Como Você Sabe
James L. Brooks está passando por uma fase difícil. Seus filmes não tem mais a acolhida de antes. O último sucesso foi Melhor é Impossível. Talvez tenha achado, então, que precisava trazer de novo Jack Nicholson para lhe dar sorte. Não deu certo. Como você sabe é um dos maiores fracassos da carreira da dupla. Custou 130 milhões e arrecadou apenas 30 milhões. A crítica norte-americana e agora a brasileira está destruindo o filme. Assim como o público, na maioria dos comentários que encontramos pela internet. Agora você se pergunta, por que eu fiz esse preâmbulo antes de começar a crítica? Porque, por incrível que pareça, eu gostei de Como Você Sabe. Não é uma obra-prima, não é dos melhores de James L. Brooks, muito menos de Jack Nicholson que pouco aparece, mas tem pontos bem interessantes que falo a seguir.
Como Você Sabe gira em torno de Lisa Jorgenson, vivida por Reese Whiterspoon, uma moça que desde pequena só tinha uma certeza: era uma boa jogadora de beisebol. Já adulta, após várias competições na seleção dos Estados Unidos, ela é considerada velha e é cortada do time. Sem a menor noção do que fará a partir de então, ela começa a se envolver com dois homens completamente diferentes: Manny, um famoso jogador de beisebol vivido por Owen Wilson, e George, vivido por Paul Rudd que está sendo acusado de corrupção, mesmo sem culpa. Desde o início fica claro que os protagonistas são Whiterspoon e Rudd, vamos acompanhando a tentativa dos dois personagens de reestruturar a vida que parece ter sido virada de cabeça para baixo.
O roteiro não tem, então, uma trajetória tão definida, expõe um pouco a confusão que está a vida dos dois protagonistas, a falta de perspectiva, a falta de noção de como resolver aquilo. Mas, tudo isso é construído através de diálogos inteligentes, marca registrada de James L. Brooks. Tem ritmo, não parece artificial, soa dito por pessoas reais. A forma como eles dois se encontram também é inusitada e nem um pouco romântica. Ambos estão fugindo dos problemas, literalmente, cada um a seu modo. O encontro no restaurante é o contrário de qualquer filme, o momento de pausa, onde eles jantam completamente mudos. Mesmo vislumbrando o final óbvio, Como Você Sabe tem situações interessantes e o triângulo com Owen Wilson funciona razoavelmente bem.
A construção de Lisa foi outra coisa que me chamou a atenção. Ela não é a típica heroína de comédias românticas. Além de ser focada no esporte, tem uma característica de sua personalidade que salta aos olhos. Ela é o que Eric Berne chamou de "Seja Forte", não se permite sentir dor. Está sempre com frases motivacionais, demonstradas em post its pregados no espelho forçando não se deixar abater por nada. Não demonstra os sentimentos, sempre faz de conta que está tudo bem, como quando pede desculpas a Manny após ser ofendida com o dia seguinte à primeira relação sexual. Uma amiga chega a dizer que ela só fala de si quando bebe. A origem dessa máscara valente pode ser de sua paixão por beisebol e como ela pode ter sido criticada na infância. A cena inicial do filme simboliza isso, quando Lisa apanha de um garoto por jogar melhor que ele. Já os dois pretendentes são construídos como dois bobos, apenas que um é melhor desenvolvido.
Aliás, os maiores problemas de Como Você Sabe estão relacionados aos personagens masculinos. Fracos, mal resolvidos, caricatos e exagerados. Cansam, em muitos momentos. Ainda temos cenas problemáticas como George bêbado, em uma péssima interpretação de Paul Rudd. Fora as caras e bocas do ator que pouco ajudam na simpatia pelo personagem. Já Owen Wilson é divertido como o bobo Manny, mas também exagera em muitos momentos, sendo um personagem nem um pouco crível. Já Jack Nicholson pode não estar em uma de suas interpretações mais brilhantes, mas consegue passar toda a falta de caráter do seu personagem. Um destaque masculino é a pequena participação de Tony Shalhoub, o Monk, como o psicanalista procurado por Lisa.
Se o roteiro de Como Você Sabe é confuso, em parte de forma proposital, apesar da excelência dos diálogos, a direção também tem prós e contras. Primeiro, Brooks exagera nos closes, nos deixando claustrofóbicos em vários momentos. Fica agressivo, incômodo, poderia ter uma construção mais sutil. Em outros momentos, tem resoluções criativa na composição do quadro, como na cena final onde une personagens que estão em lugares diferentes para economizar narrativa. Outra cena que chama a atenção por essa composição econômica é na segunda visita de Lisa à casa de George, quando ele prepara uma bebida cantando e ela está enquadrada em primeiro plano e fica assustada com a letra da música. Ao vermos as duas ações ao mesmo tempo, fica mais interessante, o ritmo funciona melhor, do que se víssemos primeiro ele e depois a reação.
Como Você Sabe não é mesmo uma comédia romântica típica, tem estereótipos de comédia rasgada, piadas muito específicas e propagonistas fora do padrão. Traz também os clichês já cansativos do gênero. Mas, ainda assim tem muitos pontos positivos que não o tornam chato. Entendo que a crítica estivesse esperando algo melhor, principalmente com a junção de Brooks e Nicholson, ainda assim é um filme que entretêm, principalmente, repito, pelos ótimos diálogos. Um bom diálogo sempre é gostoso de ser ouvido.
