Como arrasar um coração
Como arrasar um coração, estreia de Pascal Chaumeil como diretor principal em um filme de gênero é divertido, inteligente e com um bom ritmo, só peca em sua conclusão. Comédias românticas possuem um rótulo muito claro. Ninguém vai assistir a um filme desses esperando um final surpreendente, fora do esperado. Então, que ninguém se sinta enganado ao ver o clichê invadir a tela e o coração falar mais alto. Mas, acredito que seja possível ser criativo dentro do padrão e prezar um pouco pelo bom gosto. O problema aqui, é que abusam um pouco de nossa paciência.
Falar da trama de Como arrasar um coração é quebrar o efeito do seu prólogo. Basta ler a sinopse, um resumo do filme, ou principalmente o trailer para o início não ter mais o mesmo efeito. Então, se você não viu o filme, não sabe nada sobre ele e quer ser surpreendido, pule esse parágrafo e o trailer abaixo. O roteiro foge do padrão de comédias românticas ao criar um argumento completamente inusitado. Um herói que vive de separar casais, acompanhado de dois comparsas divertidos e interessantíssimos. Alex Lippi é o sedutor profissional, estudando suas vitímas consegue encontrar fraquezas nos romances que são facilmente desfeitos a partir de golpes múltiplos. O texto decorado que Alex apresenta antes de dar o beijo na vítima é de um humor sátiro ótimo. Envolvente. Mas, claro que a rotina não dá um filme, pelo menos não de gênero e vamos acompanhar o galante francês em seu maior desafio, separar a rica Juliette Van Der Becq de seu noivo rico, bonito, apaixonado e sem defeitos a dez dias do casamento.
O prólogo do filme é muito bem construído, temos um mistério em torno do que está exatamente acontecendo. Ficamos perdidos observando aquele casal, seu passeio às dunas, as coisas estranhas que começam a ser construídas, o óbvio golpe, as crianças mentindo. Até que vem a revelação em uma apresentação ágil, interessante e bem humorada que resume de forma bastante satisfatória aqueles três inusitados personagens. Alex Lippi vivido por Romain Duris, sua irmã Mélanie interpretada por Julie Ferrier e seu cunhado Marc em uma ótima performance de François Damiens. O roteiro é bastante feliz ao nos deixar curiosos para aquela situação, depois explicar a rotina dos três, para finalmente apresentar a nova, digamos, missão. Tudo é conduzido de uma forma muito orgânica dentro do texto e, por isso, envolvente. Quando conhecemos a próxima vítima dos três, já estamos a par, não apenas do que vai acontecer, mas de como irá terminar. A graça será apenas assistir o como. Juliette Van Der Becq, a vítima, é interpretada por Vanessa Paradis, também conhecida como senhora Johnny Depp e consegue construir bem a personagem em todos os pontos da trajetória, nos convencendo de que é possível tudo aquilo realmente acontecer.
Além de ter bons atores a sua disposição e as belas paisagens de Mônaco para construir seu filme, Pascal Chaumeil consegue sair do lugar comum, respeitando o ritmo da comédia romântica. Mesmo em sua estreia como diretor de um longametragem, Chaumeil não é propriamente um novato, já que além de diretor de propaganda e televisão, foi assistente de Luc Besson em diversos sucessos como O Profissional e O quinto elemento. Então, ele está a vontade na costura de sua história. Há um clima de brincadeira, com diversas referências pops, principalmente com piadas referentes a George Michael e o filme Dirty Dancing. Tudo é um jogo e se encaixa perfeitamente com o argumento ali contado. Até mesmo o que parecia exagerado e fake na cena do prólogo com aquela música romântica e um clima meloso se justifica por esse prisma. Não é para se levar a sério, porque afinal, é uma encenação. Desde a abertura com um estilo Missão Impossível.
Em determinado momento, o roteiro começa a dar indícios de seu final clichê. Mas, nem por isso perde o ritmo. A cena no teatro, onde os personagens irão assistir a um concerto para piano é muito bem realizada nesse sentido. Possui o humor característico de toda a obra, com a performance de Alex na platéia querendo passar sua imagem de grande entusiasta da música clássica, mas tem também Juliette em um dos camarotes observando-o com seu binóculo. O jogo de câmeras ali junto com a montagem dos planos é muito bem feito, porque mantêm o ritmo não nos deixando perder nenhum dos dois aspectos. O problema só começa na parte final, mais precisamente na fatídica cena do elevador. Ali, os roteiristas começam a apelar e não respeitar a nossa inteligência. E toda aquela corrida final beira ao pastelão, dando uma sensação quase amarga ao final da sessão. Ainda bem que existem os créditos, onde Julie Ferrier e François Damiens salvam a nossa imagem final. Destaque também para tela dividida nesse momento, construindo um visual bonito.
A trilha sonora não é das mais inspiradas, mas quando entram as referências acabam sendo um deleite para os amantes dos anos 80, principalmente com "The Time of My Life" que preenche a tela por diversas vezes e ainda serve de recado para o que significa afinal aquilo tudo. Como arrasar um coração pode não inventar a pólvora e irritar um pouco em sua resolução, mas é uma comédia romântica divertida, com ritmo e cenas engraçadíssimas. Poderia apenas ser mais feliz em sua solução criativa para o esperado final.
