O Solista
O jornalista Steve Lopez conseguiu uma matéria incrível ao encontrar nas ruas de Los Angeles um sem-teto que tocava maravilhosamente bem. Conhecendo sua história, acabou se envolvendo com o personagem e criando um laço de amizade que mudou a vida de ambos. Ele então escreveu um livro que serviu de inspiração para o filme de Joe Wright. O argumento é lindo, envolvente e chamou minha atenção desde o primeiro trailer que vi. O roteiro de Susannah Grant, no entanto, acaba esbarrando na difícil arte de ficcionar a realidade.
Há uma frase que o DOC TV utiliza que diz: "Quando a realidade parece ficção é hora de fazer um documentário". Essa é uma das coisas mais reais que já ouvi, porque não basta ser uma história incrível, tem que ser crível e ter fôlego para construir um arco dramático envolvente. A história de Nathaniel Ayers é incrível, parece crível, mas não têm esse fôlego, tanto que Grant apela para o flashback explicativo que acaba destoando do restante da trama. É quase um susto para o espectador a primeira vez que aparece.
À procura de uma história para sua coluna, o jornalista Steve Lopez vê um mendigo tocando um violino com apenas duas cordas. Completamente apaixonado por Beethoven, ele toca aos pés de sua estátua para ter boas vibrações. Os dois conversam e o jornalista descobre que o morador de rua já chegou a frequentar uma famosa escola de música. É tudo que ele precisava. A matéria sai, é um sucesso, e o mendigo Nathaniel ganha um violoncelo de uma leitora. Mas, a história dos dois estava apenas começando.
Robert Downey Jr. está bem como Steve Lopez, mas há cenas em que os seus trejeitos pseudo-engraçados não fazem o menor sentido, como as situações com a urina, seja dele ou de animais. Mas, aí não seria exatamente culpa do ator. Ele consegue dar uma carga dramática muito boa ao personagem que se sensibiliza com o drama do outro. Jamie Foxx, por sua vez, mostra que não encarnou Ray em um ato de sorte. Como o esquizofrênico Nathaniel ele consegue impor uma sensibilidade ímpar que nos envolve. Sua paixão por Beethoven, se torna nossa paixão.
O problema é que o roteiro e a direção não acompanham a entrega dos dois atores e ficamos sendo cortados em nossa emoção diversas vezes. Principalmente pelos flashbacks que acho desnecessários aqui. A história que interessa não é como Nathaniel foi parar nas ruas, mas como esse morador das ruas com uma sensibilidade incrível se junta a um jornalista obcecado pelo trabalho e totalmente solitário para construir algo a partir de agora. O que um pode fazer pelo outro? Como será a vida de ambos a partir de agora? Existe uma transformação?
O filme falha em não nos dar aquilo que queremos ver. E em tentar explicar o que não tem explicação. Ainda assim, temos belas cenas como Nathaniel tocando no pátio do abrigo pela primeira vez ou a sinestésica cena do concerto. A relação dos dois, seus traumas, seus medos, é bela. Uma amizade pura, sem interesses, que pode transformar um ser humano. Pena que não foi bem aproveitada por seus realizadores, fazendo apenas um filme mediano.
O Solista (The Soloist, 2009 / EUA , Reino Unido)
Direção: Joe Wright
Roteiro: Susannah Grant
Com: Jamie Foxx, Robert Downey, Jr., Catherine Keener
Duração: 117 min.
Há uma frase que o DOC TV utiliza que diz: "Quando a realidade parece ficção é hora de fazer um documentário". Essa é uma das coisas mais reais que já ouvi, porque não basta ser uma história incrível, tem que ser crível e ter fôlego para construir um arco dramático envolvente. A história de Nathaniel Ayers é incrível, parece crível, mas não têm esse fôlego, tanto que Grant apela para o flashback explicativo que acaba destoando do restante da trama. É quase um susto para o espectador a primeira vez que aparece.
À procura de uma história para sua coluna, o jornalista Steve Lopez vê um mendigo tocando um violino com apenas duas cordas. Completamente apaixonado por Beethoven, ele toca aos pés de sua estátua para ter boas vibrações. Os dois conversam e o jornalista descobre que o morador de rua já chegou a frequentar uma famosa escola de música. É tudo que ele precisava. A matéria sai, é um sucesso, e o mendigo Nathaniel ganha um violoncelo de uma leitora. Mas, a história dos dois estava apenas começando.
Robert Downey Jr. está bem como Steve Lopez, mas há cenas em que os seus trejeitos pseudo-engraçados não fazem o menor sentido, como as situações com a urina, seja dele ou de animais. Mas, aí não seria exatamente culpa do ator. Ele consegue dar uma carga dramática muito boa ao personagem que se sensibiliza com o drama do outro. Jamie Foxx, por sua vez, mostra que não encarnou Ray em um ato de sorte. Como o esquizofrênico Nathaniel ele consegue impor uma sensibilidade ímpar que nos envolve. Sua paixão por Beethoven, se torna nossa paixão.
O problema é que o roteiro e a direção não acompanham a entrega dos dois atores e ficamos sendo cortados em nossa emoção diversas vezes. Principalmente pelos flashbacks que acho desnecessários aqui. A história que interessa não é como Nathaniel foi parar nas ruas, mas como esse morador das ruas com uma sensibilidade incrível se junta a um jornalista obcecado pelo trabalho e totalmente solitário para construir algo a partir de agora. O que um pode fazer pelo outro? Como será a vida de ambos a partir de agora? Existe uma transformação?
O filme falha em não nos dar aquilo que queremos ver. E em tentar explicar o que não tem explicação. Ainda assim, temos belas cenas como Nathaniel tocando no pátio do abrigo pela primeira vez ou a sinestésica cena do concerto. A relação dos dois, seus traumas, seus medos, é bela. Uma amizade pura, sem interesses, que pode transformar um ser humano. Pena que não foi bem aproveitada por seus realizadores, fazendo apenas um filme mediano.
O Solista (The Soloist, 2009 / EUA , Reino Unido)
Direção: Joe Wright
Roteiro: Susannah Grant
Com: Jamie Foxx, Robert Downey, Jr., Catherine Keener
Duração: 117 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Solista
2010-10-17T10:06:00-03:00
Amanda Aouad
Catherine Keener|critica|drama|Jamie Foxx|Joe Wright|Robert Downey Jr.|
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