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Marco Nanini
A Suprema Felicidade ?
A Suprema Felicidade ?
O que é a Felicidade? Vinícius de Moraes já alertou que "tristeza não tem fim, felicidade sim". Muitas filosofias e poesias surgiram para tentar explicá-la e o que parece mais coerente é dizer que ela não existe, temos apenas momentos felizes. Partindo dessa certeza, Arnaldo Jabor retorna aos cinemas após 20 anos para expor, na tela, lembranças, não tão felizes quanto sugerem o título do filme, mas momentos marcantes da vida de um cidadão comum carioca. Paulo, filho de um casal convencional, neto de um sonhador incorrigível, amigo de poucos. Passeamos pela vida desse rapaz de forma não-linear, tendo a história do Rio de Janeiro como pano de fundo. O filme é isso, uma imensa nostalgia dos tempos que não voltam mais. Não esperem uma história, uma moral, uma defesa de tese. Nem mesmo o humor ácido do crítico Jabor.
O roteiro não-linear é para dar a sensação de lembranças sem uma ordem racional. Acho interessante, mas sinto falta de um fio condutor daquela história. Ou melhor, de história propriamente dita. Porque Paulo não é ninguém especial, nada de extraordinário aconteceu em sua vida, nem tem algo interessante para contar. É apenas um registro, uma crônica do cotidiano. Não chegaria a ser um problema se o filme focasse em algo, em vez de passar superficialmente por tudo. Acaba sendo um cansativo filme sobre nada. O início é bom, envolvente, mas ficamos esperando o que virá em seguida e acabamos frustrados em muitos momentos. Nem por isso deixa de ser uma bela poesia. Há cenas belíssimas e momentos emocionantes. Gosto muito da cena da chuva ou a cena da estrela. Porém, outras são completamente sem sentido como a da facada ou o samba no meio da rua. Um ponto forte é a trilha sonora, envolvente, o retrato de uma época. Assim como a fotografia bem cuidada de Lauro Escorel.
A reconstrução de época também é bacana. Principalmente na figura de dois personagens tipos. O comprador de jornal vivido por Emiliano Queiroz que dá uma nostalgia com sua música insistente. E o pipoqueiro vivido muito bem por João Miguel. É aquele típico vendedor de bairro, que conhece todo mundo e faz ponto mexendo com a vizinhança. As piadas de duplo sentido dele podem parecer completamente sem graça, mas são bastante realistas e condizentes com o personagem. Estranhei o colégio de padres e sua aula sobre sexo. Mas, os detalhes como os espermatozóides virando cruz de túmulo no quadro são ótimos. Já a sequência dos meninos praticando o mal solitário foi meio forçada.
Mas, o filme se sustenta mesmo nas interpretações. Além de João Miguel que já falei, Narco Nanini rouba o filme. Avô Noel é o típico personagem apaixonante. Engraçado quando é para ser, sério quando precisa, forte e sonhador. Fala com o neto de igual para igual e ilumina a tela quando aparece. Dan Stulbach também está bem como o pai machista que não deixa a mulher sair de casa. Assim como Elke Maravilha está ótima como a avó. Apesar de uma personagem sem pé nem cabeça, Maria Flor também está bem. Até Jayme Matarazzo consegue defender bem o Paulo adulto. Já Mariana Lima destoa do resto do elenco, fazendo a mãe do protagonista de forma muito caricata.
Parece que Jabor resolveu retornar ao cinema para tentar seu Amarcord, mas, ao contrário de Fellini, o diretor não conseguiu traduzir suas lembranças em um filme palpável para todos os olhos, principalmente pelo roteiro, que ele mesmo assina e inclui diálogos artificiais, personagens rasos e uma costura capenga que compromete boa parte da fruição. Uma pena, pelo elenco que tinha nas mãos e o trabalho de produção poderia ser uma obra-prima do nosso cinema. Fica uma obra mediana, importante apenas pela volta do diretor à ativa. Como diz os versos de Drummond na abertura do filme: "As coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão".
O roteiro não-linear é para dar a sensação de lembranças sem uma ordem racional. Acho interessante, mas sinto falta de um fio condutor daquela história. Ou melhor, de história propriamente dita. Porque Paulo não é ninguém especial, nada de extraordinário aconteceu em sua vida, nem tem algo interessante para contar. É apenas um registro, uma crônica do cotidiano. Não chegaria a ser um problema se o filme focasse em algo, em vez de passar superficialmente por tudo. Acaba sendo um cansativo filme sobre nada. O início é bom, envolvente, mas ficamos esperando o que virá em seguida e acabamos frustrados em muitos momentos. Nem por isso deixa de ser uma bela poesia. Há cenas belíssimas e momentos emocionantes. Gosto muito da cena da chuva ou a cena da estrela. Porém, outras são completamente sem sentido como a da facada ou o samba no meio da rua. Um ponto forte é a trilha sonora, envolvente, o retrato de uma época. Assim como a fotografia bem cuidada de Lauro Escorel.
A reconstrução de época também é bacana. Principalmente na figura de dois personagens tipos. O comprador de jornal vivido por Emiliano Queiroz que dá uma nostalgia com sua música insistente. E o pipoqueiro vivido muito bem por João Miguel. É aquele típico vendedor de bairro, que conhece todo mundo e faz ponto mexendo com a vizinhança. As piadas de duplo sentido dele podem parecer completamente sem graça, mas são bastante realistas e condizentes com o personagem. Estranhei o colégio de padres e sua aula sobre sexo. Mas, os detalhes como os espermatozóides virando cruz de túmulo no quadro são ótimos. Já a sequência dos meninos praticando o mal solitário foi meio forçada.
Mas, o filme se sustenta mesmo nas interpretações. Além de João Miguel que já falei, Narco Nanini rouba o filme. Avô Noel é o típico personagem apaixonante. Engraçado quando é para ser, sério quando precisa, forte e sonhador. Fala com o neto de igual para igual e ilumina a tela quando aparece. Dan Stulbach também está bem como o pai machista que não deixa a mulher sair de casa. Assim como Elke Maravilha está ótima como a avó. Apesar de uma personagem sem pé nem cabeça, Maria Flor também está bem. Até Jayme Matarazzo consegue defender bem o Paulo adulto. Já Mariana Lima destoa do resto do elenco, fazendo a mãe do protagonista de forma muito caricata.
Parece que Jabor resolveu retornar ao cinema para tentar seu Amarcord, mas, ao contrário de Fellini, o diretor não conseguiu traduzir suas lembranças em um filme palpável para todos os olhos, principalmente pelo roteiro, que ele mesmo assina e inclui diálogos artificiais, personagens rasos e uma costura capenga que compromete boa parte da fruição. Uma pena, pelo elenco que tinha nas mãos e o trabalho de produção poderia ser uma obra-prima do nosso cinema. Fica uma obra mediana, importante apenas pela volta do diretor à ativa. Como diz os versos de Drummond na abertura do filme: "As coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão".
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Suprema Felicidade ?
2010-10-28T08:20:00-03:00
Amanda Aouad
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