Os homens que não amavam as mulheres
Stieg Larsson escreveu sua trilogia, entregou na editora e morreu antes de vê-los publicados. Fico imaginando que diria, então, se soubesse que virariam best sellers rapidamente e gerariam não apenas um filme em seu país como uma refilmagem em Hollywood? A Suécia ainda me surpreende com suas obras. Nem querendo entrar no mérito de Ingmar Bergman que para mim é um dos maiores gênios do cinema, mas se Deixe ela entrar já me comoveu ano passado, ao ter contato com a trilogia Millenium fiquei ainda mais empolgada com o país e seu povo. De fato, os livros são envolventes, começam de forma difícil, com muitas tramas paralelas, mas quando tudo se junta é difícil largar suas páginas. O suspense crescente é excepcional.
Ao contrário de Deixe ela entrar, estou ansiosa pela versão americana dessa obra. Porque o filme de Niels Arden Oplev não é ruim, mas está longe do envolvimento do livro. Claro que uma adaptação é sempre delicada, ainda mais com tantas páginas para serem transpostas. Oplev e os roteiristas Rasmus Heisterberg e Nikolaj Arcel tiveram que fazer escolhas. Ironicamente tiraram praticamente do filme a trama da Millenium e deram uma importância muito maior a Lisbeth Salander. Mas, a pequena hacker acabou se tornando uma bisbilhoteira.
A trama gira em torno de um misterioso desaparecimento de uma moça quarenta anos antes da história narrada. Ela era a sobrinha de Henrik Vanger, um poderoso empresário, que contrata o jornalista Mikael Blomkvist para fazer uma última tentativa de descobrir o que aconteceu. Blomkvist acabara de perder um processo onde foi condenado por difamação e o momento é propício para se isolar do mundo. Assim ele aceita morar na ilha onde vive a família Vanger e onde a moça desapareceu. Em determinado momento, Lisbeth Salander irá se juntar a ele nessa investigação. No livro, ele a convida ao descobrir uma pista que irá precisar de um trabalho de pesquisa maior. No filme, ela se intromete na investigação muito antes, porque não parou de investigar a vida do jornalista, entrando constantemente em seu computador.
Além dessa trama principal, o livro desenvolve a questão da revista Millenium, da qual Mikael é sócio, veículo onde foi publicada a matéria difamatória que acabou em sua condenação. Há todo um esforço para reerguer a revista, Vanger chega a se tornar sócio dela para que a mesma não feche, e a personagem Erika, sócia de Mikael possui uma importância muito maior em toda a história. No filme, ela é quase uma figurante. Mas, em uma projeção de duas horas é mesmo complicado detalhar tantos enlaces da teia criada por Stieg Larsson. Acredito que apesar de a revista ser o fio condutor da trilogia, a escolha pela investigação do caso Harriet Vanger foi mesmo a mais feliz.
O problema acontece em como esse mistério vai sendo desenvolvido e resolvido. Algumas coisas soam forçadas, principalmente a participação de Lisbeth Salander que fica parecendo gratuita. Uma hacker futriqueira que invadiu o computador dele e saiu desvendando os mistérios sem mais nem menos. No livro, a charada inicial quem resolve é a filha de Mikael, uma menina religiosa, o que faz todo o sentido. Apesar de Salander continuar investigando o caso de Mikael Blomkvist, ela não fica acompanhando sua vida como uma fofoqueira curiosa.
As escolhas do diretor também não são felizes no ato final. O suspense não é crescente, não nos envolvemos, nem tememos pela vida dos protagonistas, até porque tudo fica aberto demais. Não há nenhum mistério no motivo que leva Mikael àquela ilha. A polícia está em contato o tempo todo com o caso. O jogo de esconde/mostra não acontece e tudo acaba se revelando muito rápido, como o encontro com a senhora que tirou as fotos. Mas, há pontos muito interessantes como a falsa suspeita de Mikael e a casa onde ele entra, para só revelar a verdade depois. Essa sequência é mérito total do filme, já que no livro é completamente diferente. A montagem em paralelo nesse caso funcionou muito bem.
