana Braga faz na piscina, bebendo uísque e toca a música da Mercedes Sosa é forte, um clipe muito bonito. As pessoas têm falado dela. E é uma loucura porque Mercedes Sosa morreu no dia em que o filme estreou no Festival do Rio, uma coincidência macabra, tivemos que pagar caro pelos direitos autorais da canção, exatamente por causa disso.
Como você vê o cinema nacional hoje?
A gente está crescendo, tem muitos filmes sendo feitos, falta ainda distribuição, faltam salas de cinema. É muito caro o ingresso, não é todo mundo que pode pagar 14 reais para um filme de shopping, isso é a realidade. Você tem 2% da população que vai ao cinema. Acho que tem ainda um preconceito do público em relação aos filmes nacionais, tem grandes filmes sendo feitos, e há principalmente um funil que tira o filme nacional de cartaz. Se não vem com a força de um Tropa de Elite 2, com 700 cópias e a mídia da Globo por trás, não tem espaço.
E você vê alguma solução para esse funil?
O mercado é complicado, não tem muito espaço para filmes independentes no Brasil. Salas alternativas, iniciativas como essa aqui talvez sejam o futuro do cinema independente brasileiro. Porque a distribuição é muito difícil. Meu filme fica muito comigo, eu vou com ele debaixo do braço. Venho divulgar o filme, para ver se vocês gostaram e vão indicar para as pessoas, e tem que indicar rápido porque senão sai de cartaz. É um fenômeno de países pobres e que não conseguem ver que cinema é um pouco o retrato de nossa alma. Vocês conheceram uma parte do Brasil que talvez não conhecessem. Os americanos já descobriram há muito tempo, uma forma boa de divulgar sua cultura, seus costumes, seus hábitos etc através do cinema.
E sendo um ator da Rede Globo, não é mais fácil divulgar seus filmes?
Como o meu filme não é apoiado pela Globo Filmes, eu não posso divulgar meu filme em nenhum programa da Rede Globo, ele é tratado como concorrente.
ATENÇÃO SPOILER
Essa pergunta só leia se tiver visto o filme. Foi o que mais instigou os alunos, eles começaram com esse questionamento e repetiram quatro vezes o mesmo tema, mas revela o final do filme...
Por que você deixou o final em aberto?
Eu acho que já há uma afronta muito forte, alguém apontar uma arma para o pai. Já é uma afronta excessiva. Eu cheguei a montar com um blackout e depois o estouro, mas eu preferi deixar em aberto, porque eu não tive coragem de fazê-la matando esse pai.
Ator, produtor, diretor de teatro, roteirista e agora diretor de cinema, esse caminho foi um processo natural? Você já pensava em dirigir?
Acho que é um processo natural. Não era um sonho de infância ou algo parecido. Mas, acho que no exercício do ator, de tanto experimentar, sugerir, acaba dando vontade de dirigir o próprio filme.
E por ser um ator-diretor, seu filme acaba pendendo para a atuação?
Sim, é um filme que eu considero para ator. Um filme de personagem que precisava que os atores fizessem isso bem porque é fácil de cair na mediocridade. O grande mérito do filme são os atores. No livro, por se tratar de preciosa literatura, a trama se desenvolve como um mosaico de acontecimentos (ações) que envolve os personagens; não há uma ordem cronológica. No roteiro, priorizamos os personagens e os direcionamos numa ordem cartesiana, tentando com isso dar mais voz às agruras dos personagens, em detrimento da ação
E a escolha de dirigir um filme baseado no livro de Marçal Aquino, como foi que surgiu?
Esse é um filme que eu gostaria de ter feito como ator, mas acabou que caiu em minha mão para dirigir e eu aceitei o desafio. Marçal Aquino tem um texto fantástico e eu quis contar essa história.
O que você quis passar com essa história?
Quis levantar uma série de dúvidas sobre o ser humano, como eles se portam em um determinado local. Ele poder ser um matador, mas passa pelas mesmas dores de amor que a gente passa. Então, na verdade é um questionamento sobre esses seres que estão aí, nesse momento, eles começam meio em crise. Não tem uma finalidade específica, eu espero que ele sirva para se comunicar com o público e a gente ter alguma reflexão sobre o ser humano. A capacidade do ser humano de fazer determinadas coisas.
Após o primeiro filme já dá para arriscar um estilo de direção?
Não, ainda está muito cedo, ainda não sei se vou fazer de novo, porque foi muito duro fazer esse filme, produzir.
O que foi o mais difícil?
Minha dificuldade é a mesma de todo mundo que faz cinema, conseguir dinheiro para filmar. Eu produzi o filme também e o mais difícil é conseguir levantar recursos para ele existir. A parte artística é a coisa mais linda, escrever, filmar, montar, estar aqui. Tudo isso é bom. A produção é o mais difícil.
Mas, tendo um produtor, você gostaria de dirigir novamente?
Sim. Gostei muito da experiência.
Como você se definiria?
