Sucker Punch - Mundo Surreal
Zack Snyder deixou sua marca como diretor de ótimas adaptações como 300, Watchmen e A Lenda dos Guardiões. A expectativa era grande, então, em relação a sua primeira obra original. Como as demais obras, Sucker Punch tem uma direção de arte incrível e uma trilha sonora arrebatadora. Mas, se você não gosta da linguagem de videoclipe, nem videogame, pode se incomodar um pouco com o que vemos aqui. É difícil até de classificar o filme em algum gênero específico, Zack Snyder brinca com vários, dando destaque a ação, fantasia e ficção científica. É daqueles filmes que particularmente encanta, mas não chega a superar a força de Watchmen.
Babydoll, vivida por Emily Browning, acaba de ficar orfã e é posta em um sanatório pelo padastro interessado na fortuna deixada por sua mãe. Para fugir daquela realidade dura e da expectativa de sofrer uma lobotomia, Babydoll encontra alento em uma fantasia. No seu mundo paralelo, em uma casa de show com regras estranhas, ela continua utilizando sua mente como fuga e tem que ultrapassar algumas etapas para conseguir sua liberdade. Para isso, conta com a ajuda de Blondie (Vanessa Hudgens), Rocket (Jena Malone), Amber (Jamie Chung) e Sweetpea (Abbie Cornish) suas colegas de internação. Ela precisa conseguir: mapa, fogo, faca e chave. Na etapa do mapa, o mundo é uma espécie de segunda guerra exótica, onde os alemães são zumbis inteligentes. Na etapa do fogo, vem o mundo medieval com direito a orcs e dragões. E na etapa da faca vem um mundo futurista, repleto de robôs. Isso, sem contar o start da missão que já tinha sido no Japão antigo.
É difícil explicar a história sem soltar alguns possíveis spoilers, mas é importante ressaltar que o filme não tem nada de surreal. É onírico, abusa das misturas fantasiosas de diversos mundos, mas segue uma lógica quase cartesiana em seu roteiro, a ponto de muita coisa ficar previsível. Um ponto que pode ser considerado cansativo é a repetição da estratégia da terceira camada de realidade. Toda vez que Babydoll vai dançar, ou seja, uma situação incômoda, ela foge para o mundo da fantasia. Essas fugas acabam se tornando etapas, fases da missão maior que é fugir, como se fosse realmente um videogame. Fica tudo muito esquematizado, então. A gente é quase avisado de que vai ser transportado em mais uma camada de fantasia.
A forma como a realidade quase não aparece, sendo apenas sugerida em alguns momentos é interessante, pois longe dos tons pastéis do sanatório, Zack Snyder pode brincar com as cores, texturas e tipos de efeitos diversos. Tudo isso ao ritmo da ótima trilha sonora. A cena inicial, uma espécie de prólogo, é muito bem orquestrada ao som de Sweet Dreams. Quer escolha mais perfeita? A letra da música é praticamente um resumo da trama da protagonista. A leitura do testamento, a revolta do padrasto, a briga com as irmãs, a tentativa de proteção e fuga, o resultado desastroso. A chuva para dar mais dramaticidade a cena, o jogo de câmera, a forma como nos envolve. O filme me conquistou por essa cena. Afinal, todo mundo procura por algo.
Agora, se o roteiro peca por repetir a fórmula, esquematizando a trajetória de Babydoll e suas amigas, ele é feliz ao tentar construir um universo que justifique aquilo. Mesmo não sendo louca, a garota passou por um trauma e tem uma ameaça real de lavagem cerebral. É natural a fuga da realidade, é natural fantasiar respostas e filosofar sobre o significado de nossas atitudes. A forma como é construída e apresentada a protagonista é, então, satisfatória. A maneira como Zack Snyder brinca com a nossa curiosidade em relação a tal dança também é interessante. Ele mostra as reações da platéia e deixa que nós imaginemos o que está acontecendo. E claro, logo somos transportados para a terceira camada do sonho, junto com Babydoll, deixando a dança como uma metáfora e uma pergunta, o que será que realmente acontecia na realidade?
Sempre usando a música, as cenas de ação são orquestradas quase como um videoclipe, ditando o ritmo da montagem. Nesse ponto, Zack Snyder abusa dos efeitos, giros de câmera e envolvimento. Aqui, tudo é permitido. E as atrizes entram no jogo de forma harmônica, sem destaques negativos ou positivos. O filme é uma grande viagem visual, com uma direção de arte muito bem feita e uma história coerente para justificá-la. Não é o fim do mundo, mas também não é a obra-prima do diretor. Espero que ele ainda nos brinde com muitas invenções repletas de arte e com reflexões profundas como Watchmen.
