Jogo de Poder
Em 2003, uma agente da CIA teve sua identidade revelada pelo Governo Norte-Americano que queria desacreditar as investidas de seu marido, o ex-diplomata Joseph Wilson, que insistia em afirmar que o Iraque não estava construindo bombas de destruição em massa. O escândalo não chegou com tanta força no resto do mundo, mas foi uma reviravolta na terra do tio Sam e agora ele é contado em detalhes no novo filme de Doug Liman. Não é complicado de acompanhar a história, mesmo para quem é leigo no assunto, já que tudo está de certa forma explicada, passando-se quase como uma ficção. Mas, com certeza, o impacto nos Estados Unidos é bem maior.
A história conta os bastidores da CIA entre 2001 e 2003 tendo como pano de fundo a Guerra do Iraque e como linha condutora o casal Joseph Wilson, vivido por Sean Penn, e Valerie Plame, interpretada por Naomi Watts. Ela, uma agente secreta de alto escalão, que comandava diversas missões, e ele, um diplomata inconformado com o jogo de interesses e mentiras do presidente Bush e sua equipe para justificar a guerra. Quando ele resolve denunciar o que sabe, sua esposa acaba pagando um alto preço.
Pela primeira vez, Hollywood fala tão abertamente das inúmeras bobagens que George Bush fez desde o 11 de setembro, inventando uma guerra com o Iraque em busca de armas nucleares que nunca apareceram. O roteiro de Jez Butterworth e John Henry Butterworth é bastante feliz ao construir o passo a passo das investigações da CIA, os relatórios dos diplomatas diversos, a família iraquiana que serve de fonte, as discussões dentro da unidade de inteligência. Sempre intercalando com os discursos de Bush para televisões e reuniões da ONU. Uma forma de demonstrar o que o mundo inteiro já sabia, que a guerra do Iraque não passou de manipulação barata daquele governo.
A história da agente também nos envolve. Conhecemos toda a sua dedicação, força de vontade, lealdade e a foma como ela é derrubada por aqueles que pretendia proteger dói no espectador. Somos manipulados direitinho para acreditar que Valerie Plame é uma verdadeira heroína e que seu esposo é uma das pessoas mais dignas que já conhecemos. Quando falo que somos manipulados não quero com isso dizer que os dois não sejam merecedores de admiração, mas apenas que há uma parcialidade no roteiro que faz deles os únicos incorruptíveis, e não passíveis de falhas.
É bom ver Sean Penn e Naomi Watts juntos novamente. A química dos dois atores nos convence de sua cumplicidade e torna mais fácil algumas cenas. O drama que os personagens vivem, a forma como suas vidas são reviradas e a relação abalada são defendidas de forma coerente com duas boas interpretações. Enganam-se aqueles que pensam que seja um filme de ação. Há muito mais de jogo psicológico, drama e discussões políticas.
Jogo de Poder é daqueles filmes sem máscaras, que nos envolve em uma história mesmo que não a conheçamos tão profundamente quanto o povo norte-americano. A imersão é tão profunda que presenciei pela primeira vez no cinema uma cena interessante. Como de costume, mal dá o sinal de fim da narrativa e os funcionários do cinema já se apressam a expulsar o público da sala, abrindo a porta e acendendo as luzes. Acontece que Jogo de Poder tem seu momento chave nos créditos do filme. Sim, repito: o momento-chave do filme que ficamos esperando durante todo o terceiro ato está nos créditos. Então, ficamos todos com as portas abertas, as luzes acesas, sentados em silêncio assistindo àquelas cenas. Lamentável que a experiência cinematográfica esteja cada vez pior.
Jogo de Poder: (Fair Game: 2010 / Emirados Árabes, EUA)
Direção:Doug Liman
Roteiro: Jez Butterworth e John Henry Butterworth
Com: Naomi Watts, Sean Penn, Ty Burrell, Sam Shepard.
Duração: 104 min
A história conta os bastidores da CIA entre 2001 e 2003 tendo como pano de fundo a Guerra do Iraque e como linha condutora o casal Joseph Wilson, vivido por Sean Penn, e Valerie Plame, interpretada por Naomi Watts. Ela, uma agente secreta de alto escalão, que comandava diversas missões, e ele, um diplomata inconformado com o jogo de interesses e mentiras do presidente Bush e sua equipe para justificar a guerra. Quando ele resolve denunciar o que sabe, sua esposa acaba pagando um alto preço.
Pela primeira vez, Hollywood fala tão abertamente das inúmeras bobagens que George Bush fez desde o 11 de setembro, inventando uma guerra com o Iraque em busca de armas nucleares que nunca apareceram. O roteiro de Jez Butterworth e John Henry Butterworth é bastante feliz ao construir o passo a passo das investigações da CIA, os relatórios dos diplomatas diversos, a família iraquiana que serve de fonte, as discussões dentro da unidade de inteligência. Sempre intercalando com os discursos de Bush para televisões e reuniões da ONU. Uma forma de demonstrar o que o mundo inteiro já sabia, que a guerra do Iraque não passou de manipulação barata daquele governo.
A história da agente também nos envolve. Conhecemos toda a sua dedicação, força de vontade, lealdade e a foma como ela é derrubada por aqueles que pretendia proteger dói no espectador. Somos manipulados direitinho para acreditar que Valerie Plame é uma verdadeira heroína e que seu esposo é uma das pessoas mais dignas que já conhecemos. Quando falo que somos manipulados não quero com isso dizer que os dois não sejam merecedores de admiração, mas apenas que há uma parcialidade no roteiro que faz deles os únicos incorruptíveis, e não passíveis de falhas.
É bom ver Sean Penn e Naomi Watts juntos novamente. A química dos dois atores nos convence de sua cumplicidade e torna mais fácil algumas cenas. O drama que os personagens vivem, a forma como suas vidas são reviradas e a relação abalada são defendidas de forma coerente com duas boas interpretações. Enganam-se aqueles que pensam que seja um filme de ação. Há muito mais de jogo psicológico, drama e discussões políticas.
Jogo de Poder é daqueles filmes sem máscaras, que nos envolve em uma história mesmo que não a conheçamos tão profundamente quanto o povo norte-americano. A imersão é tão profunda que presenciei pela primeira vez no cinema uma cena interessante. Como de costume, mal dá o sinal de fim da narrativa e os funcionários do cinema já se apressam a expulsar o público da sala, abrindo a porta e acendendo as luzes. Acontece que Jogo de Poder tem seu momento chave nos créditos do filme. Sim, repito: o momento-chave do filme que ficamos esperando durante todo o terceiro ato está nos créditos. Então, ficamos todos com as portas abertas, as luzes acesas, sentados em silêncio assistindo àquelas cenas. Lamentável que a experiência cinematográfica esteja cada vez pior.
Jogo de Poder: (Fair Game: 2010 / Emirados Árabes, EUA)
Direção:Doug Liman
Roteiro: Jez Butterworth e John Henry Butterworth
Com: Naomi Watts, Sean Penn, Ty Burrell, Sam Shepard.
Duração: 104 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Jogo de Poder
2011-03-10T08:17:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|Naomi Watts|Sean Penn|
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