Eu sou um ator de teatro, é o que eu sei fazer melhor. O resto é conseqüência. Não sei dizer o que eu gosto mais, mas o que eu sei fazer melhor é o teatro. Cinema é diferente de teatro, a gente recebe a resposta na hora, intui o que o público sentiu. Gosto desse barulhinho da platéia. No cinema, é difícil isso. Ao mesmo tempo em que está passando aqui, está passando em vários lugares do país, não tem noção de quem está vendo e o que está sentindo.
E a escolha dos atores, você fez testes? Escolheu antes de escrever?
Tenho o privilégio de todos os atores serem meus amigos. Eu não fiz teste, escrevi para cada um deles. Escalei primeiro a Alice Braga, queria o Fulvio, mas para um branquelo de olhos azuis ser o pai dela de forma crível resgatei a Ana Braga, a mãe verdadeira da atriz, que parou de atuar quando a Alice nasceu. Era uma grande atriz e eu a convenci a voltar para não ter erro de escalação. Aí foi formando o restante. Otávio Muller, Cássio, Du, grandes atores que são meus amigos e com quem queria trabalhar. Assim como os dois uruguaios que eu conheço. São grandes atores, um trabalha muito na Argentina que é o Daniel Hendler e o outro é o César Troncoso que é um dos maiores atores que eu conheço. Ele protagonizou O banheiro do Papa que recomendo a todos.
E como era a relação com você, por ser um diretor que é colega de atuação, era mais fácil ou mais complicado?
Era muito bom, eu entendia as dificuldades, o processo. E eles se portaram da melhor maneira possível, compraram a idéia do filme. Tivemos que viajar, ir para lugares difíceis de gravar e eles estavam todos lá, inteiros.
Onde foi rodado o filme?
Ele foi 80% filmado no Estado do Mato Grosso do Sul, em várias cidades, na fronteira da Bolívia e Bolívia e no interior de São Paulo, em Paulínia. Escolhi a região pela diversidade e beleza de locações, há ainda uma luz natural belíssima ali.
Como ator, qual o seu estilo preferido?
Eu já fiz vários gêneros diferentes, eu gosto de fazer personagens que me dêem boa possibilidade de criação. Gosto de variar. Adoraria fazer um bang bang, por exemplo.
Qual a cena que você mais gosta no filme, a que acha que saiu exatamente como imaginou?
São tantas, mas acho que a cena em que a Ana Braga faz na piscina, bebendo uísque e toca a música da Mercedes Sosa é forte, um clipe muito bonito. As pessoas têm falado dela. E é uma loucura porque Mercedes Sosa morreu no dia em que o filme estreou no Festival do Rio, uma coincidência macabra, tivemos que pagar caro pelos direitos autorais da canção, exatamente por causa disso.
Como você vê o cinema nacional hoje?
A gente está crescendo, tem muitos filmes sendo feitos, falta ainda distribuição, faltam salas de cinema. É muito caro o ingresso, não é todo mundo que pode pagar 14 reais para um filme de shopping, isso é a realidade. Você tem 2% da população que vai ao cinema. Acho que tem ainda um preconceito do público em relação aos filmes nacionais, tem grandes filmes sendo feitos, e há principalmente um funil que tira o filme nacional de cartaz. Se não vem com a força de um Tropa de Elite 2, com 700 cópias e a mídia da Globo por trás, não tem espaço.
E você vê alguma solução para esse funil?
O mercado é complicado, não tem muito espaço para filmes independentes no Brasil. Salas alternativas, iniciativas como essa aqui talvez sejam o futuro do cinema independente brasileiro. Porque a distribuição é muito difícil. Meu filme fica muito comigo, eu vou com ele debaixo do braço. Venho divulgar o filme, para ver se vocês gostaram e vão indicar para as pessoas, e tem que indicar rápido porque senão sai de cartaz. É um fenômeno de países pobres e que não conseguem ver que cinema é um pouco o retrato de nossa alma. Vocês conheceram uma parte do Brasil que talvez não conhecessem. Os americanos já descobriram há muito tempo, uma forma boa de divulgar sua cultura, seus costumes, seus hábitos etc através do cinema.
E sendo um ator da Rede Globo, não é mais fácil divulgar seus filmes?
Como o meu filme não é apoiado pela Globo Filmes, eu não posso divulgar meu filme em nenhum programa da Rede Globo, ele é tratado como concorrente.
ATENÇÃO SPOILER
Essa pergunta só leia se tiver visto o filme. Foi o que mais instigou os alunos, eles começaram com esse questionamento e repetiram quatro vezes o mesmo tema, mas revela o final do filme...
Por que você deixou o final em aberto?
Eu acho que já há uma afronta muito forte, alguém apontar uma arma para o pai. Já é uma afronta excessiva. Eu cheguei a montar com um blackout e depois o estouro, mas eu preferi deixar em aberto, porque eu não tive coragem de fazê-la matando esse pai.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Entrevista com Marco Ricca
2010-09-26T16:13:00-03:00
Amanda Aouad
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