Olhando o título infeliz do filme no Brasil, os comentários na capa do DVD e o estereótipo de Jim Carrey, qualquer um pensa que O Golpista do Ano é mais uma comédia escrachada e cheia de bobagens. Mas, apesar de momentos divertidos e algumas piadas, o longametragem de John Requa e Glenn Ficarra está mais para um drama existencial que outra coisa. Baseado no livro de Steve McVicker, conta a história real do golpista Steven Russel, que passa de policial texano a viver de pequenos e depois grandes golpes quando resolve mudar de vida e assumir sua homossexualidade. Não que uma coisa tenha algo a ver com outra, mas Russel chega a conclusão que manter um padrão de vida gay é muito custoso e resolve que só com golpes poderá se sustentar.
Interessante ressaltar que nenhum dos companheiros dele aceitam esse tipo de vida e sempre brigam ao descobrir a verdade. Primeiro, Jimmy, vivido pelo brasileiro Rodrigo Santoro. Depois, Phillip Morris, vivido por Ewan McGregor. Ainda assim, Steven Russell parece não conter o vício de enganar a tudo e a todos. Quanto mais ele tem, mais ele quer, perdendo completamente a noção de quando parar. Assim, ele vai parar na cadeia e quase perde a vida. A única pessoa que parece estar sempre dando apoio ao personagem, é sua ex-mulher Debbie. Mesmo sem concordar com as escolhas de Steven, ela não o condena em nenhum momento, sendo sempre uma amiga compreensiva e carinhosa.
O roteiro brinca com o tempo, colocando Steven em uma cama de hospital narrando sua história. Ficamos na expectativa de quando é aquele momento a cada acidente, prisão, doença que o personagem sofre. É uma trajetória bem conduzida que nos faz simpatizar com o golpista por mais errado que saibamos que ele seja. E Jim Carrey ajuda com seu talento, é bom vê-lo em um papel onde é mais exigido do que simplesmente caras e bocas exageradas. O filme se concentra muito no personagem, nas suas mudanças e tentativas de se dar bem. E por ser centrado nele, puxa para o drama humano, tentando compreender o psíquíco deste personagem. 
Steven Russell foi uma criança reprimida, descobriu que era adotado, viveu de aparência até um acidente que quase lhe tira a vida o despertar para o que estava perdendo. Foi então que assumiu sua homossexualidade e resolveu viver sem regras. Esse foi o problema, pois não podemos viver em sociedade,sem regras. Mas o filme parece não querer condená-lo, nos deixa colado no protagonista tentando entender sua lógica distorcida. Quase o perdoamos por só querer ser feliz, amando e protegendo aqueles que o cercam. E proteger para ele, parece que é cobrir de bens materiais.Rodrigo Santoro tem uma participação pequena, mas significativa, como o primeiro namorado de Steven. Consegue agir naturalmente e tem uma cena difícil onde podemos vislumbrar o talento que o rapaz ainda pode demonstrar ao mundo. Ewan McGregor está ótimo como o sensível Phillip Morris. Consegue dar um tom frágil ao personagem e acreditamos que ele precisa mesmo ser protegido. Mas, o filme é mesmo de Jim Carrey. Ele consegue passar do humor ao terror com grande sensibilidade, construindo um personagem complexo e envolvente.
O Golpista do Ano é daqueles filmes bem feitos e mal posicionados. Muita gente foi ao cinema esperando a comédia do ano. Acredito que hoje, depois de tantos comentários, estejam todos avisados e os DVDs sejam melhor direcionados.
O Golpista do Ano (I Love You Phillip Morris: 2009 / França, EUA)
Direção: John Requa, Glenn Ficarra
Roteiro: John Requa e Glenn Ficarra
Com: Jim Carrey, Ewan McGregor, Rodrigo Santoro, Leslie Mann.
Duração: 102 min
