Animais unidos jamais serão vencidos
Em 1949, o alemão Erich Kästner já alertava para os problemas do homem com o meio ambiente em uma sátira fábula infantil: "A Conferência dos Animais”. Nela, os bichos se reunem para exigir reparações da raça humana pelas mudanças maléficas no planeta. Reunindo a base dessa história com algumas pitadas de a “A Revolução dos Bichos” de George Orwell e várias animações conhecidas como A Era do Gelo, Madagascar, O Rei Leão e até enfezado o personagem da Warner Bros, Taz, Reinhard Klooss produziu a primeira animação infantil 3D da Europa. Como o "singelo" nome "Animais unidos jamais serão vencidos", o filme estreou ontem também na tecnologia 4k da Sony, o que ajuda um pouco na tela escura do 3D. Mas, mesmo com toda boa vontade, o filme cansa por soar repetitivo, didático e sem o frescor que as crianças estão acostumadas.
O filme começa mostrando alguns personagens em partes distintas do mundo sendo praticamente expulsos de seu habitat natural por alguma ação do homem. Um casal de tartarugas vê um acidente com um cargueiro de petróleo destruir o mar onde viviam. Um urso polar fêmea foge no Pólo Norte com o derretimento de suas geleiras por causa do aquecimento global. Um galo está prestes a se tornar jantar de um transatlântico, mas consegue fugir. E a junção mais esquisita, um canguru encontra um demônio da Tasmânia em pleno deserto, após um incêndio provocado por um motoqueiro. Com aqueles jeitinhos não explicados em roteiro, todos se reunem em um meio de transporte peculiar e vão parar em uma savana na África. Lá, outro grupo de animais está sofrendo com a falta de água, onde apenas um laguinho é dominado pelas manadas de rinocerontes e búfalos. Quando investigam o que está acontecendo, descobrem uma enorme represa barrando a circulação do rio que os abastecia.
Aliás, a cena em que vemos a barragem pela primeira vez é primorosa. Um vôo rasante pela savana, chega a dar vertigem com a profundidade obtida pelo 3D. Quando os animais chegam lá, os cenários também são grandiosos, a subjetiva do suricato Billy olhando para cima é genial. Em geral, temos boas cenas compostas pelo 3D, como o acordar da urso polar em meio às geleiras derretendo. A forma como o urso parece não entender nada, cai na água, sobe em um pedaço de gelo e olha o desmoronamento de longe, é belo e passa a emoção exata do que acontece no mundo. Uma das melhores cenas do filme.
Logo veremos que a tal represa é, na verdade, a construção de um resort "ecológico" que estará recebendo uma conferência para estudar os efeitos do aquecimento global. A ironia presente no roteiro é interessante, inteligente até. Mas, peca pelo maniqueísmo antiquado e caricaturas de determinados tipos. O caçador vilão sem coração que age como uma máquina assassina. O empresário frio e calculista que só pensa no lucro. O repórter quase robô e os membros da conferência quase idiotas. Só se salva a menininha, filha do dono do hotel, que veste a carapuça da verdadeira ecologista, mas sem tanta afetação. Genial mesmo é o macaco Simão, funcionário do hotel, nascido no zoológico e sem nenhum apelo à divisão de classes.
Na savana, além do atrapalhado Billy, chefe da família de suricatos que tem que provar ao filho seu valor, encontramos personagens semelhantes a alguns que já vimos por aí. Como o pacato leão Sócrates que vive filosofando, Giselle uma girafa medrosa que daria um belo par com Melman de Madagascar, e a simpática elefante Angie. Da turma que chega, o galo francês é o mais engraçado e um dos que pode explicar aos demais o que é um ser humano, já que isso não existia na savana. O canguru e o diabo da Tasmânia tem um vício estranho de um refrigerante específico com o qual estão sempre brincando. O casal de tartarugas é velho e sábio, são eles que protagonizam uma das cenas mais emocionantes do filme. E a urso polar pouco influencia na história, a não ser pelo fato inusitado de conseguir sobreviver em uma savana africana.
A animação é bem realizada e o 3D, apesar de não ser perfeito e não ter nada saltando em seus olhos, dá uma profundidade interessante e serve como passagem de cena em vários momentos. Outro ponto a ser destacado é a trilha sonora, ao contrário das animações conhecidas, aqui as canções não são dubladas, mesmo a cópia do filme o sendo. Isso faz ainda mais sentido, já que são todas músicas conhecidas em novas versões. Mas, isso também é um indício do principal público a ser atingido pelo filme: o adulto. Tanta mensagem ecológica, ironias em relação à raça humana e seu comportamento e a própria condução do roteiro podem afastar as crianças acostumadas a muita ação e cenas focadas no humor. Acaba sendo um filme de boa intenção, mas que frustra em seu conjunto. Simplesmente, cansa em determinado momento, principalmente por não trazer novidades. Uma pena. Ainda assim, algo curioso de ser conferido.
