O que aconteceu com Wall Street
Quando lançou Wall Street em 1987, Oliver Stone queria alertar para o que considerava uma visão cruel e sem escrúpulos do mundo capitalista de negócios. Criou o personagem símbolo desse sistema, mas viu Gordon Gekko se tornar, não um homem detestável, mas um exemplo ser seguido. Seus lemas viraram referência para estudantes e economistas. Uma verdadeira inversão de valores como vimos aqui com o Capitão Nascimento de Tropa de Elite. Após mais uma crise na bolsa, dessa vez com proporções mundiais muito mais significativas do que a de 29, Stone tira seu protagonista da cadeia para tentar relembrar aquilo que denunciara 33 anos antes.
Gordon Gekko sai da cadeia após oito anos e tem a aparência de um homem cansado. Não é mais o poderoso executivo de outrora, mas ainda desperta fascínio, tanto que lança um livro, participa de programas de entrevistas e dá palestras, alertando para o colapso pelo qual a economia está prestes a passar. O filme se passa em 2008, antes e durante a crise já citada. Colocando na boca de seu protagonista o seu assombro com a repercussão de suas idéias, Oliver Stone diz: "Eu costumava dizer que ganância é bom, hoje parece que ela foi legalizada". De fato o lema “Greed is Good” virou símbolo de uma geração que o estampava em diversos meios. A ganância vai destruir o capitalismo, sentencia Gekko agora.
O único pecado de Oliver Stone e dos roteiristas Allan Loeb e Stephen Schiff nessa continuação é não explorar ainda mais o fascinante anti-herói. Ele está lá, no centro do jogo, mas muitos acontecimentos ao mesmo tempo acabam dispersando a manipulação construída de forma tão fascinante no primeiro filme. O filme perde muito tempo no drama de Lou Zabel, vivido muito bem por Frank Langella, além de nos dar aulas sobre finanças nas reuniões do conselho. É interessante ver o jogo tenso daqueles senhores e todas as suas reviravoltas, mas Gordon Gekko consegue resumir de forma mais lúdica e palpável a negociata. Quando está em cena, há uma luz na tela, mesmo que uma luz sombria.
Shia LaBeouf, ao seu tempo, é um mocinho menos interessante que Charles Sheen. Ao contrário de Bud Fox, Jacob Moore já é um empresário da bolsa de valores com um sucesso razoável. Sua carreira e situação emocional, no entanto, ficam abaladas com o problema de seu guru, Lou Zabel. É aí que ele resolve apelar para os conhecimentos de Gekko, que, por acaso, é seu futuro sogro. Sua filha Winnie, vivida de forma bastante convincente por Carey Mulligan, não quer nem ouvir falar do pai, que considera o responsável pela morte do irmão. Jacob e Gekko vão, então, trabalhar em um jogo de interesse mútuo. O garoto para se vingar, a raposa velha para se reconciliar com a filha.
O vilão da vez é Bretton James, em excelente interpretação de Joshua Brolin. Sua principal atividade é fazer dinheiro através de negociatas bancárias. Vende, compra ou quebra empresas sem se preocupar com ética ou escrúpulos. Um bom boato plantado pode lhe render milhões. É ele o responsável pela queda da empresa de Lou Zabel. E se torna o alvo de vingança de Jacob com a ajuda de Gekko. Mas, nem tudo se resume a isso. O filme é movido pela história recente mundial e sua crise devastadora, logo várias referências aparecem como o mercado imobiliário através da personagem de Susan Sarandon, a mãe de Jacob. Sua atividade como corretora de imóveis nos dá uma boa idéia do que foi o rush dessa área.
Se você gosta de jogos políticos, mercado financeiro e intrigas internacionais vai se envolver com mais essa bela obra de um diretor instigante. As cenas são planejadas com cuidado em uma montagem rápida. Ainda mais com boas interpretações a exemplo de Michael Douglas, que dispensa apresentações revivendo seu melhor personagem. Stone ainda abusa de gráficos e inserções virtuais nas cenas de transição ou ilustração da movimentação do mercado financeiro. Isso torna o filme um pouco mais dinâmico, mas pode soar artificial demais aos olhos de alguns. Ainda assim é um filme que traz o DNA do capitalismo e todas as suas consequências. Não acho que seja um grande filme como o primeiro, mas é mais um filme a ser visto, revisto e comentado.
