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As cartas psicografadas por Chico Xavier
As cartas psicografadas por Chico Xavier
O título do filme é enorme e já denuncia a falta de criatividade do longametragem de Cristiana Grumbach. Assistente e pesquisadora de vários filmes de Eduardo Coutinho, a diretora se preocupou tanto em respeitar a dor e crença daquelas mães que acabou fazendo um documentário frio. É um filme de ausência, sim, e o propósito de investigar a dor através dos depoimentos de mulheres que perderam seus filhos e encontraram um pouco de consolo nas cartas psicografadas por Chico Xavier está na tela e é interessante. Mas parece que falta algo. Ousar um pouco no formato não faria mal a ninguém, não seria um desrespeito. Acabou que a expectativa que demonstrei desde quando soube dessa produção, foi um pouco frustrada.
O filme começa com a tela preta e a voz da diretora lendo uma carta que vamos compreendendo aos poucos. São alguns minutos de tela escura e voz nos fazendo viajar naquela mensagem. Era promissor. Porém, quando o fade in nos revela a primeira mãe entrevistada, começamos a participar de um jogo com regras bem claras. Cristiana se aproxima aos poucos, não quer fazer muitas perguntas diretas, nem induzir a entrevistada. Sua voz é amiga, aprendeu bem com o mestre Coutinho. Ela também não pressiona lembranças tristes, nem apela, o que acho interessante. Mas, podia ter menos pudores ao investigar o tema principal: como as cartas modificaram a forma de lidar com o vazio deixado.
Quando, pela primeira vez, Cristiana ilustra essa ausência com uma cadeira vazia é interessante, a carta sendo lida com aquela imagem parada. Mas, quando isso se repete nos depoimentos seguintes começa a ficar chato. O mesmo devo dizer da carta sendo mostrada. A primeira é interessante, a partir da segunda vai ficando monótono. O recurso de entrevistar mãe e pai torna algumas conversas mais dinâmicas, mas seguir uma ordem de entrevistas pode ser um erro. Talvez, o filme fosse mais interessante com uma montagem paralela de todos os depoimentos, até para ter uma comparação. Fica tudo muito cartesiano da forma como se apresenta na tela.
Cristiana Grumbach, no entanto, acerta ao não se posicionar em relação ao fenômeno. Em um momento uma entrevistada até diz "eu sei que você não acredita, mas eu acredito". E ela pergunta: "por que você diz que eu não acredito?" Fica nisso. Não sabemos se a diretora acredita no fenômeno da psicografia, nem nos interessa. Não importa, nem mesmo se o espectador acredita. Ali, o que importa são as mães, seus filhos desencarnados e a forma como suas cartas lhe deram certo conforto. Essa é a força do documentário, as histórias. Temos depoimentos sinceros, sem máscaras nem receios. Pessoas abrindo seus corações para a câmera sobre um momento cruel. Ninguém merece perder um filho, diz uma das entrevistadas, é a pior das dores.
As cartas psicografadas por Chico Xavier pode não ser dos melhores filmes, mas é um belo registro de recuperação da fé. Pessoas que passaram pela mesma experiência podem ter um alento vendo aquelas mulheres falando. Até quando uma explicita a tentativa de suicídio interrompida por um grito estranho que foi confirmado em uma das cartas. As cartas lidas na íntegra são emocionantes e nos dão um vislumbre de que a morte deve mesmo ser apenas uma passagem para uma nova vida. Como disse uma das entrevistadas, uma vida muito melhor que esta.
O filme começa com a tela preta e a voz da diretora lendo uma carta que vamos compreendendo aos poucos. São alguns minutos de tela escura e voz nos fazendo viajar naquela mensagem. Era promissor. Porém, quando o fade in nos revela a primeira mãe entrevistada, começamos a participar de um jogo com regras bem claras. Cristiana se aproxima aos poucos, não quer fazer muitas perguntas diretas, nem induzir a entrevistada. Sua voz é amiga, aprendeu bem com o mestre Coutinho. Ela também não pressiona lembranças tristes, nem apela, o que acho interessante. Mas, podia ter menos pudores ao investigar o tema principal: como as cartas modificaram a forma de lidar com o vazio deixado.
Quando, pela primeira vez, Cristiana ilustra essa ausência com uma cadeira vazia é interessante, a carta sendo lida com aquela imagem parada. Mas, quando isso se repete nos depoimentos seguintes começa a ficar chato. O mesmo devo dizer da carta sendo mostrada. A primeira é interessante, a partir da segunda vai ficando monótono. O recurso de entrevistar mãe e pai torna algumas conversas mais dinâmicas, mas seguir uma ordem de entrevistas pode ser um erro. Talvez, o filme fosse mais interessante com uma montagem paralela de todos os depoimentos, até para ter uma comparação. Fica tudo muito cartesiano da forma como se apresenta na tela.
Cristiana Grumbach, no entanto, acerta ao não se posicionar em relação ao fenômeno. Em um momento uma entrevistada até diz "eu sei que você não acredita, mas eu acredito". E ela pergunta: "por que você diz que eu não acredito?" Fica nisso. Não sabemos se a diretora acredita no fenômeno da psicografia, nem nos interessa. Não importa, nem mesmo se o espectador acredita. Ali, o que importa são as mães, seus filhos desencarnados e a forma como suas cartas lhe deram certo conforto. Essa é a força do documentário, as histórias. Temos depoimentos sinceros, sem máscaras nem receios. Pessoas abrindo seus corações para a câmera sobre um momento cruel. Ninguém merece perder um filho, diz uma das entrevistadas, é a pior das dores.
As cartas psicografadas por Chico Xavier pode não ser dos melhores filmes, mas é um belo registro de recuperação da fé. Pessoas que passaram pela mesma experiência podem ter um alento vendo aquelas mulheres falando. Até quando uma explicita a tentativa de suicídio interrompida por um grito estranho que foi confirmado em uma das cartas. As cartas lidas na íntegra são emocionantes e nos dão um vislumbre de que a morte deve mesmo ser apenas uma passagem para uma nova vida. Como disse uma das entrevistadas, uma vida muito melhor que esta.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
As cartas psicografadas por Chico Xavier
2010-11-15T12:13:00-03:00
Amanda Aouad
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