Como Você Sabe (How Do You Know: 2010 / EUA)
Direção: James L. Brooks
Roteiro: James L. Brooks
Com: Reese Whiterspoon, Paul Rudd, Owen Wilson, Jack Nicholson.
Duração: 101 min
Como Você Sabe gira em torno de Lisa Jorgenson, vivida por Reese Whiterspoon, uma moça que desde pequena só tinha uma certeza: era uma boa jogadora de beisebol. Já adulta, após várias competições na seleção dos Estados Unidos, ela é considerada velha e é cortada do time. Sem a menor noção do que fará a partir de então, ela começa a se envolver com dois homens completamente diferentes: Manny, um famoso jogador de beisebol vivido por Owen Wilson, e George, vivido por Paul Rudd que está sendo acusado de corrupção, mesmo sem culpa. Desde o início fica claro que os protagonistas são Whiterspoon e Rudd, vamos acompanhando a tentativa dos dois personagens de reestruturar a vida que parece ter sido virada de cabeça para baixo.
O roteiro não tem, então, uma trajetória tão definida, expõe um pouco a confusão que está a vida dos dois protagonistas, a falta de perspectiva, a falta de noção de como resolver aquilo. Mas, tudo isso é construído através de diálogos inteligentes, marca registrada de James L. Brooks. Tem ritmo, não parece artificial, soa dito por pessoas reais. A forma como eles dois se encontram também é inusitada e nem um pouco romântica. Ambos estão fugindo dos problemas, literalmente, cada um a seu modo. O encontro no restaurante é o contrário de qualquer filme, o momento de pausa, onde eles jantam completamente mudos. Mesmo vislumbrando o final óbvio, Como Você Sabe tem situações interessantes e o triângulo com Owen Wilson funciona razoavelmente bem.
A construção de Lisa foi outra coisa que me chamou a atenção. Ela não é a típica heroína de comédias românticas. Além de ser focada no esporte, tem uma característica de sua personalidade que salta aos olhos. Ela é o que Eric Berne chamou de "Seja Forte", não se permite sentir dor. Está sempre com frases motivacionais, demonstradas em post its pregados no espelho forçando não se deixar abater por nada. Não demonstra os sentimentos, sempre faz de conta que está tudo bem, como quando pede desculpas a Manny após ser ofendida com o dia seguinte à primeira relação sexual. Uma amiga chega a dizer que ela só fala de si quando bebe. A origem dessa máscara valente pode ser de sua paixão por beisebol e como ela pode ter sido criticada na infância. A cena inicial do filme simboliza isso, quando Lisa apanha de um garoto por jogar melhor que ele. Já os dois pretendentes são construídos como dois bobos, apenas que um é melhor desenvolvido.
Aliás, os maiores problemas de Como Você Sabe estão relacionados aos personagens masculinos. Fracos, mal resolvidos, caricatos e exagerados. Cansam, em muitos momentos. Ainda temos cenas problemáticas como George bêbado, em uma péssima interpretação de Paul Rudd. Fora as caras e bocas do ator que pouco ajudam na simpatia pelo personagem. Já Owen Wilson é divertido como o bobo Manny, mas também exagera em muitos momentos, sendo um personagem nem um pouco crível. Já Jack Nicholson pode não estar em uma de suas interpretações mais brilhantes, mas consegue passar toda a falta de caráter do seu personagem. Um destaque masculino é a pequena participação de Tony Shalhoub, o Monk, como o psicanalista procurado por Lisa.
Se o roteiro de Como Você Sabe é confuso, em parte de forma proposital, apesar da excelência dos diálogos, a direção também tem prós e contras. Primeiro, Brooks exagera nos closes, nos deixando claustrofóbicos em vários momentos. Fica agressivo, incômodo, poderia ter uma construção mais sutil. Em outros momentos, tem resoluções criativa na composição do quadro, como na cena final onde une personagens que estão em lugares diferentes para economizar narrativa. Outra cena que chama a atenção por essa composição econômica é na segunda visita de Lisa à casa de George, quando ele prepara uma bebida cantando e ela está enquadrada em primeiro plano e fica assustada com a letra da música. Ao vermos as duas ações ao mesmo tempo, fica mais interessante, o ritmo funciona melhor, do que se víssemos primeiro ele e depois a reação.
Como Você Sabe não é mesmo uma comédia romântica típica, tem estereótipos de comédia rasgada, piadas muito específicas e propagonistas fora do padrão. Traz também os clichês já cansativos do gênero. Mas, ainda assim tem muitos pontos positivos que não o tornam chato. Entendo que a crítica estivesse esperando algo melhor, principalmente com a junção de Brooks e Nicholson, ainda assim é um filme que entretêm, principalmente, repito, pelos ótimos diálogos. Um bom diálogo sempre é gostoso de ser ouvido.
Como Você Sabe (How Do You Know: 2010 / EUA)
Direção: James L. Brooks
Roteiro: James L. Brooks
Com: Reese Whiterspoon, Paul Rudd, Owen Wilson, Jack Nicholson.
Duração: 101 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Como Você Sabe
2011-05-03T08:57:00-03:00
Amanda Aouad
comedia|critica|Jack Nicholson|Owen Wilson|Paul Rudd|Reese Witherspoon|romance|
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