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Pré-estreia de As Mães de Chico Xavier com entrevistas

As Mães de Chico XavierSexta-feira, Salvador recebeu a equipe do filme As Mães de Chico Xavier para a pré-estreia. Foram duas salas no Multiplex Iguatemi, contando inclusive com a presença do cineasta baiano e diretor do IRDEB Pola Ribeiro. Além da representante da Paris Filmes, estavam no evento o produtor Luis Eduardo Girão, o diretor Glauber Filho e as atrizes Via Negromonte e Neuza Borges. A alegria por estarem na Bahia, estreando o filme era visível nos discursos acalorados de antes da sessão. Glauber Filho brincou que não era filho de Glauber Rocha, mas tinha sangue baiano, enquanto Neuza Borges disse que se sentia mais baiana que muita gente nascida aqui. Além disso, a atriz declarou que fazer aquele filme foi o melhor presente de sua vida. Ela, que é espírita e conheceu pessoalmente Chico Xavier, se emocionou ao vivenciar aquela história. Infelizmente não pude entrevistá-la, já que o tempo foi curto e a sessão já começou com um pequeno atraso. Mas, pude conversar um pouco com o diretor e a atriz Via Negromonte. Confiram abaixo como foi o bate-papo.

Fotos por João Veríssimo/Ag. SaladaCultural.

Entrevista com o diretor Glauber Filho

CinePipocaCult - Seu segundo filme, também espírita. Você quer trabalhar essa temática como uma marca? Como é isso?
As Mães de Chico XavierGlauber Filho - Na verdade, é assim. É uma lógica de produção completamente diferente do que é comum no cinema nacional. Eu já trabalhava com cinema, fazia curtas, trabalhava com audiovisual em publicidade e fui convidado pela Estação da Luz para desenvolver o primeiro projeto. Aí surgiu o Bezerra de Menezes. Foi uma experiência interessante, porque você tinha que negociar diretamente com o produtor, como na lógica do cinema americano. E a gente partiu para fazer o Bezerra de Menezes como um documentário, algo pequeno que iria apenas para DVD, documentário clássico. No meio do caminho, depois de montada toda a produção, a gente exibiu, houve uma pesquisa e viu-se que as pessoas queriam um filme de ficção. Então, os produtores resolveram modificar o documentário para ficção, e ainda continuou sendo documentário. Quando terminou Bezerra, eu disse “olha, não sei ainda o que temos na mão, vamos ver o que é que vai dar, se existe um mercado para isso”. E o Bezerra mostrou que existia, abriu uma porta muito interessante pro cinema brasileiro. Aí veio o segundo convite natural para um trabalho com a Estação da Luz. Isso veio logo depois do Bezerra, coincidindo com as duas produções do Chico que é Nosso Lar e As Vidas de Chico Xavier. (a.k.a. Chico Xavier)

C.P.C. - Mas, te incomoda ser reconhecido como o diretor de filmes espíritas? Ou você acha que é um caminho?
G.F.- Eu acho que é uma lógica de produção de cinema. Eu me identifico, não faria um filme se eu não me identificasse. Me identifico com a temática, mas óbvio que tenho outros projetos que não tem a ver com a temática espírita, vou tentar fazer, desenvolver, mas a lógica industrial que está acontecendo me interessa. Gosto de estar no meio disso tudo.

C.P.C. - Você é espírita?
G.F. - Não sei responder. (risos). Eu não tenho disciplina para ter religião, às vezes acordo descrente, às vezes acordo budista, mas o que está na doutrina espírita não me é estranho. Tem muita coisa na doutrina espírita que eu já exercitava. E pesquisando mais, acho que tem muita coisa interessante, e tento colocar na minha prática cotidiana.

C.P.C. - Bezerra de Menezes deu o start nesse, digamos, “gênero”, mas com o centenário de Chico Xavier houve uma espécie de ciclo que começou com o filme de Daniel Filho e está terminando com o seu. Está até sendo anunciado assim. E coincidentemente abre e fecha com o “Chico Nelson Xavier”. Como foi isso, você pensou primeiro no Nelson?
As Mães de Chico XavierG.F. - Logo após o Bezerra, a gente queria fazer algo sobre o Chico Xavier. A Estação inclusive procurou alguns livros para fazer adaptação porque sabíamos do centenário. Aí a gente viu que tinha o filme do Daniel e o filme Nosso Lar. Então, tínhamos que procurar algo que falasse do Chico, mas que não se repetisse. Surgiu, então, a idéia de fazer um filme sobre as cartas psicografadas e as mães de Chico Xavier. As protagonistas aqui são as mães. Chico Xavier acaba sendo um personagem importante, mas secundário. E o Nelson... É engraçado, porque mesmo antes dele ter feito o filme de Daniel Filho, eu tinha a sensação dele já ter feito o Chico na televisão. Conversando com a Via (Negromonte) ela me consertou dizendo que o Nelson nunca tinha feito. Aí lembrei que foi o Gracindo (Jr.) que tinha interpretado. Mas, eu tinha essa sensação de que o ator para interpretar o Chico era o Nelson.

