Na verdade, essa história começou com a música Jesus Cristo SuperStar que foi lançada como um single na década de 70. Era um teste para ver se o questionamento de Judas iria agradar ou criar uma polêmica muito forte. Foi sucesso e logo montaram a peça na Broadway. Com diversas montagens em todo o mundo, foi a vez da história virar filme. Para trazer um certo realismo em pouco orçamento e figurantes, a ideia foi construir a história de uma trupe de jovens artistas que resolvem montar a peça no deserto em 1973. Essa visão trouxe uma certa liberdade para a adaptação que pode fazer shows pirotécnicos e até uma cena onde canhões perseguem Judas.
É um espetáculo interessante. Por mais que não se concorde com as atitudes do apóstolo, seu questionamento sobre o que se tornou Jesus é interessante. O mito maior que o homem, o homem maior que a mensagem. Para os autores, Judas não acreditava que Jesus fosse Deus, mas apenas um homem incrível que ele admirava. Porém, o plano parece ter saído do controle e ele precisava freá-lo, por isso o traiu. A letra da música que ele canta na abertura do filme é maravilhosa, assim como SuperStar.
Carl Anderson tem uma interpretação impressionante como Judas, segurando bem o questionamento e o peso da traição. Assim como Ted Neeley convence como Jesus, destacando a cena em que ele canta para Deus, pedindo para livrá-lo do fardo, se possível. Sendo o ator que faz Judas, negro, e o que faz Jesus, loiro, muitos acusaram o filme de racista, o que é uma bobagem. Primeiro porque a peça foi montada diversas vezes e Judas já foi negro, branco, amarelo e mulato. Segundo, porque ele é o protagonista do filme e não o vilão. Há uma inversão de conceitos aí.
Polêmicas à parte, é sempre interessante pensar nessa história e perceber o quanto o nosso mundo é regido por ela. Fiquem com os dois melhores momentos do filme, em minha humilde opinião.
Jesus Cristo SuperStar (Jesus Christ Superstar, 1973 / EUA)
Direção: Norman Jewison
Roteiro: Melvyn Bragg, Norman Jewison
Com: Ted Neeley, Carl Anderson, Yvonne Elliman
Duração: 108 min.