Gordon Gekko sai da cadeia após oito anos e tem a aparência de um homem cansado. Não é mais o poderoso executivo de outrora, mas ainda desperta fascínio, tanto que lança um livro, participa de programas de entrevistas e dá palestras, alertando para o colapso pelo qual a economia está prestes a passar. O filme se passa em 2008, antes e durante a crise já citada. Colocando na boca de seu protagonista o seu assombro com a repercussão de suas idéias, Oliver Stone diz: "Eu costumava dizer que ganância é bom, hoje parece que ela foi legalizada". De fato o lema “Greed is Good” virou símbolo de uma geração que o estampava em diversos meios. A ganância vai destruir o capitalismo, sentencia Gekko agora.
O único pecado de Oliver Stone e dos roteiristas Allan Loeb e Stephen Schiff nessa continuação é não explorar ainda mais o fascinante anti-herói. Ele está lá, no centro do jogo, mas muitos acontecimentos ao mesmo tempo acabam dispersando a manipulação construída de forma tão fascinante no primeiro filme. O filme perde muito tempo no drama de Lou Zabel, vivido muito bem por Frank Langella, além de nos dar aulas sobre finanças nas reuniões do conselho. É interessante ver o jogo tenso daqueles senhores e todas as suas reviravoltas, mas Gordon Gekko consegue resumir de forma mais lúdica e palpável a negociata. Quando está em cena, há uma luz na tela, mesmo que uma luz sombria.
Shia LaBeouf, ao seu tempo, é um mocinho menos interessante que Charles Sheen. Ao contrário de Bud Fox, Jacob Moore já é um empresário da bolsa de valores com um sucesso razoável. Sua carreira e situação emocional, no entanto, ficam abaladas com o problema de seu guru, Lou Zabel. É aí que ele resolve apelar para os conhecimentos de Gekko, que, por acaso, é seu futuro sogro. Sua filha Winnie, vivida de forma bastante convincente por Carey Mulligan, não quer nem ouvir falar do pai, que considera o responsável pela morte do irmão. Jacob e Gekko vão, então, trabalhar em um jogo de interesse mútuo. O garoto para se vingar, a raposa velha para se reconciliar com a filha.
O vilão da vez é Bretton James, em excelente interpretação de Joshua Brolin. Sua principal atividade é fazer dinheiro através de negociatas bancárias. Vende, compra ou quebra empresas sem se preocupar com ética ou escrúpulos. Um bom boato plantado pode lhe render milhões. É ele o responsável pela queda da empresa de Lou Zabel. E se torna o alvo de vingança de Jacob com a ajuda de Gekko. Mas, nem tudo se resume a isso. O filme é movido pela história recente mundial e sua crise devastadora, logo várias referências aparecem como o mercado imobiliário através da personagem de Susan Sarandon, a mãe de Jacob. Sua atividade como corretora de imóveis nos dá uma boa idéia do que foi o rush dessa área.
Se você gosta de jogos políticos, mercado financeiro e intrigas internacionais vai se envolver com mais essa bela obra de um diretor instigante. As cenas são planejadas com cuidado em uma montagem rápida. Ainda mais com boas interpretações a exemplo de Michael Douglas, que dispensa apresentações revivendo seu melhor personagem. Stone ainda abusa de gráficos e inserções virtuais nas cenas de transição ou ilustração da movimentação do mercado financeiro. Isso torna o filme um pouco mais dinâmico, mas pode soar artificial demais aos olhos de alguns. Ainda assim é um filme que traz o DNA do capitalismo e todas as suas consequências. Não acho que seja um grande filme como o primeiro, mas é mais um filme a ser visto, revisto e comentado.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O que aconteceu com Wall Street
2010-09-23T09:52:00-03:00
Amanda Aouad
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