C.P.C. - Antes mesmo de você saber que era o protagonista do filme de Daniel Filho?
G.F. - Isso. O próprio Nelson disse que já pararam ele na rua, antes dos filmes, e disseram “olha você interpretou muito bem o Chico Xavier”. Então, não sei de onde vem isso. Agora, é óbvio que quando a gente escolheu o Nelson, e ele ficou reticente também, houve um questionamento. Será que é legal repetir o personagem? Mas, a gente resolveu desencanar com isso. O Nelson é um excelente ator, faz um Chico Xavier maravilhoso e se a gente fosse perder o Nelson por isso, a gente só ia prejudicar o filme. Então, era o Nelson. Graças a Deus ele aceitou. E só aceitou porque era outra época, o personagem já estava em uma idade mais avançada, com um papel secundário, então, seria diferente.

As Mães de Chico XavierC.P.C. - Teve também o documentário, As cartas de Chico Xavier, lançado em dezembro. E é uma abordagem parecida, só que em duas linguagens. Vocês tiveram algum contato, troca de experiências?
G.F. - Coincidiram três coisas pra idéia das mães. No processo do Bezerra, eu conheci uma mãe, a Célia Diniz. Ela é de Pedro Leopoldo e ajudou muito na divulgação do filme. Me surpreendeu muito a história dela, ela perde uma criança de cinco anos de idade. Então, nesse processo de não saber o que fazer, eu conversei com o pessoal, olha tem essa história da Célia. E aí surgiu o documentário da Cristiana (Grumbach) das cartas e isso me alertou para possibilidade de ter outras mães. Um olhar ficcionalizado para aquilo também. E os produtores haviam lido o livro do Marcelo Souto Maior, “Por trás do Véu de Íris”. Então, tudo se encaixou.

C.P.C. - Por falar no jornalista. Caio Blat está em Bezerra em uma participação bem pequena, e volta agora com um personagem maior. É uma espécie de coringa seu?
G.F. - Eu tinha uma dívida com Caio Blat, porque essa lógica de fazer filme com produtores tem alguns processos que temos que administrar. Acho ótimo, estou tendo uma experiência, grande. Mas, a gente já estava filmando quando os produtores convidaram o Caio Blat pra fazer o Bezerra. E o Caio Blat tinha um problema de agenda, só podia filmar em um dia. Então, para atender a um pedido dos produtores a gente encaixou o Caio Blat, tentamos esconder o Caio Blat de todos os jeitos e não dá porque é o Caio Blat, o marketing colocou e eu fiquei com aquela coisa, como uma dívida, eu, não o Caio que não me cobrou nada, mas com a oportunidade de fazer o roteiro junto com Emanuel Nogueira pude lhe dar esse personagem maravilhoso.

As Mães de Chico XavierC.P.C. - Você identificaria esse filme como? Espírita? Doutrinário? É para todos os gostos?
G.F. - É para todos os gostos. Eu e o Emanuel tentamos levar a história mais para o lado do drama , é lógico que o discurso da doutrina está lá porque é o discurso do próprio Chico, mas não tem a palavra Espiritismo. Tem algumas questões que são valores que estão lá dentro dessa espiritualidade, a questão do aborto mesmo. Então, isso está presente. Agora doutrinário não. Se As Mães de Chico Xavier for doutrinário é tanto quanto Além da Vida de Clint Eastwood é. Não tem essa intenção, não tem um discurso “sai daqui e seja espírita”. Tem um cunho mais ecumênico que era como Chico Xavier se comportava na casa da prece.


Entrevista com Via Negromonte

CinePipocaCult - Fale um pouco do seu personagem Ruth e da construção dele.
As Mães de Chico XavierVia Negromonte - A Ruth é uma mulher que se expressa pouco verbalmente. Ela sente a vida, sente a perda, não é muito de partilhar o sentimento dela. E com isso ela vira uma bomba atômica, nessa incapacidade de partilhar a própria dor. Foi uma construção difícil. Primeiro que quando você está baseado em fatos reais, tem um compromisso maior. Ainda que seja uma ficção traz um comprometimento da dosagem dessa dor. Para onde essa dor vai? Como ela se dissolve?

