Requiem para um sonho
O título já é uma poesia metafórica sobre o que se trata o filme. Réquiem vem do latim, requiem que significa repouso, sendo também a música encomendada para um morto ou uma missa fúnebre. Réquiem para um sonho. Todos temos sonhos, uns mais simples, outros mais complexos. Nesse filme, Darren Aronofsky baseia-se no livro de Hubert Selby Jr. para criar roteiro e direção incômodos sobre sonhos, vícios e formas de se perder no meio deles. É a forma menos didática e ao mesmo tempo mais eficiente para se ensinar os perigos das drogas que eu já vi. Sem querer dar lição de vida, Aronofsky simplesmente nos apresenta quatro personagens que vão em busca do seu sonho, mas acabam se perdendo em um pesadelo.
Sara é uma dona de casa comum, que adora televisão e só quer o bem de seu filho. Após o rapaz ficar viciado em drogas e sair de casa, ela recebe um telefonema em que possivelmente participaria do seu programa de TV preferido, na tentativa de estar bonita na tela, começa uma receita louca com pílulas para emagrecer. Harry, seu filho, quer ser rico e poder desfrutar de boas coisas, mas acaba perdido no vício do uso e tráfico das drogas. Seu amigo, Tyrone, que conhece os traficantes, o faz embarcar em um negócio que parece fácil, adulterar drogas para vender mais. O problema é que eles não apenas vendem, mas tamém consomem o produto, perdendo o rumo. E junto eles levam Marion, a namorada de Harry, que sonhava em ter sua própria grife de roupas.
A primeira cena de Requiem para um sonho já mostra o que será o filme. Harry em crise de abstinência briga com sua mãe Sara, querendo que ela lhe dê uma jóia guardada. Sara se tranca no quarto e Harry leva a televisão da mãe para ser vendida. Toda a sequência é de tirar o fôlego, a agressividade do rapaz, o desespero da mãe, a forma como a câmera de Darren Aronofsky mostra os dois, a música, a tensão. Nada é fácil naquela situação extrema. Os closes em Sara, os planos detalhes da jóia escondida, o desespero de Harry na sala, quebrando tudo, batendo na porta. Tudo com uma montagem ágil que dá um ritmo alucinante. Aliás, a montagem desse filme é um dos pontos que mais chama a atenção. Quase um videoclipe com mais de 2000 mil cortes de acordo com o adorocinema.
Darren Aronofsky brinca com as imagens para construir o drama de seus personagens. A forma como ele monta as cenas de utilização das drogas, seja Harry e sua turma, ou Sara com suas pílulas é genial. Esquemática e visual. Há um jogo interessante de imagens, por vezes, apenas ilustrativas, que dão a dimensão do esforço repetitivo. Outro momento bem realizado é quando Sara vai fazer sua primeira refeição de regime, antes das pílulas. Mostra o prato com três ingredientes, uma fruta, um ovo e uma xícara de café. Em vez de mostrá-la comendo, mostra o objeto inteiro, depois com um efeito, apenas a casca ou xícara vazia, em seguida a expressão de Sara frustrada. Isso nos dá a exata sensação de não saciamento. Outro recurso interessante é dividir a tela entre Harry e Marion na cama, aproximando-os e ao mesmo tempo separando-os em dois espaços.
As interpretações são ótimas, a começar por Ellen Burstyn que está incrível como Sara. À medida em que a história de Sara vai se complicando, a atriz vai nos surpreendendo com uma transformação impressionante. E olha que a vida dela já não começa fácil. Suas indicações ao Oscar e Globo de Ouro foram mais que merecidas e até hoje, muita gente não se conforma dela ter perdido para Julia Roberts. Jared Leto também está muito bem como Harry, papel no qual perdeu 20kg para interpretar. Sua entrega nos emociona em muitos momentos. Da mesma forma Jennifer Connelly consegue nos passar toda a angústia de Marion, e Marlon Wayans com Tyrone. O filme é sobre pessoas, suas perdas e seus vícios.
Requiem para um sonho é daqueles filmes que você ama ou odeia. Realista, utiliza de poesia para nos mostrar uma verdade incômoda e altamente destrutiva. A parte final é um primor de construção. Daquelas que fica na cabeça, nos azucrinando. Principalmente pela música de Clint Mansell que une aquelas histórias de uma forma emocionante. Daqueles filmes que merecem ser vistos e revistos. Apesar de não superar Cisne Negro e Fonte da Vida em minha preferência, é mais uma grande obra de Darren Aronofsky.
