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VIPs
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VIPs surge no início de 2011 como um daqueles filmes nacionais que tem todo o potencial para boas bilheterias, através de uma obra bem construída, com um roteiro bem funcional, uma montagem caprichada e atuações totalmente convincentes. Acredito que o plus de contar um fato verídico de nossa história recente ajuda, principalmente pelo episódio da Gol e a entrevista no programa Amaury Jr. que fez essa história ganhar proporções nacionais. Mas, este é apenas um ponto, já que o filme de Toniko Melo não se atém apenas a narrar a história do estelionatário Marcelo da Rocha, que sofre de pseudolalia, mentira compulsiva, a ponto de sua própria mãe ter declarado que nada que vem do filho pode ser considerado verdade.
Para o bem ou para o mal, VIPs constrói um filme em cima da história de Marcelo, adaptando livremente várias passagens de sua vida, inclusive um detalhe importante sobre sua origem e possível explicação para o comportamento do protagonista. Muita coisa veio do livro de Mariana Caltabiano, que está lançando também um documentário sobre o tema, mas, outras vem da capacidade criativa dos roteiristas, diretor e ator. O filme que vemos na tela é essa mistura de fatos e ficção que nos envolve e faz cativar pela personalidade Marcelo, seja ele Bizarro ou Henrique Constantino, passando por todos os seus heterônimos. Mas, claro, que todos eles baseados/ inspirados no homem real que enganou parte do país.
À primeira vista, o que nos parecia um Prenda-me se for capaz, se torna um emaranhado de referências, inclusive psicológicas, principalmente por uma composição específica que fica clara aos olhos atentos desde o primeiro frame de apresentação, mas que roteiristas e diretor insistem em construir de uma forma que parece surpreendente. É pouco sutil e logo conseguimos deduzir o que está por trás daquilo, sendo a cena final apenas a confirmação do óbvio. Talvez, esse seja, o único ponto negativo da obra, mas que não compromete o resultado final. Porque, independente de escolhas, valores ou construções, VIPs é um filme bem feito.
A cena inicial é bastante feliz, ao nos dar um vislumbre do episódio ReciFolia, para só, então, retornar ao início da história de Marcelo, quando este ainda era um adolescente de 17 anos. O caso Gol, como já disse, é o fato mais conhecido e o filme se tornaria uma expectativa desse momento, comprometendo as demais passagens. Então, vai uma dose para acalmar o público e retornar para mostrar como chegamos até ali. A primeira parte de Marcelo Bizarro, é mesmo bizarra. Wagner Moura não ficou bem como adolescente de cabelo emo e a sensação é de que aquele garoto que imita os colegas quase como espasmos involuntários e sonha com aviões é mesmo maluco, sem grande interesse.
Na parte em que trabalha em um aeroclube, Wagner Moura começa a dar consistência a esse Marcelo apaixonado por aviões, ansioso por se tornar piloto como o pai, para poder ser admirado. Um garoto, que agora se chama Denis, está a espera de uma oportunidade. Ela logo vem e ele não tem medo de encará-la. A euforia que o personagem transmite através do ator nos contagia e logo torcemos por ele como se fosse nosso amigo mais antigo. Desse ponto, passando por traficante paraguaio, até o clímax como Constantino, Marcelo nos envolve e diverte, fazendo-nos suspender a ética, torcendo, chorando e rindo com ele.
Aliás, a escolha pelo humor é outro acerto do roteiro e direção. Várias cenas são construídas de uma forma divertida e irônica, animando a platéia e aumentando sua empatia para com o filme. Que dizer da cena em que Marcelo reclama das armas ao traficante paraguaio e ele diz "odiar armas" em um plano onde a tela nos mostra o cenário repleto de armas na parede? Ou quando, Wagner Moura imita Renato Russo, com todos os trejeitos do falecido vocalista do Legião Urbana? Ou ainda em um depoimento totalmente mentiroso, onde o Marcelo, agora Carrera, conta aos policiais seus falsos feitos em terceira pessoa? Ou ainda as interferências através da televisão em um jogo com a reação do telespectador, como o próprio caso do "traficante Carrera" e a entrevista de "Henrique Constantino" em Amaury Jr.?
Algumas coisas foram mudadas como o nome da Ferrari que virou Carrera no boné vermelho que dá nome ao traficante vivido por Marcelo, já que a Porsche autorizou o que a empresa italiana não permitiu. Ou o ator Ricardo Machi, que ganhou o codinome Renato Jacques na pele de Roger Gobeth. Mas, Amaury Jr. está lá. O próprio apresentador repete sua cena na época, com um bom humor ímpar. Isso é um plus interessante para o filme, que além da atuação de Wagner Moura é brindado com uma grande interpretação de Gisele Fróes como a mãe de Marcelo. Sua cena vendo a entrevista do filho em Amaury Jr. é dos momentos mais bonitos do filme. Aquele típico não sei se rio ou se choro.
A direção de arte e composição de época também estão de parabéns, desde os detalhes de orelhão ainda com ficha, até os cenários do ReciFolia tudo é muito bem cuidado. VIPs é daquele filme que saimos com a sensação de ter visto uma boa obra. Gosto de ver o cinema brasileiro assim, com trabalhos que nos envolvam, nos façam pensar e não apelem apenas para as comédias fáceis para conquistar o público. Torço para que ele possa ter uma boa jornada e que muitos outros venham por aí.
