Hop - Rebelde sem Páscoa
As festas cristãs perdem espaço a cada dia para as fantasias criadas para esquentar o comércio, inclusive no cinema. Primeiro o Natal se tornou do Papai Noel, agora a Páscoa é do coelhinho. A Universal Pictures lança, na sexta-feira da paixão, o filme Hop, que ganhou o singelo sub-título Rebelde sem Páscoa. Entrando no clima da brincadeira e fantasia de um coelho especial que vive na ilha de... Páscoa e distribue guloseimas para as crianças de todo o mundo, o filme tem momentos divertidos, principalmente pela construção do pequeno Júnior, mas esbarra em alguns clichês cansativos e outros absurdos, nos deixando com uma sensação de cansaço ao final da sessão.
Júnior vive a pressão de ser o sucessor do Coelho da Páscoa, seu pai, cargo que requer muita responsabilidade e o sonho de muitos. Mas, tudo o que o coelhinho queria era ser um grande baterista de uma banda de rock. Seu pai não entende esse sonho que considera um hooby e exige disciplina e pulso do filho. Na véspera de ganhar seus poderes, Júnior foge para Hollywood onde conhece o humano Fred, rapaz que já passou da idade de encontrar uma profissão e sair da casa dos pais. Enquanto os dois se atrapalham e se ajudam, o pai de Júnior envia sua guarda especial para procurar o filho, sem saber que seu braço direito, o pintinho Carlos, está planejando um golpe.
O paralelo que o roteiro constrói entre Júnior e Fred é bastante interessante. A vida dos dois tem muitas semelhanças em relação à pressão familiar e os sonhos que ostentam. O problema é que ambas as construções são rasas e caricatas. Na ilha de Páscoa, temos aquela situação típica de pai autoritário que nem ouve o filho. Na Califórnia temos uma família surreal que parece saída de um dos episódios dos Simpsons. Definitamente a história não se leva a sério. E não acho isso tão ruim, já que é um filme infantil que lida com animações e um mundo fantasioso onde coelhinhos comandam uma fábrica de doces que serão distribuídos. É fantasia, então, não precisamos ser tão exigentes. A interação entre o Coelhinho e personagens reais também não é ruim. Pelo menos aqui, fica claro o estranhamento. Fred realmente se assusta ao ver um coelho estilizado de pelúcia andando, falando e comendo cenoura. Só isso, já torna o filme melhor do que Zé Colméia, onde pessoas reais interagiam com um urso falante de chapéu e gravatinha como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Mas, aí temos uma construção incômoda desse personagem da Páscoa. A semelhança com o Papai Noel é nítida. Ele também tem uma fábrica, só que em vez de brinquedos é de doces. Vale ressaltar que ele fala doces e não chocolates, além de produzir outras guloseimas, a Fantástica Fábrica de Chocolates é outra. Nessa fábrica, o Coelhinho da Páscoa conta com ajudantes especiais, vários pintinhos amarelinhos. Além de ajudar a produzir os doces, são eles quem puxam o trenó em formato de ovo onde o Coelhinho sobe para distribuir as cestas para as crianças no dia da Páscoa. Só faltou dizer "ho ho ho". Para completar temos a todo momento os personagens falando que ele é o símbolo da Páscoa, que sem ele não tem Páscoa, que o espírito da Páscoa vai morrer se Júnior não assumir o lugar do pai, que as crianças do mundo inteiro vão ficar sem seus ovinhos etc, etc, etc...
