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5x favela, agora por nós mesmos

Cacá DieguesJá falei desse filme em vários momentos no blog esse ano, mas ainda não tinha apresentado a crítica. Na verdade, o que mais chamou a minha atenção nesse projeto foi a forma como ele foi realizado. Há 50 anos, um filme foi feito pela visão de cinco diretores da classe média tendo como tema as favelas do Rio de Janeiro. Era uma proposta interessante, mas sua autenticidade parecia comprometida pela inevitável visão de fora. Em 2010, um desses diretores, Cacá Diegues teve uma idéia: por que não deixar que os próprios moradores das comunidades contassem suas histórias? O projeto começou com oficinas técnicas ministradas à 229 jovens dos quais 84 foram escolhidos para integrar a equipe técnica do filme. O projeto abrangeu as comunidades de Cidade de Deus, Vidigal, Complexo da Maré, Parada de Lucas e várias comunidades ao longo da Linha Amarela.

5x favela, agora por nós mesmosSó por essa iniciativa inédita, o filme já vale uma menção. Mas, não foi apenas pelo cunho social que 5X favela, agora por nós mesmos, ganhou tantos prêmios pelos festivais que passou. As cinco histórias contadas são interessantes, bem produzidas, realistas e envolventes. Cada uma com média de 20 minutos dá uma dimensão sem preconceitos da realidade nas comunidades, diferente do que vemos em algumas obras que só ressaltam a violência e o tráfico. Claro que esses assuntos estão presentes, mas a forma como são mostrados possui menos estereótipos. É possível ver as pessoas passeando pelas ruas à noite, jogando dominó na esquina, recusando trabalhos relacionados ao tráfico de drogas e reforçando valores morais e sociais.

A técnica também não deixa nada a dever a nenhum filme nacional. Bem decupados com tomadas criativas, boas interpretações e cuidados com a direção de arte. A fotografia também é bem realizada, acompanhando as necessidades da história e se preocupando com os enquadramentos necessários para alguns efeitos, como no episódio "Acende a luz" quando a câmera se afasta para mostrar as luzes acendendo ou no episódio "Arroz com Feijão" que os closes ressaltam detalhes da emoção dos personagens. Isso, sem falar nesse episódio da criatividade do roteiro em solucionar o fato principal com aquele bilhetinho engraçado. Nenhuma novidade, mas tudo muito bem feito.

Fonte de RendaAs cinco histórias foram todas criadas nas oficinas de roteiro e contam tramas completamente diferentes. O tom de cada uma delas também é distinto. Em "Fonte de Renda", dirigido por Manaira Carneiro e Wagner Novais o personagem principal Maicon, tem que passar por situações difíceis para conseguir estudar na faculdade de direito. Com um tom realista mostra os problemas de dinheiro para o ônibus ou livros, que são sempre muito caros, e a tentação de servir como avião para colegas interessados em drogas, mas que não querem subir o morro.

Arroz com FeijãoO segundo curta, "Arroz com Feijão" de Rodrigo Felha e Cacau Amaral, traz um tom mais ingênuo, sonhador da visão da criança que quer dar um presente de aniversário a seu pai. O homem trabalhador só come feijão com arroz todos os dias. A jornada de Wesley e seu amigo Orelha para conseguir dinheiro para comprar um frango mistura comédia e drama na dose certa. O desfecho é o mais criativo dos cinco, com um toque genial.

Concerto para violino"Concerto para violino" de Luciano Vidigal é a trama com a realidade mais crua do tráfego de drogas e corrupção policial. Através da história de três amigos de infância que seguiram caminhos diferentes acompanhamos a dificuldade de fugir da tragédia em algumas partes do morro. Ela, estudante de violino, ele, traficante de drogas, e o outro, policial corrupto. Vidigal que é ator, professor e diretor carioca do Morro do Vidigal traz a visão mais determinista do filme.

Deixa VoarJá "Deixa Voar" de Cadu Barcelos é uma mistura de medo e sonho. Interessante demonstrar que os próprios moradores de uma comunidade têm medo de visitar a vizinha, mesmo não tendo envolvimento com o tráfico. Flávio tem que atravessar a favela rival para pegar uma pipa que soltou e foi parar em solo "inimigo". A tensão é aliviada pela metáfora das pipas sendo empinadas, uma diversão poética da adolescência e da relação de amizade entre dois colegas de escola.

Acende a luzO último episódio tende mais para comédia. "Acende a luz" de Luciana Bezerra conta uma trama tragicômica de um quase sequestro de um funcionário da rede elétrica na véspera de Natal. O rapaz precisava de uma peça para consertar o poste de uma região da favela, mas os moradores não o deixam sair para buscar o material por acreditar que ele irá abandonar o local sem luz. A ironia de prender um homem que honestamente queria ajudar, terminando o serviço, se une à denúncia de abandono dessas pessoas ao demonstrar que outro grupo já tinha ido embora sem resolver o problema e que o parceiro do rapaz preso não retorna para ajudá-lo. Um final debochado sobre uma realidade dura.

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