Desconhecido
Desde que estrelou a grata surpresa Busca Implacável, Liam Neeson se tornou uma espécie de herói maduro de filmes de ação. Até como coronel Smith de Esquadrão Classe A ele apareceu. Não vejo problema, apesar de preferir vê-lo em papéis dramáticos como em A Lista de Schindler. Agora, uma produção de seis países dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra, traz Neeson em mais um papel de ação, que abriu o Festival de Berlim, estreou em primeiro lugar nos Estados Unidos, mas não tem força para se tornar um marco do gênero. Digamos que seja puro entretenimento, com uma certa lógica.
Dr. Martin Harris chega a Berlim com sua esposa para um fórum de Biologia, quando sofre um acidente que o deixa em coma por quatro dias. Ao acordar, sua memória está confusa, mas consegue lembrar de seu nome. O problema é que logo descobre existir outro Dr. Martin Harris e que sua esposa não o reconhece. Dizer ou comentar qualquer coisa a mais da trama vai ser spoiler, por isso é difícil analisar o roteiro de Oliver Butcher e Stephen Cornwell. O interessante é que eles nos deixam em uma via dupla para não nos deixar descobrir, antes da hora, a verdade. Primeiro a apresentação do filme, onde efetivamente vemos Liam Neeson chegando com sua esposa, apresentando-se como Martin Harris etc, então, sua memória não está falhando, nem ele está louco. Ao mesmo tempo, como poderia tudo isso ser uma armação se também vimos na apresentação que tudo não passou de um acidente. Um acidente absurdo, diga-se de passagem, mas um acidente impossível de ser planejado.
Analisando por este prisma, o roteiro acaba sendo feliz ao nos conduzir em uma tensão, onde ficamos procurando os clichês e pistas característicos desse gênero para tentar desvendar o mistério. Por outro lado, esse caminho acaba sendo arriscado, porque, de tanto pensar, o espectador pode começar a questionar demais algumas explicações. Em vez de fazer um suspense, eles optam pela ação, muita ação, e em filmes de ação, é perigoso deixar o espectador pensar, pois sempre vão surgir incongruências, falhas, absurdos. A começar pela pergunta básica? Não tem Polícia, Embaixada ou Direitos Humanos em Berlim? A forma como Martin vai sendo pego é exagerada.
De qualquer forma, a ação é constante e bem realizada. Muitas cenas de carro, perseguição, tiros. A adrenalina fica em alta com tanto perigo iminente e real. Para quem gosta do estilo é um prato cheio e a solução encontrada é pertinente. Não chega a ser uma afronta a nossa inteligência. Aliás, tem muitas referências que poderia citar para definir o estilo do filme, mas seriam estas também spoilers que não valem a pena se você está disposto a encarar a sessão.
Além de Liam Neeson como o protagonista, o filme traz participações interessantes como Diane Kruger, de Bastardos Inglórios. Ela faz Gina, a taxista que se acidenta junto com Harris. E o grande ator Bruno Ganz, que encarnou Hitler em A Queda. Seu personagem é um ex-espião da Alemanha oriental e tem as melhores frases do filme, como o fato de dizer que os alemãos adoram esquecer seu passado recente, ou que o cigarro matou mais do que Stalin. Temos ainda Frank Langella em uma participação lamentável, são dele as piores frases do filme, que não vou dizer para não ser spoiler também.
No geral, Desconhecido é isso, um filme de ação bem produzido, que traz adrenalina e entretenimento sem agredir a paciência nem a inteligência do seu espectador. A solução é interessante e surpreende, mas não chega a ser inovadora, nem genial. Principalmente depois de tudo, quando podemos analisar e perceber as inúmeras referências que temos dela. Vale a pipoca.
Desconhecido: (Unknown : 2011 (Canadá, França, Japão, Reino Unido, EUA, Alemanha)
Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: Oliver Butcher e Stephen Cornwell
Com: Liam Neeson, Diane Kruger, January Jones, Aidan Quinn.
Duração: 103 min
Dr. Martin Harris chega a Berlim com sua esposa para um fórum de Biologia, quando sofre um acidente que o deixa em coma por quatro dias. Ao acordar, sua memória está confusa, mas consegue lembrar de seu nome. O problema é que logo descobre existir outro Dr. Martin Harris e que sua esposa não o reconhece. Dizer ou comentar qualquer coisa a mais da trama vai ser spoiler, por isso é difícil analisar o roteiro de Oliver Butcher e Stephen Cornwell. O interessante é que eles nos deixam em uma via dupla para não nos deixar descobrir, antes da hora, a verdade. Primeiro a apresentação do filme, onde efetivamente vemos Liam Neeson chegando com sua esposa, apresentando-se como Martin Harris etc, então, sua memória não está falhando, nem ele está louco. Ao mesmo tempo, como poderia tudo isso ser uma armação se também vimos na apresentação que tudo não passou de um acidente. Um acidente absurdo, diga-se de passagem, mas um acidente impossível de ser planejado.
Analisando por este prisma, o roteiro acaba sendo feliz ao nos conduzir em uma tensão, onde ficamos procurando os clichês e pistas característicos desse gênero para tentar desvendar o mistério. Por outro lado, esse caminho acaba sendo arriscado, porque, de tanto pensar, o espectador pode começar a questionar demais algumas explicações. Em vez de fazer um suspense, eles optam pela ação, muita ação, e em filmes de ação, é perigoso deixar o espectador pensar, pois sempre vão surgir incongruências, falhas, absurdos. A começar pela pergunta básica? Não tem Polícia, Embaixada ou Direitos Humanos em Berlim? A forma como Martin vai sendo pego é exagerada.
De qualquer forma, a ação é constante e bem realizada. Muitas cenas de carro, perseguição, tiros. A adrenalina fica em alta com tanto perigo iminente e real. Para quem gosta do estilo é um prato cheio e a solução encontrada é pertinente. Não chega a ser uma afronta a nossa inteligência. Aliás, tem muitas referências que poderia citar para definir o estilo do filme, mas seriam estas também spoilers que não valem a pena se você está disposto a encarar a sessão.
Além de Liam Neeson como o protagonista, o filme traz participações interessantes como Diane Kruger, de Bastardos Inglórios. Ela faz Gina, a taxista que se acidenta junto com Harris. E o grande ator Bruno Ganz, que encarnou Hitler em A Queda. Seu personagem é um ex-espião da Alemanha oriental e tem as melhores frases do filme, como o fato de dizer que os alemãos adoram esquecer seu passado recente, ou que o cigarro matou mais do que Stalin. Temos ainda Frank Langella em uma participação lamentável, são dele as piores frases do filme, que não vou dizer para não ser spoiler também.
No geral, Desconhecido é isso, um filme de ação bem produzido, que traz adrenalina e entretenimento sem agredir a paciência nem a inteligência do seu espectador. A solução é interessante e surpreende, mas não chega a ser inovadora, nem genial. Principalmente depois de tudo, quando podemos analisar e perceber as inúmeras referências que temos dela. Vale a pipoca.
Desconhecido: (Unknown : 2011 (Canadá, França, Japão, Reino Unido, EUA, Alemanha)
Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: Oliver Butcher e Stephen Cornwell
Com: Liam Neeson, Diane Kruger, January Jones, Aidan Quinn.
Duração: 103 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Desconhecido
2011-02-26T09:31:00-03:00
Amanda Aouad
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