Apesar de não serem como imaginei, os atores estão bem, principalmente Noomi Rapace que faz a hacker Salander. A trama é boa, o recorte foi bem feito, mas a resolução do caso deixa a desejar pelas escolhas fílmicas que a envolvem. Não que seja um filme ruim, é muito interessante, principalmente se você ainda não leu o livro e está conhecendo aquela história. É uma questão típica de gênero, o suspense e os efeitos específicos dele. Por isso, há expectativa em relação a como Hollywood irá resolver esse caso. Afinal, ninguém melhor do que o cinema americano para lidar com gêneros.
Ao contrário de Deixe ela entrar, estou ansiosa pela versão americana dessa obra. Porque o filme de Niels Arden Oplev não é ruim, mas está longe do envolvimento do livro. Claro que uma adaptação é sempre delicada, ainda mais com tantas páginas para serem transpostas. Oplev e os roteiristas Rasmus Heisterberg e Nikolaj Arcel tiveram que fazer escolhas. Ironicamente tiraram praticamente do filme a trama da Millenium e deram uma importância muito maior a Lisbeth Salander. Mas, a pequena hacker acabou se tornando uma bisbilhoteira.
A trama gira em torno de um misterioso desaparecimento de uma moça quarenta anos antes da história narrada. Ela era a sobrinha de Henrik Vanger, um poderoso empresário, que contrata o jornalista Mikael Blomkvist para fazer uma última tentativa de descobrir o que aconteceu. Blomkvist acabara de perder um processo onde foi condenado por difamação e o momento é propício para se isolar do mundo. Assim ele aceita morar na ilha onde vive a família Vanger e onde a moça desapareceu. Em determinado momento, Lisbeth Salander irá se juntar a ele nessa investigação. No livro, ele a convida ao descobrir uma pista que irá precisar de um trabalho de pesquisa maior. No filme, ela se intromete na investigação muito antes, porque não parou de investigar a vida do jornalista, entrando constantemente em seu computador.
Além dessa trama principal, o livro desenvolve a questão da revista Millenium, da qual Mikael é sócio, veículo onde foi publicada a matéria difamatória que acabou em sua condenação. Há todo um esforço para reerguer a revista, Vanger chega a se tornar sócio dela para que a mesma não feche, e a personagem Erika, sócia de Mikael possui uma importância muito maior em toda a história. No filme, ela é quase uma figurante. Mas, em uma projeção de duas horas é mesmo complicado detalhar tantos enlaces da teia criada por Stieg Larsson. Acredito que apesar de a revista ser o fio condutor da trilogia, a escolha pela investigação do caso Harriet Vanger foi mesmo a mais feliz.
O problema acontece em como esse mistério vai sendo desenvolvido e resolvido. Algumas coisas soam forçadas, principalmente a participação de Lisbeth Salander que fica parecendo gratuita. Uma hacker futriqueira que invadiu o computador dele e saiu desvendando os mistérios sem mais nem menos. No livro, a charada inicial quem resolve é a filha de Mikael, uma menina religiosa, o que faz todo o sentido. Apesar de Salander continuar investigando o caso de Mikael Blomkvist, ela não fica acompanhando sua vida como uma fofoqueira curiosa.
As escolhas do diretor também não são felizes no ato final. O suspense não é crescente, não nos envolvemos, nem tememos pela vida dos protagonistas, até porque tudo fica aberto demais. Não há nenhum mistério no motivo que leva Mikael àquela ilha. A polícia está em contato o tempo todo com o caso. O jogo de esconde/mostra não acontece e tudo acaba se revelando muito rápido, como o encontro com a senhora que tirou as fotos. Mas, há pontos muito interessantes como a falsa suspeita de Mikael e a casa onde ele entra, para só revelar a verdade depois. Essa sequência é mérito total do filme, já que no livro é completamente diferente. A montagem em paralelo nesse caso funcionou muito bem.
Apesar de não serem como imaginei, os atores estão bem, principalmente Noomi Rapace que faz a hacker Salander. A trama é boa, o recorte foi bem feito, mas a resolução do caso deixa a desejar pelas escolhas fílmicas que a envolvem. Não que seja um filme ruim, é muito interessante, principalmente se você ainda não leu o livro e está conhecendo aquela história. É uma questão típica de gênero, o suspense e os efeitos específicos dele. Por isso, há expectativa em relação a como Hollywood irá resolver esse caso. Afinal, ninguém melhor do que o cinema americano para lidar com gêneros.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os homens que não amavam as mulheres
2010-09-04T09:45:00-03:00
Amanda Aouad
cinema europeu|critica|livro|suspense|
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