Como arrasar um coração (L'arnacoeur: 2010 / França, Mônaco)
Direção: Pascal Chaumeil
Roteiro: Laurent Zeitoun, Jeremy Doner e Yohan Gromb
Com: Romain Duris, Vanessa Paradis, Julie Ferrier, François Damiens, Andrew Lincoln.
Duração: 105 min
Falar da trama de Como arrasar um coração é quebrar o efeito do seu prólogo. Basta ler a sinopse, um resumo do filme, ou principalmente o trailer para o início não ter mais o mesmo efeito. Então, se você não viu o filme, não sabe nada sobre ele e quer ser surpreendido, pule esse parágrafo e o trailer abaixo. O roteiro foge do padrão de comédias românticas ao criar um argumento completamente inusitado. Um herói que vive de separar casais, acompanhado de dois comparsas divertidos e interessantíssimos. Alex Lippi é o sedutor profissional, estudando suas vitímas consegue encontrar fraquezas nos romances que são facilmente desfeitos a partir de golpes múltiplos. O texto decorado que Alex apresenta antes de dar o beijo na vítima é de um humor sátiro ótimo. Envolvente. Mas, claro que a rotina não dá um filme, pelo menos não de gênero e vamos acompanhar o galante francês em seu maior desafio, separar a rica Juliette Van Der Becq de seu noivo rico, bonito, apaixonado e sem defeitos a dez dias do casamento.
O prólogo do filme é muito bem construído, temos um mistério em torno do que está exatamente acontecendo. Ficamos perdidos observando aquele casal, seu passeio às dunas, as coisas estranhas que começam a ser construídas, o óbvio golpe, as crianças mentindo. Até que vem a revelação em uma apresentação ágil, interessante e bem humorada que resume de forma bastante satisfatória aqueles três inusitados personagens. Alex Lippi vivido por Romain Duris, sua irmã Mélanie interpretada por Julie Ferrier e seu cunhado Marc em uma ótima performance de François Damiens. O roteiro é bastante feliz ao nos deixar curiosos para aquela situação, depois explicar a rotina dos três, para finalmente apresentar a nova, digamos, missão. Tudo é conduzido de uma forma muito orgânica dentro do texto e, por isso, envolvente. Quando conhecemos a próxima vítima dos três, já estamos a par, não apenas do que vai acontecer, mas de como irá terminar. A graça será apenas assistir o como. Juliette Van Der Becq, a vítima, é interpretada por Vanessa Paradis, também conhecida como senhora Johnny Depp e consegue construir bem a personagem em todos os pontos da trajetória, nos convencendo de que é possível tudo aquilo realmente acontecer.
Além de ter bons atores a sua disposição e as belas paisagens de Mônaco para construir seu filme, Pascal Chaumeil consegue sair do lugar comum, respeitando o ritmo da comédia romântica. Mesmo em sua estreia como diretor de um longametragem, Chaumeil não é propriamente um novato, já que além de diretor de propaganda e televisão, foi assistente de Luc Besson em diversos sucessos como O Profissional e O quinto elemento. Então, ele está a vontade na costura de sua história. Há um clima de brincadeira, com diversas referências pops, principalmente com piadas referentes a George Michael e o filme Dirty Dancing. Tudo é um jogo e se encaixa perfeitamente com o argumento ali contado. Até mesmo o que parecia exagerado e fake na cena do prólogo com aquela música romântica e um clima meloso se justifica por esse prisma. Não é para se levar a sério, porque afinal, é uma encenação. Desde a abertura com um estilo Missão Impossível.
Em determinado momento, o roteiro começa a dar indícios de seu final clichê. Mas, nem por isso perde o ritmo. A cena no teatro, onde os personagens irão assistir a um concerto para piano é muito bem realizada nesse sentido. Possui o humor característico de toda a obra, com a performance de Alex na platéia querendo passar sua imagem de grande entusiasta da música clássica, mas tem também Juliette em um dos camarotes observando-o com seu binóculo. O jogo de câmeras ali junto com a montagem dos planos é muito bem feito, porque mantêm o ritmo não nos deixando perder nenhum dos dois aspectos. O problema só começa na parte final, mais precisamente na fatídica cena do elevador. Ali, os roteiristas começam a apelar e não respeitar a nossa inteligência. E toda aquela corrida final beira ao pastelão, dando uma sensação quase amarga ao final da sessão. Ainda bem que existem os créditos, onde Julie Ferrier e François Damiens salvam a nossa imagem final. Destaque também para tela dividida nesse momento, construindo um visual bonito.
A trilha sonora não é das mais inspiradas, mas quando entram as referências acabam sendo um deleite para os amantes dos anos 80, principalmente com "The Time of My Life" que preenche a tela por diversas vezes e ainda serve de recado para o que significa afinal aquilo tudo. Como arrasar um coração pode não inventar a pólvora e irritar um pouco em sua resolução, mas é uma comédia romântica divertida, com ritmo e cenas engraçadíssimas. Poderia apenas ser mais feliz em sua solução criativa para o esperado final.
Como arrasar um coração (L'arnacoeur: 2010 / França, Mônaco)
Direção: Pascal Chaumeil
Roteiro: Laurent Zeitoun, Jeremy Doner e Yohan Gromb
Com: Romain Duris, Vanessa Paradis, Julie Ferrier, François Damiens, Andrew Lincoln.
Duração: 105 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Como arrasar um coração
2011-05-05T10:36:00-03:00
Amanda Aouad
cinema europeu|comedia|critica|Romain Duris|romance|
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