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Antes que o mundo acabe
Antes que o mundo acabe
Hoje recomeça o FICI aqui em Salvador, a programação completa encontra-se no site. Quem ainda não conferiu, tem essa segunda chance, os filmes são variados e agradam crianças e adultos. Domingo passado, tive a oportunidade de conferir Antes que o Mundo Acabe, filme de Ana Luiza Azevedo que não tem previsão de estreia por aqui. Além de todo o sucesso que está fazendo nos festivais que passa, fui conferir por gostar muito da estética dos filmes da Casa de Cinema de Porto Alegre. É uma produtora que foca na sétima arte de uma forma bem honesta. E em seu primeiro longametragem, Ana Luiza Azevedo seguiu a cartilha de Jorge Furtado, fazendo um sensível filme sobre adolescentes.
O clima do filme me lembrou Houve Uma Vez Dois Verões, não por acaso, Jorge Furtado assina o roteiro junto a Ana Luiza e outros. É interessanter ver que o cinema nacional está começando a se voltar para o tema adolescente e fazendo filmes tão díspares, mas não menos interessantes como As Melhores Coisas do Mundo ou Os Famosos e os Duendes da Morte. Ana Luiza Azevedo é uma das fundadoras da Casa de Porto Alegre e já tinha começa a dirigir curtas e séries. Antes que o Mundo acabe tem um pouco de cada coisa e fala da angustia de um adolescente em busca de si mesmo. Adaptação do livro infanto-juvenil homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha conta a história de Daniel. O garoto está sempre de mau humor como frisa sua irmã caçula, a narradora do filme, tem um pai ausente, uma namorada que pede um tempo e começa a flertar com seu melhor amigo, um grupo de colegas babacas que vivem fazendo brincadeiras sem graça, um diretor de escola autoritário. Mas, tem também uma mãe compreensiva, um padrasto legal e uma vida bem confortável.
O filme se passa na fictícia cidade do interior do Rio Grande do Sul, chamada Pedra Grande. O cotidiano local é bem caracterizado, com as pessoas andando de bicicleta, os vizinhos interagindo na vida um do outro, a santa que passa de casa em casa, o carteiro que sempre fala a mesma coisa, o sino da igreja. Tudo composto com um tom nostálgico. É interessante a construção da história pela visão da pequena Maria Clara, vivida pela fofa Caroline Guedes. Isso só não se sustenta muito porque ela não teria como acompanhar tudo que se passa no filme. Tanto que, em determinado momento, entra uma voz over masculina que deixa o espectador perdido. Só depois ela é explicada com a apresentação do personagem.
Daniel, o protagonista, acaba sendo um personagem fraco. Não nos envolvemos com seu drama a ponto de torcer por ele. Aliás, o triângulo amoroso do filme composto por ele, seu amigo Lucas e sua namorada Mim não tem uma força dramática tão boa. A ponto dele incluir informações forçadas como as comunidades poliândricas ou a letra "Beat Acelerado" cantada por Mim ("Acontece porém, que eu não sei me entregar a um amor somente"). Os três atores adolescentes também não são primorosos profissionais e o texto fica pedindo uma atuação melhor em determinadas cenas.
Ainda assim, o filme nos envolve por todos os elementos interligados. É gostoso de se ver. E é a cara dos nossos jovens. Filme brasileiro de gênero, sem copiar estética norte-americana. A gente precisa de mais filmes assim. Por isso insisto em dar um viva à Casa de Cinema de Porto Alegre que sempre buscou esse caminho.
O clima do filme me lembrou Houve Uma Vez Dois Verões, não por acaso, Jorge Furtado assina o roteiro junto a Ana Luiza e outros. É interessanter ver que o cinema nacional está começando a se voltar para o tema adolescente e fazendo filmes tão díspares, mas não menos interessantes como As Melhores Coisas do Mundo ou Os Famosos e os Duendes da Morte. Ana Luiza Azevedo é uma das fundadoras da Casa de Porto Alegre e já tinha começa a dirigir curtas e séries. Antes que o Mundo acabe tem um pouco de cada coisa e fala da angustia de um adolescente em busca de si mesmo. Adaptação do livro infanto-juvenil homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha conta a história de Daniel. O garoto está sempre de mau humor como frisa sua irmã caçula, a narradora do filme, tem um pai ausente, uma namorada que pede um tempo e começa a flertar com seu melhor amigo, um grupo de colegas babacas que vivem fazendo brincadeiras sem graça, um diretor de escola autoritário. Mas, tem também uma mãe compreensiva, um padrasto legal e uma vida bem confortável.
O filme se passa na fictícia cidade do interior do Rio Grande do Sul, chamada Pedra Grande. O cotidiano local é bem caracterizado, com as pessoas andando de bicicleta, os vizinhos interagindo na vida um do outro, a santa que passa de casa em casa, o carteiro que sempre fala a mesma coisa, o sino da igreja. Tudo composto com um tom nostálgico. É interessante a construção da história pela visão da pequena Maria Clara, vivida pela fofa Caroline Guedes. Isso só não se sustenta muito porque ela não teria como acompanhar tudo que se passa no filme. Tanto que, em determinado momento, entra uma voz over masculina que deixa o espectador perdido. Só depois ela é explicada com a apresentação do personagem.
Daniel, o protagonista, acaba sendo um personagem fraco. Não nos envolvemos com seu drama a ponto de torcer por ele. Aliás, o triângulo amoroso do filme composto por ele, seu amigo Lucas e sua namorada Mim não tem uma força dramática tão boa. A ponto dele incluir informações forçadas como as comunidades poliândricas ou a letra "Beat Acelerado" cantada por Mim ("Acontece porém, que eu não sei me entregar a um amor somente"). Os três atores adolescentes também não são primorosos profissionais e o texto fica pedindo uma atuação melhor em determinadas cenas.
Ainda assim, o filme nos envolve por todos os elementos interligados. É gostoso de se ver. E é a cara dos nossos jovens. Filme brasileiro de gênero, sem copiar estética norte-americana. A gente precisa de mais filmes assim. Por isso insisto em dar um viva à Casa de Cinema de Porto Alegre que sempre buscou esse caminho.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Antes que o mundo acabe
2010-10-29T11:11:00-03:00
Amanda Aouad
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