Tropa de Elite 2
José Padilha é um cara corajoso. Com uma linguagem popular e estilo de thriller, ele fez um dos filmes denúncia mais comentados dos últimos tempos. Não foi à toa que Tropa de Elite se tornou mania nacional e hit dos piratas. O filme foi ameaçado de censura, vazou para o mercado paralelo em uma versão não finalizada, conseguiu chegar aos cinemas, ganhou Urso de Ouro em Berlim e consagrou o diretor e o ator Wagner Moura. A denúncia foi deturpada e Nascimento virou herói nacional para alguns e símbolo de fascismo para outros. Agora, ele volta, não mais como Capitão. É Coronel Nascimento, o homem por trás do BOPE que tenta combater o crime como se estivesse em uma verdadeira guerra. A crítica detonou o primeiro por essa postura extremista. Nos filmes americanos ver soldado matando e torturando inimigo parece bonito, nas favelas do Rio de Janeiro fica uma realidade incômoda. Padilha, então, colocou tudo isso em seu segundo filme. Um personagem defensor dos direitos humanos, Nascimento explicitando que o consideram fascista, o povo do Rio de Janeiro aplaudindo seu herói. Tudo isso para nos mostrar que a denúncia do primeiro filme era apenas a ponta do iceberg.
Tropa de Elite 2 tem o subtítulo "o inimigo agora é outro". Todas as sinopses apontam esse inimigo para as milícias, grupo formado por policiais corruptos, políticos e bandidos para manipular a população das favelas. Ao ver o filme, percebemos a profundidade do retrato denunciado por Padilha. E é melhor eu não contar muito, pois não é apenas o final do filme que merece surpreender o espectador. Todo brasileiro precisa ver e refletir sobre essa história. É um fato. Pena que ele chegou com uma semana de atraso. Talvez se estreasse antes das eleições poderia fazer as pessoas pensarem melhor antes de eleger Tiririca e determinados deputados.
Como falei, Nascimento agora é Coronel do Bope, tendo Mathias como Capitão. Após uma investida no presídio de Bangu 1, muita coisa muda em suas vidas e Nascimento acaba virando Sub-Secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Aquele homem de guerra demonstra-se, então, um pouco ingênuo, achando que pode resolver todos os problemas da mesma forma de sempre. Acontece que o buraco é mais embaixo. O homem de poucas palavras vai descobrir que o esquema de corrupção que se retroalimenta no nosso país é muito mais difícil de ser combatido do que um grupo de traficantes. Todo o filme se desenrola destrinchando esse esquema, mostrando os três lados da situação e nos dando uma sensação de desânimo e mãos atadas. Faz me lembrar a pergunta de Renato Russo "Que país é esse?"
Do primeiro filme, além de Nascimento e Mathias, temos Rosane (ex-mulher de Nascimento), Fábio (o famoso soldado 02 que pediu pra sair) e o Russo. Os dois últimos com maior destaque dessa vez, devido ao estilo corrupto. Das novidades, a melhor é Fraga, um professor de história, defensor dos direitos humanos, vivido pelo ótimo Irandhir Santos. Tem também o garoto Pedro Van-Held, que faz o filho de Nascimento e uma jornalista destemida vivida por Tainá Muller. André Mattos é outro destaque como Fortunato, um enfático apresentador de programa popular. A platéia baiana reconheceu o estilo nos vários programas de meio-dia que temos por aqui. No cenário nacional, o mais próximo seria Datena. Ah, destaque também para micro participação de Seo Jorge como o detento de Bangu 1. Sem exagero, todas as atuações são empolgantes.
O roteiro de Padilha com Bráulio Mantovani não poderia ser mais feliz. A narração over, característica do primeiro filme, está de volta ainda mais envolvente e bem escrita. Há realismo nas falas, independente da quantidade de palavrões. A história flui de forma harmônica. A direção é ágil, com muita câmera na mão, em um estilo documental, mas também com boas tomadas aéreas e cenas mais clássicas. Agora, a montagem é que continua sendo o destaque para mim. Sou fã de Daniel Rezende por toda inovação que ele fez em Cidade de Deus, pela reconstrução do primeiro Tropa de Elite na sala de edição onde Nascimento virou protagonista, quando no roteiro original era Mathias e pela manutenção do estilo nessa continuação. O filme tem ritmo, cadência. Envolve a todos. O único porém é que tanta agitação dá pouco tempo para pensar. E este é um filme que tem muito o que pensar.