C.P.C. - Você chegou a conhecer a verdadeira Ruth?
V. N. - Conheci algumas mães. Não só essa, mas outras mães que perderam seus filhos. E o problema do núcleo familiar da Ruth é a questão das drogas que é um assunto muito delicado. As drogas desequilibram a família inteira, não desestrutura só o drogado. Aí a falência dos ideais, a falência da autonomia dos membros envolvidos, a falência dela então, como matriarca, faz com que você entre em uma decadência muito grande. Foi muito forte o processo.

C.P.C. - A Ruth é pintora, você já tinha tido alguma experiência com a pintura, teve que aprender a pintar?
V. N. - Olha, na verdade, a minha mãe é pintora, então, foi engraçado fazer de conta que era minha mãe. Minha mãe é mais paisagista, Ruth é uma pintora expressionista, mas a vida inteira eu vi minha mãe no cavalete, horas e horas, então havia um workshop natural, uma oficina. E foi curioso, foi muito bom trabalhar junto com o artista plástico, verdadeiro autor das obras que vemos no filme e, com ele, aprender técnicas de pincel.

As Mães de Chico XavierC.P.C. - Um filme de Chico Xavier gira em torno da temática espírita. Qual é a sua relação com a questão espiritual, você tem alguma religião?
V. N. - Eu sou uma pessoa que sempre fui espiritualizada. Eu não conseguiria ver o corpo sem uma mente, sem um espírito. Então quando as pessoas me perguntam você é espírita, eu adoro responder: eu tenho um espírito. E trabalhar dentro de um filme que aborda esse assunto foi muito interessante porque da trilogia que homenageia Chico Xavier nosso papel foi o de menos doutrina. Eu vejo “As Vidas de Chico” como um filme bem biográfico, “Nosso Lar” é a doutrina, enquanto o nosso é, na verdade, a prática. Que efeito exerce na vida das pessoas? Isso tira um pouco o peso do compromisso de pensar “será que estou fazendo de acordo com as regras da doutrina, não vou ofender alguém”. Eu vejo como uma história existencialista. Eu vejo como um drama. Um drama de natureza existencial.

C.P.C. - E trabalhar com Nelson Xavier, que foi seu marido por tanto tempo, como é?
V. N. - Ele é o melhor amigo que eu posso ter, desejar. Espero ser sempre a melhor amiga que ele já teve. Depois de vinte e três anos de casado, cada dia é uma surpresa nova pra nós dois. Eu sou empresária dele, a gente tem contato diário, temos uma filha juntos, mas a parte do trabalho é sempre mais fantástica porque é onde dois universos distintos se apresentam. O que eu tenho em mim como artista, e o que tem dele como artista. São universos que a gente está sempre enveredando com surpresas pra nós mesmos. É sempre um prazer ver o Nelson atuar porque ele me surpreende. Ele conseguiu desenhar duas vezes o mesmo personagem de forma muito distinta. Dentro da cronologia, que é um Chico bem mais velho e aproveitando esse ensejo nos apresentou uma outra abordagem muito diferente. Como se fossem dois ícones, dois personagens. É incrível, foi um prazer imenso.

As Mães de Chico XavierC.P.C. - Você além de atriz é cantora, e parece que encaminhou a sua carreira mais para o teatro, musicais inclusive. É o que você gosta mais de fazer?
V. N. - Não, eu adoro todos. Fiz pouco cinema, pouca novela. Gostaria de ter feito mais os dois e espero que faça muito mais agora. Fiz bastante teatro desde o tempo que morava fora, fiz Broadwad, morei doze anos fora do Brasil. E cheguei a uma maturidade tal que eu gosto de dirigir, já dirigi muitos espetáculos. Mas, eu gosto de todas as artes. Gosto delas igualmente. E nunca tive muito controle de onde estarei. Sempre deixei minha vida me levar.

C.P.C. - Mas, você já tem alguns projetos para agora? Algo em andamento?
V. N. - Tenho um convite que estou bem tentada a aceitar do Luis Rangel, cineasta, que quer fazer um drama, ficção terror. Terror desses de sangue e ossos, mas que é um drama existencialista fantasiado de terror, como aqui estamos falando dentro de uma doutrina. Fiquei curiosa, é uma proposta legal que estou pensando em fazer.

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