Baarìa - A porta do vento
Cinquenta anos de história da Itália passam como um resumão em sua frente e mesmo assim, a sensação é de que o novo filme de Giuseppe Tornatore é longo em excesso. Não que, com isso, seja chato. O eterno diretor de Cinema Paradiso é de uma sensibilidade ímpar e seu filme não é apenas uma junção de imagens, é poesia. Da melhor qualidade. Não há como não se encantar com determinadas cenas, com o enquadramento escolhido, a atmosfera criada e, claro, a música melodramática. Como muitos outros cineastas, Giuseppe se utiliza de suas memórias pessoais para fazer um filme quase biográfico da família Torrenuova. A lembrança do Amarcord de Fellini é quase inconsciente. Ambos italianos, percorrendo suas memórias para contar uma saga familiar em um subúrbio italiano. Mas, as semelhanças param por aí. Baarìa - A porta do vento é um filme a ser contemplado, mas está longe de ser a obra-prima do diretor.
Em sua terra natal, a Baarìa, subúrbio de Palermo, na Sicília, a família Torrenuova vive seu dia a dia. Peppino é o personagem que acompanharemos de forma mais completa. Desde sua infância vendendo leite pela praça até sua velhice, após levar uma vida dedicada à política. Mas, na verdade, A Porta do Vento não nos conta uma história linear com começo, meio e fim. Ela picota lembranças em tempos não definidos, começando pelo futuro e retornando ao passado costurando a idéia principal da história que é a vida e os sonhos dos seres humanos. Peppino é um garoto pobre, mas esperto. Sempre observando os acontecimentos de sua vizinhança, fazendo trabalhos diversos e sonhando em acertar os três pedregulhos próximos a sua casa com uma única pedra, pois a lenda diz que, ao acontecer isso, um tesouro apareceria. Ele cresce e torna-se comunista, filiado ao partido italiano, mas não deixa de sonhar. É assim que se apaixona por Mannina e consegue casar com a moça mesmo contra a vontade da famíia dela.
A história italiana, o fascismo, a segunda guerra, o pós-guerra, a máfia, as lutas comunistas, tudo serve de pano de fundo para família Torrenuova e seus sonhos pessoais. O problema é que para condensar tantos anos, ficamos na sensação de que estamos vendo um resumo picotado de cada coisa. É tudo rápido e ao mesmo tempo lento. Pois o ritmo das cenas é realista e contemplativo. A postura submissa de Mannina também incomoda um pouco em tempos feministas. Mas é bastante compreensível. Já a petulância da filha de Peppino causa um certo estranhamento. Interessante observar também que estilo realista se mistura a toques surreais em várias cenas, a começar pela primeira, culminando naquele final repleto de significados.
Referências também não faltam. É impossível não lembrar de Totó e sua coleção de películas, quando Peppino troca figurinhas por pedaços de filmes dizendo o nome a cada frame que visualiza em contra luz. Até a trilha sonora é parecida. Lembramos também do velho Cinema Paradiso nas sessões que passam durante o filme, com toda aquela confusão, conversas, brigas e maneiras de se envolver com a história. Cinema faz parte da vida de Tornatore, um filme biográfico não poderia deixar de conter tais cenas. Além claro, de ser sua obra mais relevante.
Os atores, quase todos desconhecidos do grande público, estão muito bem. Destaque para Francesco Scianna, que dá uma carga dramática impressionante ao Peppino adulto. E a Margareth Made que faz a Mannina, impressionante como a moça lembra nossa Maria Fernanda Cândido. Atores conhecidos passam em um piscar de olhos, como Monica Bellucci que tem uma cena de menos de dois minutos, mas bastante significativa para os homens mais afoitos.
Baarìa é um filme para quem gosta da poesia da vida cotidiana. Dos sonhos infantis que carregamos pelo resto de nossas vidas. Das belas paisagens italianas. Cansativo pela sua longa duração de duas horas e meia, mas ainda assim uma viagem gostosa pela saga da família Torrenuova.
Em sua terra natal, a Baarìa, subúrbio de Palermo, na Sicília, a família Torrenuova vive seu dia a dia. Peppino é o personagem que acompanharemos de forma mais completa. Desde sua infância vendendo leite pela praça até sua velhice, após levar uma vida dedicada à política. Mas, na verdade, A Porta do Vento não nos conta uma história linear com começo, meio e fim. Ela picota lembranças em tempos não definidos, começando pelo futuro e retornando ao passado costurando a idéia principal da história que é a vida e os sonhos dos seres humanos. Peppino é um garoto pobre, mas esperto. Sempre observando os acontecimentos de sua vizinhança, fazendo trabalhos diversos e sonhando em acertar os três pedregulhos próximos a sua casa com uma única pedra, pois a lenda diz que, ao acontecer isso, um tesouro apareceria. Ele cresce e torna-se comunista, filiado ao partido italiano, mas não deixa de sonhar. É assim que se apaixona por Mannina e consegue casar com a moça mesmo contra a vontade da famíia dela.
A história italiana, o fascismo, a segunda guerra, o pós-guerra, a máfia, as lutas comunistas, tudo serve de pano de fundo para família Torrenuova e seus sonhos pessoais. O problema é que para condensar tantos anos, ficamos na sensação de que estamos vendo um resumo picotado de cada coisa. É tudo rápido e ao mesmo tempo lento. Pois o ritmo das cenas é realista e contemplativo. A postura submissa de Mannina também incomoda um pouco em tempos feministas. Mas é bastante compreensível. Já a petulância da filha de Peppino causa um certo estranhamento. Interessante observar também que estilo realista se mistura a toques surreais em várias cenas, a começar pela primeira, culminando naquele final repleto de significados.
Referências também não faltam. É impossível não lembrar de Totó e sua coleção de películas, quando Peppino troca figurinhas por pedaços de filmes dizendo o nome a cada frame que visualiza em contra luz. Até a trilha sonora é parecida. Lembramos também do velho Cinema Paradiso nas sessões que passam durante o filme, com toda aquela confusão, conversas, brigas e maneiras de se envolver com a história. Cinema faz parte da vida de Tornatore, um filme biográfico não poderia deixar de conter tais cenas. Além claro, de ser sua obra mais relevante.
Os atores, quase todos desconhecidos do grande público, estão muito bem. Destaque para Francesco Scianna, que dá uma carga dramática impressionante ao Peppino adulto. E a Margareth Made que faz a Mannina, impressionante como a moça lembra nossa Maria Fernanda Cândido. Atores conhecidos passam em um piscar de olhos, como Monica Bellucci que tem uma cena de menos de dois minutos, mas bastante significativa para os homens mais afoitos.
Baarìa é um filme para quem gosta da poesia da vida cotidiana. Dos sonhos infantis que carregamos pelo resto de nossas vidas. Das belas paisagens italianas. Cansativo pela sua longa duração de duas horas e meia, mas ainda assim uma viagem gostosa pela saga da família Torrenuova.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Baarìa - A porta do vento
2010-10-13T08:23:00-03:00
Amanda Aouad
cinema europeu|critica|drama|Giuseppe Tornatore|
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