Ampliando a discussão, que antes era apenas na luta contra o tráfico de drogas, José Padilha irá explorar agora a questão das milícias e todo o jogo político por trás da segurança pública do país. O Capitão Nascimento agora é Sub Secretário de Inteligência e, mais maduro, começa a enxergar o seu papel nesse jogo. Wagner Moura volta ao papel com força e agora, exercendo também a função de coprodutor do filme. Voltam também André Ramiro e Maria Ribeiro, além de novos atores como o ótimo Irandhir Santos.
A divulgação do filme está com grande força na internet, tendo maior destaque para o site oficial, blog e twitter. Com todo o esquema de proteção para que o filme não vaze na pirataria, a distribuição não fará nem cabines para imprensa, nem pré-estreias pelo país. Então, vou correr atrás do meu ingresso para conferir o filme no dia 08 e contar para vocês o que achei. Consegui, por enquanto, apenas essa entrevista feita pela própria assessoria do filme com o ator Wagner Moura e que autorizou a publicação aqui. Uma visão bem interessante do filme, confiram.
Por que voltar ao filme? Ficou algo em aberto no primeiro?
- “Tropa de Elite” é um filme político, traz uma discussão que me interessa, sobre violência e segurança pública. Há muito ainda a se falar sobre esse assunto, um dos mais urgentes. Poderíamos fazer Tropa de Elite 10 que não faltariam questões. Mas o filme transcende a política. É um produto de cultura de massa cuja primeira parte teve grande reconhecimento artístico.
Como construir um arco dramático e torná-lo crível para um personagem tão idolatrado e já incorporado ao imaginário coletivo como o capitão Nascimento?
- Nascimento é o mesmo cara, só que 15 anos mais velho. É e não é a mesma pessoa. Ele é mais consciente agora, por uma necessidade dramática e por uma questão de idade. Esse filme traz um personagem que passa a compreender o seu papel no jogo, que entende, não sem muito sofrimento, que sempre foi apenas uma peça a mais do quebra-cabeça caótico que é o sistema de segurança pública brasileiro.
A questão da paternidade é forte no filme. O que um pai é capaz de fazer por um filho e como isso se constrói ao longo do filme?
- A questão da família é, desde o primeiro filme, uma coisa complicada para Nascimento. O nascimento do Rafael detona toda a crise do personagem no “Tropa 1” e agora a relação dos dois é um tema importante do filme. O garoto já tem 15 anos, a história fica mais complexa. Ser pai certamente me deu ferramentas para entender melhor esse tipo de relação.
Em “Tropa de Elite”, a preparação já tinha sido pesada. Do trabalho com Fátima Toledo aos treinamentos com armas e técnicas do BOPE. Neste, a ação ganha ainda mais força e os treinamentos parecem ter se intensificado. O que foi mais trabalhado dessa vez?
- Na verdade, o treinamento com o BOPE foi muito mais intenso no primeiro filme. Nesse, como os atores eram mais ou menos os mesmos, nós passamos por uma espécie de ‘recall’. E a Fátima me ajudou muito nessa passagem do Nascimento mais jovem para o outro. É uma profissional por quem eu tenho muito respeito e amizade.
“Tropa de Elite” é apontado também por seus efeitos especiais. Como foi atuar com tanta construção técnica?
- Não acho que “Tropa” tenha muitos efeitos especiais. Nisso ele se distancia dos filmes policiais americanos, com suas explosões e capotagens. “Tropa” tem cara de documentário. O que acontece é que a realidade tem ficado cada vez mais pirotécnica. Os americanos que vieram são os mesmos que fizeram o primeiro “Tropa” e são de fato excelentes profissionais, mas o trabalho deles está em comunhão com a estética do filme. Apesar de ter muita ação, principalmente para os padrões brasileiros, os efeitos não dão o tom do “Tropa 2”.
