Sem Limites
Raul Seixas já dizia que a gente só usa 10% da nossa cabeça animal e ainda acha que está contribuindo para o nosso belo quadro social. Imagine, então, uma droga que nos fizesse acessar cem por cento do nosso cérebro? Ia subir literalmente para cabeça e teria muita gente achando que era Deus. Pois é, Alan Glynn imaginou essa situação em seu romance "The Dark Fields" e Leslie Dixon adaptou-o com um roteiro instigante e envolvente, sem nenhuma preocupação moral ou ética com o fator drogas. Assim é o filme Sem Limites, dirigido por Neil Burger, uma grande apologia ao faça o que quiser se tiver a chance. Uma mistura de ficção científica, aventura e existencialismo.
Eddie Morra, interpretado por Bradley Cooper, é um fracassado com F maiúsculo. Não consegue começar o livro que lhe encomendaram, mora em um apartamento pífio, teve um casamento que durou cinco minutos e sua atual namorada o está deixando. Sem nada a perder, ele resolve experimentar uma pílula misteriosa, oferecida por seu ex-cunhado, que promete dar acesso a seu cérebro em sua totalidade. Como toda droga, após experimentar seus efeitos, Eddie vai querer uma nova dose, porém, também como toda droga, a longo prazo os efeitos colaterais são imensos. Tudo se complica porque esse ainda é um medicamento fora do mercado, onde poucas pessoas conhecem e parece haver uma rede obscura em busca dele. Cabe, então, a Eddie administrar suas novas capacidades para se dar bem na vida, o quanto antes.
É interessante e ao mesmo tempo perigosa é a sensação de que podemos tudo. Como diz o título do filme, Eddie perde completamente a noção de limite, de certo ou errado, de possibilidades. Ele quer cada vez mais e como alerta sua namorada Lindy: "não é mais você". A droga não apenas deixa a pessoa mais inteligente. Ela perde a noção de perigo. Esquece timidez, medo, receios. Foca em algo e raciocina como conseguí-lo. É, então, bastante compreensível que Eddie vá para nas bolsas de valores, negociando com o papa do mundo financeiro: Carl Van Loon, vivido por Robert De Niro. O jogo de valores éticos e a forma como o filme as apresenta pode ser questionável, mas não podemos negar que temos uma produção bem feita.
Talvez o filme peque um pouco ao conduzir a trama em seus momentos finais através de uma ação desenfreada com alguns erros comuns do gênero e uma resolução difícil de engolir em determinado momento. Ainda assim, é uma trama envolvente, com belos planos em uma montagem bem feita, principalmente a simular um plano sequência através da mente do protagonista. O velho truque de começar por uma cena chave retrocedendo na história continua funcionando, nos envolvendo na trama. Assim como a voz over, que apesar de ser didática em alguns momentos, aqui funciona como complemento do raciocínio. As atuações também ajudam, dando ainda mais ritmo a história, mesmo sem ser um grande ator, Bradley Cooper é simpático e defende seu personagem com força. E é sempre bom ver Robert De Niro em um papel diferente de Jack Byrnes.
Sem limites é daqueles filmes bem feitos, com questões polêmicas, mas que não se preocupa muito em ser politicamente correto. É, no mínimo, curioso em sua construção. Não se destina a mentes fracas e influenciáveis. Talvez aí esteja embutida a sua crítica a nossa sociedade desumana e sem escrúpulos.
Sem Limites (Limitless: 2011/ EUA)
Direção: Neil Burger
Roteiro: Leslie Dixon
Com: Bradley Cooper, Robert De Niro, Abbie Cornish, Johnny Whitworth.
Duração: 105 min
Eddie Morra, interpretado por Bradley Cooper, é um fracassado com F maiúsculo. Não consegue começar o livro que lhe encomendaram, mora em um apartamento pífio, teve um casamento que durou cinco minutos e sua atual namorada o está deixando. Sem nada a perder, ele resolve experimentar uma pílula misteriosa, oferecida por seu ex-cunhado, que promete dar acesso a seu cérebro em sua totalidade. Como toda droga, após experimentar seus efeitos, Eddie vai querer uma nova dose, porém, também como toda droga, a longo prazo os efeitos colaterais são imensos. Tudo se complica porque esse ainda é um medicamento fora do mercado, onde poucas pessoas conhecem e parece haver uma rede obscura em busca dele. Cabe, então, a Eddie administrar suas novas capacidades para se dar bem na vida, o quanto antes.
É interessante e ao mesmo tempo perigosa é a sensação de que podemos tudo. Como diz o título do filme, Eddie perde completamente a noção de limite, de certo ou errado, de possibilidades. Ele quer cada vez mais e como alerta sua namorada Lindy: "não é mais você". A droga não apenas deixa a pessoa mais inteligente. Ela perde a noção de perigo. Esquece timidez, medo, receios. Foca em algo e raciocina como conseguí-lo. É, então, bastante compreensível que Eddie vá para nas bolsas de valores, negociando com o papa do mundo financeiro: Carl Van Loon, vivido por Robert De Niro. O jogo de valores éticos e a forma como o filme as apresenta pode ser questionável, mas não podemos negar que temos uma produção bem feita.
Talvez o filme peque um pouco ao conduzir a trama em seus momentos finais através de uma ação desenfreada com alguns erros comuns do gênero e uma resolução difícil de engolir em determinado momento. Ainda assim, é uma trama envolvente, com belos planos em uma montagem bem feita, principalmente a simular um plano sequência através da mente do protagonista. O velho truque de começar por uma cena chave retrocedendo na história continua funcionando, nos envolvendo na trama. Assim como a voz over, que apesar de ser didática em alguns momentos, aqui funciona como complemento do raciocínio. As atuações também ajudam, dando ainda mais ritmo a história, mesmo sem ser um grande ator, Bradley Cooper é simpático e defende seu personagem com força. E é sempre bom ver Robert De Niro em um papel diferente de Jack Byrnes.
Sem limites é daqueles filmes bem feitos, com questões polêmicas, mas que não se preocupa muito em ser politicamente correto. É, no mínimo, curioso em sua construção. Não se destina a mentes fracas e influenciáveis. Talvez aí esteja embutida a sua crítica a nossa sociedade desumana e sem escrúpulos.
Sem Limites (Limitless: 2011/ EUA)
Direção: Neil Burger
Roteiro: Leslie Dixon
Com: Bradley Cooper, Robert De Niro, Abbie Cornish, Johnny Whitworth.
Duração: 105 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Sem Limites
2011-04-06T08:39:00-03:00
Amanda Aouad
aventura|Bradley Cooper|critica|ficcao cientifica|Robert De Niro|
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