Sucker Punch - Mundo Surreal: (Sucker Punch: 2011 / EUA)
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Zack Snyder e Steve Shibuya
Com: Emily Browning, Vanessa Hudgens, Jena Malone, Carla Gugino.
Duração: 110 min
Babydoll, vivida por Emily Browning, acaba de ficar orfã e é posta em um sanatório pelo padastro interessado na fortuna deixada por sua mãe. Para fugir daquela realidade dura e da expectativa de sofrer uma lobotomia, Babydoll encontra alento em uma fantasia. No seu mundo paralelo, em uma casa de show com regras estranhas, ela continua utilizando sua mente como fuga e tem que ultrapassar algumas etapas para conseguir sua liberdade. Para isso, conta com a ajuda de Blondie (Vanessa Hudgens), Rocket (Jena Malone), Amber (Jamie Chung) e Sweetpea (Abbie Cornish) suas colegas de internação. Ela precisa conseguir: mapa, fogo, faca e chave. Na etapa do mapa, o mundo é uma espécie de segunda guerra exótica, onde os alemães são zumbis inteligentes. Na etapa do fogo, vem o mundo medieval com direito a orcs e dragões. E na etapa da faca vem um mundo futurista, repleto de robôs. Isso, sem contar o start da missão que já tinha sido no Japão antigo.
É difícil explicar a história sem soltar alguns possíveis spoilers, mas é importante ressaltar que o filme não tem nada de surreal. É onírico, abusa das misturas fantasiosas de diversos mundos, mas segue uma lógica quase cartesiana em seu roteiro, a ponto de muita coisa ficar previsível. Um ponto que pode ser considerado cansativo é a repetição da estratégia da terceira camada de realidade. Toda vez que Babydoll vai dançar, ou seja, uma situação incômoda, ela foge para o mundo da fantasia. Essas fugas acabam se tornando etapas, fases da missão maior que é fugir, como se fosse realmente um videogame. Fica tudo muito esquematizado, então. A gente é quase avisado de que vai ser transportado em mais uma camada de fantasia.
A forma como a realidade quase não aparece, sendo apenas sugerida em alguns momentos é interessante, pois longe dos tons pastéis do sanatório, Zack Snyder pode brincar com as cores, texturas e tipos de efeitos diversos. Tudo isso ao ritmo da ótima trilha sonora. A cena inicial, uma espécie de prólogo, é muito bem orquestrada ao som de Sweet Dreams. Quer escolha mais perfeita? A letra da música é praticamente um resumo da trama da protagonista. A leitura do testamento, a revolta do padrasto, a briga com as irmãs, a tentativa de proteção e fuga, o resultado desastroso. A chuva para dar mais dramaticidade a cena, o jogo de câmera, a forma como nos envolve. O filme me conquistou por essa cena. Afinal, todo mundo procura por algo.
Agora, se o roteiro peca por repetir a fórmula, esquematizando a trajetória de Babydoll e suas amigas, ele é feliz ao tentar construir um universo que justifique aquilo. Mesmo não sendo louca, a garota passou por um trauma e tem uma ameaça real de lavagem cerebral. É natural a fuga da realidade, é natural fantasiar respostas e filosofar sobre o significado de nossas atitudes. A forma como é construída e apresentada a protagonista é, então, satisfatória. A maneira como Zack Snyder brinca com a nossa curiosidade em relação a tal dança também é interessante. Ele mostra as reações da platéia e deixa que nós imaginemos o que está acontecendo. E claro, logo somos transportados para a terceira camada do sonho, junto com Babydoll, deixando a dança como uma metáfora e uma pergunta, o que será que realmente acontecia na realidade?
Sempre usando a música, as cenas de ação são orquestradas quase como um videoclipe, ditando o ritmo da montagem. Nesse ponto, Zack Snyder abusa dos efeitos, giros de câmera e envolvimento. Aqui, tudo é permitido. E as atrizes entram no jogo de forma harmônica, sem destaques negativos ou positivos. O filme é uma grande viagem visual, com uma direção de arte muito bem feita e uma história coerente para justificá-la. Não é o fim do mundo, mas também não é a obra-prima do diretor. Espero que ele ainda nos brinde com muitas invenções repletas de arte e com reflexões profundas como Watchmen.
Sucker Punch - Mundo Surreal: (Sucker Punch: 2011 / EUA)
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Zack Snyder e Steve Shibuya
Com: Emily Browning, Vanessa Hudgens, Jena Malone, Carla Gugino.
Duração: 110 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Sucker Punch - Mundo Surreal
2011-03-24T08:17:00-03:00
Amanda Aouad
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