O mundo real também é bastante estilizado. A começar pelo James Marsden que faz um jovem que ainda precisa decidir sua vida. Além do ator já estar um pouco velho para um papel assim, sua construção é meio abobada, nem dá para torcer por ele. Júnior ao fugir vai para Hollywood, porque ele diz que é lá que os sonhos de realizam. Há várias sátiras em suas aventuras nesse mundo como a banda de Blues ou o programa David Hoff, onde ele vai parar. Tem também a referência ao Band Hero, onde toca bateria no expert. Aliás, a bateria está presente desde o início do filme em uma mistura constante de sons intra e extradiegéticos (dentro e fora daquele universo), toda a trilha sonora é baseada em instrumentos de percussão. Agora a caracterização dos personagens reais é totalmente caricata, exagerada, todos parecem extremamente idiotas, a começar pela irmã de Fred. Sem falar de referências forçadas como o sobrenome de Fred ser Lebre, ou os coelhos viverem na Ilha de Páscoa, com direito a entrada da fábrica ser nas famosas estátuas.
Agora, o que estraga realmente o filme é a eterna fórmula de bem contra o mal sempre recorrente. A história já tinha elementos suficientes para todas as peripécias, pra que um vilão caricato como Carlos? Seu plano para dominar o mundo, ou seja, se tornar o novo coelhinho da Páscoa transforma todo o terceiro ato do filme em uma trajetória insuportável, deixando um gosto amargo nos espectadores. A única coisa interessante é a construção em paralelo de Fred e Carlos se preparando para assumir o cargo ao som de We No Speak Americano. Isso, foi uma boa sacada, afinal, nenhum dos dois são coelhos e querem se tornar o Coelho da Páscoa, tal qual a origem da música onde o italiano queria se tornar um americano legítimo. Além da música estar na moda em várias versões engraçadas na internet que tornam a cena cheia de referências cômicas.
Independente de minha teimosia em relação ao verdadeiro significado da Páscoa e sua mensagem transformadora, Hop é daqueles filmes que poderiam ter sido, mas ficam no limbo das boas idéias. Tem momentos engraçados, uma ou outra tirada interessante, mas fica na média. Nem uma vergonha como Zé Colméia ou Garfied 3D, mas também longe da inteligência de Uma Cilada para Roger Rabbit. Desculpem a referência tão antiga, mas foi o filme mais interessante que lembrei onde real e animação se uniram de uma forma tão perfeita. E ainda é com um coelho. Boa Páscoa para todos.
Hop - Rebelde sem Páscoa (Hop: 2011 / Estados Unidos)
Direção: Tim Hill
Roteiro: Ken Daurio e Cinco Paul
Com: James Marsden, Russell Brand, Kaley Cuoco, Hank Azaria.
Duração: 90 min.
Júnior vive a pressão de ser o sucessor do Coelho da Páscoa, seu pai, cargo que requer muita responsabilidade e o sonho de muitos. Mas, tudo o que o coelhinho queria era ser um grande baterista de uma banda de rock. Seu pai não entende esse sonho que considera um hooby e exige disciplina e pulso do filho. Na véspera de ganhar seus poderes, Júnior foge para Hollywood onde conhece o humano Fred, rapaz que já passou da idade de encontrar uma profissão e sair da casa dos pais. Enquanto os dois se atrapalham e se ajudam, o pai de Júnior envia sua guarda especial para procurar o filho, sem saber que seu braço direito, o pintinho Carlos, está planejando um golpe.