Animais Unidos Jamais Serão Vencidos: (Konferenz der Tiere : 2010 / Alemanha)
Direção: Reinhard Klooss, Holger Tappe
Roteiro: Oliver Huzly, Sven Sverin, Reinhard Klooss e Holger Tappe
Com: Jim Broadbent, Stephen Fry, Vanessa Redgrave, James Corden.
Duração: 93 min
O filme começa mostrando alguns personagens em partes distintas do mundo sendo praticamente expulsos de seu habitat natural por alguma ação do homem. Um casal de tartarugas vê um acidente com um cargueiro de petróleo destruir o mar onde viviam. Um urso polar fêmea foge no Pólo Norte com o derretimento de suas geleiras por causa do aquecimento global. Um galo está prestes a se tornar jantar de um transatlântico, mas consegue fugir. E a junção mais esquisita, um canguru encontra um demônio da Tasmânia em pleno deserto, após um incêndio provocado por um motoqueiro. Com aqueles jeitinhos não explicados em roteiro, todos se reunem em um meio de transporte peculiar e vão parar em uma savana na África. Lá, outro grupo de animais está sofrendo com a falta de água, onde apenas um laguinho é dominado pelas manadas de rinocerontes e búfalos. Quando investigam o que está acontecendo, descobrem uma enorme represa barrando a circulação do rio que os abastecia.
Aliás, a cena em que vemos a barragem pela primeira vez é primorosa. Um vôo rasante pela savana, chega a dar vertigem com a profundidade obtida pelo 3D. Quando os animais chegam lá, os cenários também são grandiosos, a subjetiva do suricato Billy olhando para cima é genial. Em geral, temos boas cenas compostas pelo 3D, como o acordar da urso polar em meio às geleiras derretendo. A forma como o urso parece não entender nada, cai na água, sobe em um pedaço de gelo e olha o desmoronamento de longe, é belo e passa a emoção exata do que acontece no mundo. Uma das melhores cenas do filme.
Logo veremos que a tal represa é, na verdade, a construção de um resort "ecológico" que estará recebendo uma conferência para estudar os efeitos do aquecimento global. A ironia presente no roteiro é interessante, inteligente até. Mas, peca pelo maniqueísmo antiquado e caricaturas de determinados tipos. O caçador vilão sem coração que age como uma máquina assassina. O empresário frio e calculista que só pensa no lucro. O repórter quase robô e os membros da conferência quase idiotas. Só se salva a menininha, filha do dono do hotel, que veste a carapuça da verdadeira ecologista, mas sem tanta afetação. Genial mesmo é o macaco Simão, funcionário do hotel, nascido no zoológico e sem nenhum apelo à divisão de classes.
Na savana, além do atrapalhado Billy, chefe da família de suricatos que tem que provar ao filho seu valor, encontramos personagens semelhantes a alguns que já vimos por aí. Como o pacato leão Sócrates que vive filosofando, Giselle uma girafa medrosa que daria um belo par com Melman de Madagascar, e a simpática elefante Angie. Da turma que chega, o galo francês é o mais engraçado e um dos que pode explicar aos demais o que é um ser humano, já que isso não existia na savana. O canguru e o diabo da Tasmânia tem um vício estranho de um refrigerante específico com o qual estão sempre brincando. O casal de tartarugas é velho e sábio, são eles que protagonizam uma das cenas mais emocionantes do filme. E a urso polar pouco influencia na história, a não ser pelo fato inusitado de conseguir sobreviver em uma savana africana.
A animação é bem realizada e o 3D, apesar de não ser perfeito e não ter nada saltando em seus olhos, dá uma profundidade interessante e serve como passagem de cena em vários momentos. Outro ponto a ser destacado é a trilha sonora, ao contrário das animações conhecidas, aqui as canções não são dubladas, mesmo a cópia do filme o sendo. Isso faz ainda mais sentido, já que são todas músicas conhecidas em novas versões. Mas, isso também é um indício do principal público a ser atingido pelo filme: o adulto. Tanta mensagem ecológica, ironias em relação à raça humana e seu comportamento e a própria condução do roteiro podem afastar as crianças acostumadas a muita ação e cenas focadas no humor. Acaba sendo um filme de boa intenção, mas que frustra em seu conjunto. Simplesmente, cansa em determinado momento, principalmente por não trazer novidades. Uma pena. Ainda assim, algo curioso de ser conferido.
Animais Unidos Jamais Serão Vencidos: (Konferenz der Tiere : 2010 / Alemanha)
Direção: Reinhard Klooss, Holger Tappe
Roteiro: Oliver Huzly, Sven Sverin, Reinhard Klooss e Holger Tappe
Com: Jim Broadbent, Stephen Fry, Vanessa Redgrave, James Corden.
Duração: 93 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Animais unidos jamais serão vencidos
2011-03-19T09:36:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|critica|infantil|
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