VIPs: (VIPs: 2011 / Brasil)
Direção: Toniko Melo
Roteiro: Bráulio Mantovani e Thiago Dottori
Com: Wagner Moura, Gisele Fróes, Juliano Cazarré, Jorge D'Elia.
Duração: 96 min
Para o bem ou para o mal, VIPs constrói um filme em cima da história de Marcelo, adaptando livremente várias passagens de sua vida, inclusive um detalhe importante sobre sua origem e possível explicação para o comportamento do protagonista. Muita coisa veio do livro de Mariana Caltabiano, que está lançando também um documentário sobre o tema, mas, outras vem da capacidade criativa dos roteiristas, diretor e ator. O filme que vemos na tela é essa mistura de fatos e ficção que nos envolve e faz cativar pela personalidade Marcelo, seja ele Bizarro ou Henrique Constantino, passando por todos os seus heterônimos. Mas, claro, que todos eles baseados/ inspirados no homem real que enganou parte do país.
À primeira vista, o que nos parecia um Prenda-me se for capaz, se torna um emaranhado de referências, inclusive psicológicas, principalmente por uma composição específica que fica clara aos olhos atentos desde o primeiro frame de apresentação, mas que roteiristas e diretor insistem em construir de uma forma que parece surpreendente. É pouco sutil e logo conseguimos deduzir o que está por trás daquilo, sendo a cena final apenas a confirmação do óbvio. Talvez, esse seja, o único ponto negativo da obra, mas que não compromete o resultado final. Porque, independente de escolhas, valores ou construções, VIPs é um filme bem feito.
A cena inicial é bastante feliz, ao nos dar um vislumbre do episódio ReciFolia, para só, então, retornar ao início da história de Marcelo, quando este ainda era um adolescente de 17 anos. O caso Gol, como já disse, é o fato mais conhecido e o filme se tornaria uma expectativa desse momento, comprometendo as demais passagens. Então, vai uma dose para acalmar o público e retornar para mostrar como chegamos até ali. A primeira parte de Marcelo Bizarro, é mesmo bizarra. Wagner Moura não ficou bem como adolescente de cabelo emo e a sensação é de que aquele garoto que imita os colegas quase como espasmos involuntários e sonha com aviões é mesmo maluco, sem grande interesse.
Na parte em que trabalha em um aeroclube, Wagner Moura começa a dar consistência a esse Marcelo apaixonado por aviões, ansioso por se tornar piloto como o pai, para poder ser admirado. Um garoto, que agora se chama Denis, está a espera de uma oportunidade. Ela logo vem e ele não tem medo de encará-la. A euforia que o personagem transmite através do ator nos contagia e logo torcemos por ele como se fosse nosso amigo mais antigo. Desse ponto, passando por traficante paraguaio, até o clímax como Constantino, Marcelo nos envolve e diverte, fazendo-nos suspender a ética, torcendo, chorando e rindo com ele.
Aliás, a escolha pelo humor é outro acerto do roteiro e direção. Várias cenas são construídas de uma forma divertida e irônica, animando a platéia e aumentando sua empatia para com o filme. Que dizer da cena em que Marcelo reclama das armas ao traficante paraguaio e ele diz "odiar armas" em um plano onde a tela nos mostra o cenário repleto de armas na parede? Ou quando, Wagner Moura imita Renato Russo, com todos os trejeitos do falecido vocalista do Legião Urbana? Ou ainda em um depoimento totalmente mentiroso, onde o Marcelo, agora Carrera, conta aos policiais seus falsos feitos em terceira pessoa? Ou ainda as interferências através da televisão em um jogo com a reação do telespectador, como o próprio caso do "traficante Carrera" e a entrevista de "Henrique Constantino" em Amaury Jr.?
Algumas coisas foram mudadas como o nome da Ferrari que virou Carrera no boné vermelho que dá nome ao traficante vivido por Marcelo, já que a Porsche autorizou o que a empresa italiana não permitiu. Ou o ator Ricardo Machi, que ganhou o codinome Renato Jacques na pele de Roger Gobeth. Mas, Amaury Jr. está lá. O próprio apresentador repete sua cena na época, com um bom humor ímpar. Isso é um plus interessante para o filme, que além da atuação de Wagner Moura é brindado com uma grande interpretação de Gisele Fróes como a mãe de Marcelo. Sua cena vendo a entrevista do filho em Amaury Jr. é dos momentos mais bonitos do filme. Aquele típico não sei se rio ou se choro.
A direção de arte e composição de época também estão de parabéns, desde os detalhes de orelhão ainda com ficha, até os cenários do ReciFolia tudo é muito bem cuidado. VIPs é daquele filme que saimos com a sensação de ter visto uma boa obra. Gosto de ver o cinema brasileiro assim, com trabalhos que nos envolvam, nos façam pensar e não apelem apenas para as comédias fáceis para conquistar o público. Torço para que ele possa ter uma boa jornada e que muitos outros venham por aí.
VIPs: (VIPs: 2011 / Brasil)
Direção: Toniko Melo
Roteiro: Bráulio Mantovani e Thiago Dottori
Com: Wagner Moura, Gisele Fróes, Juliano Cazarré, Jorge D'Elia.
Duração: 96 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
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2011-03-21T08:33:00-03:00
Amanda Aouad
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