O paralelo que o roteiro constrói entre Júnior e Fred é bastante interessante. A vida dos dois tem muitas semelhanças em relação à pressão familiar e os sonhos que ostentam. O problema é que ambas as construções são rasas e caricatas. Na ilha de Páscoa, temos aquela situação típica de pai autoritário que nem ouve o filho. Na Califórnia temos uma família surreal que parece saída de um dos episódios dos Simpsons. Definitamente a história não se leva a sério. E não acho isso tão ruim, já que é um filme infantil que lida com animações e um mundo fantasioso onde coelhinhos comandam uma fábrica de doces que serão distribuídos. É fantasia, então, não precisamos ser tão exigentes. A interação entre o Coelhinho e personagens reais também não é ruim. Pelo menos aqui, fica claro o estranhamento. Fred realmente se assusta ao ver um coelho estilizado de pelúcia andando, falando e comendo cenoura. Só isso, já torna o filme melhor do que Zé Colméia, onde pessoas reais interagiam com um urso falante de chapéu e gravatinha como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Mas, aí temos uma construção incômoda desse personagem da Páscoa. A semelhança com o Papai Noel é nítida. Ele também tem uma fábrica, só que em vez de brinquedos é de doces. Vale ressaltar que ele fala doces e não chocolates, além de produzir outras guloseimas, a Fantástica Fábrica de Chocolates é outra. Nessa fábrica, o Coelhinho da Páscoa conta com ajudantes especiais, vários pintinhos amarelinhos. Além de ajudar a produzir os doces, são eles quem puxam o trenó em formato de ovo onde o Coelhinho sobe para distribuir as cestas para as crianças no dia da Páscoa. Só faltou dizer "ho ho ho". Para completar temos a todo momento os personagens falando que ele é o símbolo da Páscoa, que sem ele não tem Páscoa, que o espírito da Páscoa vai morrer se Júnior não assumir o lugar do pai, que as crianças do mundo inteiro vão ficar sem seus ovinhos etc, etc, etc...
O mundo real também é bastante estilizado. A começar pelo James Marsden que faz um jovem que ainda precisa decidir sua vida. Além do ator já estar um pouco velho para um papel assim, sua construção é meio abobada, nem dá para torcer por ele. Júnior ao fugir vai para Hollywood, porque ele diz que é lá que os sonhos de realizam. Há várias sátiras em suas aventuras nesse mundo como a banda de Blues ou o programa David Hoff, onde ele vai parar. Tem também a referência ao Band Hero, onde toca bateria no expert. Aliás, a bateria está presente desde o início do filme em uma mistura constante de sons intra e extradiegéticos (dentro e fora daquele universo), toda a trilha sonora é baseada em instrumentos de percussão. Agora a caracterização dos personagens reais é totalmente caricata, exagerada, todos parecem extremamente idiotas, a começar pela irmã de Fred. Sem falar de referências forçadas como o sobrenome de Fred ser Lebre, ou os coelhos viverem na Ilha de Páscoa, com direito a entrada da fábrica ser nas famosas estátuas.
Agora, o que estraga realmente o filme é a eterna fórmula de bem contra o mal sempre recorrente. A história já tinha elementos suficientes para todas as peripécias, pra que um vilão caricato como Carlos? Seu plano para dominar o mundo, ou seja, se tornar o novo coelhinho da Páscoa transforma todo o terceiro ato do filme em uma trajetória insuportável, deixando um gosto amargo nos espectadores. A única coisa interessante é a construção em paralelo de Fred e Carlos se preparando para assumir o cargo ao som de We No Speak Americano. Isso, foi uma boa sacada, afinal, nenhum dos dois são coelhos e querem se tornar o Coelho da Páscoa, tal qual a origem da música onde o italiano queria se tornar um americano legítimo. Além da música estar na moda em várias versões engraçadas na internet que tornam a cena cheia de referências cômicas.
Independente de minha teimosia em relação ao verdadeiro significado da Páscoa e sua mensagem transformadora, Hop é daqueles filmes que poderiam ter sido, mas ficam no limbo das boas idéias. Tem momentos engraçados, uma ou outra tirada interessante, mas fica na média. Nem uma vergonha como Zé Colméia ou Garfied 3D, mas também longe da inteligência de Uma Cilada para Roger Rabbit. Desculpem a referência tão antiga, mas foi o filme mais interessante que lembrei onde real e animação se uniram de uma forma tão perfeita. E ainda é com um coelho. Boa Páscoa para todos.
Hop - Rebelde sem Páscoa (Hop: 2011 / Estados Unidos)
Direção: Tim Hill
Roteiro: Ken Daurio e Cinco Paul
Com: James Marsden, Russell Brand, Kaley Cuoco, Hank Azaria.
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Hop - Rebelde sem Páscoa
2011-04-21T15:26:00-03:00
Amanda Aouad
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