Como foi trabalhar novamente com o José Padilha e boa parte da equipe de novo? Imagino que a química entre vocês já tenha códigos que talvez até dispensem as palavras, não?
- O Zé (Padilha) é um grande parceiro. Um diretor que sabe ouvir sua equipe e seus atores e que fez questão de reunir basicamente a mesma turma para a segunda parte do filme. Ele gosta desse negócio de turma. Rafael Salgado, Leandro Lima, Claudia Kopke e claro, Bráulio Mantovani e Daniel Rezende, que dessa vez trabalhou também no ‘set’. Uma galera que já sabia qual era o barulho do filme. O Zé é inteligente e o cinema que ele faz me interessa muito. Eu, ele e o Lula Carvalho trabalhamos muito bem juntos.
Como foi a experiência de dividir o set com Pedro Van Held e Irandhir Santos? Como se construiu a relação com cada um?
- Irandhir é um ator extraordinário. Um artista compenetrado, dedicado, sensível, bom colega... Houve uma troca muito boa entre nós, ele é um cara que dignifica nossa profissão. Pedrinho é um menino muito corajoso. Encarou a dureza que foi o processo de “Tropa de Elite 2” com um destemor raro para um sujeito da idade dele. Tenho muito carinho pelo Pedro, que fez um trabalho muito bonito no filme e foi um ótimo companheiro de jornada. Um garoto doce e corajoso que merece todo respeito.
Nas entrevistas sobre “Tropa de Elite”, você sempre afirma que o filme o surpreendeu com sua repercussão, que você se via tendo que pensar e responder sobre coisas que não esperava. Até artigo num jornal de grande circulação do Rio de Janeiro você assinou. O grande mérito do filme, segundo você, foi ter gerado um grande debate sobre segurança pública. De que forma você acha que “Tropa de Elite 2” influenciará? Que tipo de debate ele vai provocar?
- No primeiro filme o espectador via a forma promíscua com que agia um policial, mas a polícia é só a ponta de um ‘iceberg’ gigantesco. Esse filme vai mais fundo. A polícia é massa de manobra de interesses que historicamente negligenciam as áreas pobres, favorecendo o aparecimento do tráfico e das milícias. Acho que as relações entre polícia e política vão dar material para um bom debate.
No seu artigo, você diz: “Também fico preocupado quando vejo o capitão Nascimento ser tratado como herói. Fico pensando como reagiria ao filme uma platéia sueca. Não creio que pensariam naqueles policiais torturadores como heróis, assim como muita gente que vê o filme aqui também não pensa. Talvez os suecos não precisem de heróis. Talvez, aí sim uma tragédia, fascista estejamos nos tornando nós, brasileiros, cidadãos carentes de uma política de segurança pública qualquer, que vemos naqueles policiais honestos, bem treinados, mas desrespeitadores dos direitos humanos mais elementares, a solução para o caos em que estamos metidos”. E completa: “Discordo do capitão Nascimento em quase tudo, mas não posso deixar de ver a importância de entender seu pensamento como fundamental para o debate sobre violência no Brasil”. É aí que está a força do seu personagem? No quase desconhecimento de seu ponto de vista pela sociedade?
- Nascimento é uma mistura de vários policiais e eu acho importante o filme apresentar esses caras da forma mais fiel possível, sendo a polícia uma instituição tão importante, em especial em cidades violentas como o Rio. Os homens do BOPE que eu conheci são todos pessoas honestas e a maioria acredita realmente que matando e torturando bandido estará prestando um serviço público. Essa, na verdade, é uma visão compartilhada por grande parte da sociedade. Todos nós nos esforçamos muito para que o filme tivesse uma proximidade forte com o mundo real. Evidentemente, ‘Tropa de Elite’ é uma obra de ficção, mas com uma estética quase documental. Acho que essa ‘verdade’ aproximou o espectador, que se viu retratado ali.
Se alguém na rua lhe perguntasse sobre “Tropa de elite 2”, o que você diria?
- É melhor que o primeiro.