Tropa de Elite 2 é um filme obrigatório para todo brasileiro. Não vá pelas aparências pensando que é apenas o tiroteio e os palavrões que sustentam o filme. Nem acredite no "herói" Nascimento. Muito menos siga cegamente as palavras do professor Fraga. Padilha expõe todas as visões para que cada um perceba o cenário e tire suas conclusões de que papel desempenha nesse sistema. Sem escolher lados. Buda já dizia que o segredo é o caminho do meio.
E, por favor, não contem o final do filme.
Tropa de Elite 2 tem o subtítulo "o inimigo agora é outro". Todas as sinopses apontam esse inimigo para as milícias, grupo formado por policiais corruptos, políticos e bandidos para manipular a população das favelas. Ao ver o filme, percebemos a profundidade do retrato denunciado por Padilha. E é melhor eu não contar muito, pois não é apenas o final do filme que merece surpreender o espectador. Todo brasileiro precisa ver e refletir sobre essa história. É um fato. Pena que ele chegou com uma semana de atraso. Talvez se estreasse antes das eleições poderia fazer as pessoas pensarem melhor antes de eleger Tiririca e determinados deputados.
Como falei, Nascimento agora é Coronel do Bope, tendo Mathias como Capitão. Após uma investida no presídio de Bangu 1, muita coisa muda em suas vidas e Nascimento acaba virando Sub-Secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Aquele homem de guerra demonstra-se, então, um pouco ingênuo, achando que pode resolver todos os problemas da mesma forma de sempre. Acontece que o buraco é mais embaixo. O homem de poucas palavras vai descobrir que o esquema de corrupção que se retroalimenta no nosso país é muito mais difícil de ser combatido do que um grupo de traficantes. Todo o filme se desenrola destrinchando esse esquema, mostrando os três lados da situação e nos dando uma sensação de desânimo e mãos atadas. Faz me lembrar a pergunta de Renato Russo "Que país é esse?"
Do primeiro filme, além de Nascimento e Mathias, temos Rosane (ex-mulher de Nascimento), Fábio (o famoso soldado 02 que pediu pra sair) e o Russo. Os dois últimos com maior destaque dessa vez, devido ao estilo corrupto. Das novidades, a melhor é Fraga, um professor de história, defensor dos direitos humanos, vivido pelo ótimo Irandhir Santos. Tem também o garoto Pedro Van-Held, que faz o filho de Nascimento e uma jornalista destemida vivida por Tainá Muller. André Mattos é outro destaque como Fortunato, um enfático apresentador de programa popular. A platéia baiana reconheceu o estilo nos vários programas de meio-dia que temos por aqui. No cenário nacional, o mais próximo seria Datena. Ah, destaque também para micro participação de Seo Jorge como o detento de Bangu 1. Sem exagero, todas as atuações são empolgantes.
O roteiro de Padilha com Bráulio Mantovani não poderia ser mais feliz. A narração over, característica do primeiro filme, está de volta ainda mais envolvente e bem escrita. Há realismo nas falas, independente da quantidade de palavrões. A história flui de forma harmônica. A direção é ágil, com muita câmera na mão, em um estilo documental, mas também com boas tomadas aéreas e cenas mais clássicas. Agora, a montagem é que continua sendo o destaque para mim. Sou fã de Daniel Rezende por toda inovação que ele fez em Cidade de Deus, pela reconstrução do primeiro Tropa de Elite na sala de edição onde Nascimento virou protagonista, quando no roteiro original era Mathias e pela manutenção do estilo nessa continuação. O filme tem ritmo, cadência. Envolve a todos. O único porém é que tanta agitação dá pouco tempo para pensar. E este é um filme que tem muito o que pensar.
Tropa de Elite 2 é um filme obrigatório para todo brasileiro. Não vá pelas aparências pensando que é apenas o tiroteio e os palavrões que sustentam o filme. Nem acredite no "herói" Nascimento. Muito menos siga cegamente as palavras do professor Fraga. Padilha expõe todas as visões para que cada um perceba o cenário e tire suas conclusões de que papel desempenha nesse sistema. Sem escolher lados. Buda já dizia que o segredo é o caminho do meio.
E, por favor, não contem o final do filme.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Tropa de Elite 2
2010-10-09T11:58:00-03:00
Amanda Aouad
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