Este post é dedicado a Cristiano Contreiras que solicitou a análise no post de Fonte da Vida.
Requiem para um sonho: (Requiem for a Dream: 2000 / EUA)
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Darren Aronofsky
Com: Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans.
Duração: 102 min
Sara é uma dona de casa comum, que adora televisão e só quer o bem de seu filho. Após o rapaz ficar viciado em drogas e sair de casa, ela recebe um telefonema em que possivelmente participaria do seu programa de TV preferido, na tentativa de estar bonita na tela, começa uma receita louca com pílulas para emagrecer. Harry, seu filho, quer ser rico e poder desfrutar de boas coisas, mas acaba perdido no vício do uso e tráfico das drogas. Seu amigo, Tyrone, que conhece os traficantes, o faz embarcar em um negócio que parece fácil, adulterar drogas para vender mais. O problema é que eles não apenas vendem, mas tamém consomem o produto, perdendo o rumo. E junto eles levam Marion, a namorada de Harry, que sonhava em ter sua própria grife de roupas.
A primeira cena de Requiem para um sonho já mostra o que será o filme. Harry em crise de abstinência briga com sua mãe Sara, querendo que ela lhe dê uma jóia guardada. Sara se tranca no quarto e Harry leva a televisão da mãe para ser vendida. Toda a sequência é de tirar o fôlego, a agressividade do rapaz, o desespero da mãe, a forma como a câmera de Darren Aronofsky mostra os dois, a música, a tensão. Nada é fácil naquela situação extrema. Os closes em Sara, os planos detalhes da jóia escondida, o desespero de Harry na sala, quebrando tudo, batendo na porta. Tudo com uma montagem ágil que dá um ritmo alucinante. Aliás, a montagem desse filme é um dos pontos que mais chama a atenção. Quase um videoclipe com mais de 2000 mil cortes de acordo com o adorocinema.
Darren Aronofsky brinca com as imagens para construir o drama de seus personagens. A forma como ele monta as cenas de utilização das drogas, seja Harry e sua turma, ou Sara com suas pílulas é genial. Esquemática e visual. Há um jogo interessante de imagens, por vezes, apenas ilustrativas, que dão a dimensão do esforço repetitivo. Outro momento bem realizado é quando Sara vai fazer sua primeira refeição de regime, antes das pílulas. Mostra o prato com três ingredientes, uma fruta, um ovo e uma xícara de café. Em vez de mostrá-la comendo, mostra o objeto inteiro, depois com um efeito, apenas a casca ou xícara vazia, em seguida a expressão de Sara frustrada. Isso nos dá a exata sensação de não saciamento. Outro recurso interessante é dividir a tela entre Harry e Marion na cama, aproximando-os e ao mesmo tempo separando-os em dois espaços.
As interpretações são ótimas, a começar por Ellen Burstyn que está incrível como Sara. À medida em que a história de Sara vai se complicando, a atriz vai nos surpreendendo com uma transformação impressionante. E olha que a vida dela já não começa fácil. Suas indicações ao Oscar e Globo de Ouro foram mais que merecidas e até hoje, muita gente não se conforma dela ter perdido para Julia Roberts. Jared Leto também está muito bem como Harry, papel no qual perdeu 20kg para interpretar. Sua entrega nos emociona em muitos momentos. Da mesma forma Jennifer Connelly consegue nos passar toda a angústia de Marion, e Marlon Wayans com Tyrone. O filme é sobre pessoas, suas perdas e seus vícios.
Requiem para um sonho é daqueles filmes que você ama ou odeia. Realista, utiliza de poesia para nos mostrar uma verdade incômoda e altamente destrutiva. A parte final é um primor de construção. Daquelas que fica na cabeça, nos azucrinando. Principalmente pela música de Clint Mansell que une aquelas histórias de uma forma emocionante. Daqueles filmes que merecem ser vistos e revistos. Apesar de não superar Cisne Negro e Fonte da Vida em minha preferência, é mais uma grande obra de Darren Aronofsky.
Este post é dedicado a Cristiano Contreiras que solicitou a análise no post de Fonte da Vida.
Requiem para um sonho: (Requiem for a Dream: 2000 / EUA)
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Darren Aronofsky
Com: Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans.
Duração: 102 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Requiem para um sonho
2011-02-23T08:55:00-03:00
Amanda Aouad
critica|cult|drama|Ellen Burstyn|Jared Leto|Jennifer Connely|
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