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Keira Knightley
Não me abandone jamais
Não me abandone jamais
Baseado no livro de Kazuo Ishiguro, esse é o filme que nos deixa com um nó na garganta. Diferente das histórias que estamos acostumados a ver, Não Me Abandone Jamais usa ficção científica para falar do que há de mais humano nessa vida: destino e conformismo. A reflexão da personagem Kathy demonstra na sutileza tudo aquilo que a história quer nos passar e ficamos nos perguntando, fazemos isso no nosso dia a dia? Não falo aqui de ciência, ética ou valores humanos, mas de atitude de vida. Somos ou não somos seres livres que detêm o controle de nossas vidas? A inércia dos personagens é apenas um eufemismo para nos mostrar nossas próprias atitudes diante de nossas escolhas diárias.
Três amigos, Ruth, Tommy e Kathy, vividos respectivamente por Keira Knightley, Andrew Garfield e Carey Mulligan, foram criados em um internato especial, onde as regras rígidas valorizavam uma vida saudável com alimentação regrada. Além disso, não os permitiam que saíssem das imediações do local. O clima tenso me lembrou muito o colégio de Sociedade dos Poetas Mortos, mas quando a professora Lucy, nos mesmos moldes do professor Keating do outro filme, é demitida por tentar fazer os meninos pensarem ao conversar com eles sobre o futuro, percebemos que há algo mais ali. Aquelas crianças não são seres humanos comuns e suas vidas estão destinadas a um único propósito.
Talvez a resignação das crianças diante da realidade que se apresenta, ao contrário do que acontece em A Ilha, pode incomodar alguns, mas fico me perguntando quantos de nós não temos a mesma passividade diante da realidade em que vivemos. Seja um trabalho ruim que não conseguimos sair, uma situação política que não temos coragem de contestar ou um sonho que estamos sempre adiando. A realidade paralela em que o filme se encontra não passa de uma metáfora, uma discussão simbólica sobre destino e sonhos. Não há aqui nenhuma pretensão de discutir clonagem, doação de órgãos ou mesmo a questão ética disso. Incomoda muito mais a falta de iniciativa de Tommy em relação ao amor, mas ainda assim, é uma compreensível visão de milhares de adolescentes que, em vez de ir atrás da pessoa que amam, aceitam ficar com a que toma a iniciativa.
Os atores conseguem nos passar seu drama de uma forma tão singela que é impossível não se emocionar com eles. Carey Mulligan demonstra toda a sua capacidade de protagonizar um filme, ao dar à sua sonhadora Kathy a força e resignação ao mesmo tempo que tanto nos emociona. Andrew Garfield interpreta o bobo Tommy, com uma grande sensibilidade. E Keira Knightley demonstra força com sua egoísta Ruth. O roteiro de Alex Garland consegue dosar muito bem as três personalidades díspares, mas ao mesmo tempo ligadas pela amizade e destino. Há uma trajetória fluida que nos conduz naquele mundo apesar do estranhamento inicial e aquela cena do clímax em determinada casa é um primor de emoção.
Mark Romanek nos envolve em um filme sensível sobre a vida e a nossa incapacidade de mudá-la. Por mais que utilize um universo fantasioso e não procure nos enquadramentos, trilha sonora ou mesmo montagem nos emocionar a qualquer custo, acaba nos deixando com um nó na garganta pelo realismo da reflexão que provoca. É forte e merece uma atenção maior. Pena que aqui em Salvador, ficou apenas duas semanas em um único cinema.
Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go: 2010 / Reino Unido, Estados Unidos)
Direção: Mark Romanek
Roteiro: Alex Garland
Com: Carey Mulligan, Andrew Garfield, Keira Knightley, Charlotte Rampling.
Duração: 103 min
Três amigos, Ruth, Tommy e Kathy, vividos respectivamente por Keira Knightley, Andrew Garfield e Carey Mulligan, foram criados em um internato especial, onde as regras rígidas valorizavam uma vida saudável com alimentação regrada. Além disso, não os permitiam que saíssem das imediações do local. O clima tenso me lembrou muito o colégio de Sociedade dos Poetas Mortos, mas quando a professora Lucy, nos mesmos moldes do professor Keating do outro filme, é demitida por tentar fazer os meninos pensarem ao conversar com eles sobre o futuro, percebemos que há algo mais ali. Aquelas crianças não são seres humanos comuns e suas vidas estão destinadas a um único propósito.
Talvez a resignação das crianças diante da realidade que se apresenta, ao contrário do que acontece em A Ilha, pode incomodar alguns, mas fico me perguntando quantos de nós não temos a mesma passividade diante da realidade em que vivemos. Seja um trabalho ruim que não conseguimos sair, uma situação política que não temos coragem de contestar ou um sonho que estamos sempre adiando. A realidade paralela em que o filme se encontra não passa de uma metáfora, uma discussão simbólica sobre destino e sonhos. Não há aqui nenhuma pretensão de discutir clonagem, doação de órgãos ou mesmo a questão ética disso. Incomoda muito mais a falta de iniciativa de Tommy em relação ao amor, mas ainda assim, é uma compreensível visão de milhares de adolescentes que, em vez de ir atrás da pessoa que amam, aceitam ficar com a que toma a iniciativa.
Os atores conseguem nos passar seu drama de uma forma tão singela que é impossível não se emocionar com eles. Carey Mulligan demonstra toda a sua capacidade de protagonizar um filme, ao dar à sua sonhadora Kathy a força e resignação ao mesmo tempo que tanto nos emociona. Andrew Garfield interpreta o bobo Tommy, com uma grande sensibilidade. E Keira Knightley demonstra força com sua egoísta Ruth. O roteiro de Alex Garland consegue dosar muito bem as três personalidades díspares, mas ao mesmo tempo ligadas pela amizade e destino. Há uma trajetória fluida que nos conduz naquele mundo apesar do estranhamento inicial e aquela cena do clímax em determinada casa é um primor de emoção.
Mark Romanek nos envolve em um filme sensível sobre a vida e a nossa incapacidade de mudá-la. Por mais que utilize um universo fantasioso e não procure nos enquadramentos, trilha sonora ou mesmo montagem nos emocionar a qualquer custo, acaba nos deixando com um nó na garganta pelo realismo da reflexão que provoca. É forte e merece uma atenção maior. Pena que aqui em Salvador, ficou apenas duas semanas em um único cinema.
Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go: 2010 / Reino Unido, Estados Unidos)
Direção: Mark Romanek
Roteiro: Alex Garland
Com: Carey Mulligan, Andrew Garfield, Keira Knightley, Charlotte Rampling.
Duração: 103 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Não me abandone jamais
2011-04-04T08:45:00-03:00
Amanda Aouad
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