Diário de Naná
Diário de Naná é mais do que um documentário. É a celebração de encontros. Encontros de Naná Vasconcelos com sua espiritualidade, com as diversas formas de composição artística e com ícones regionais em um passeio pelo Recôncavo Baiano. É bonito de se ver e se ouvir, sem muitas regras no formato, onde vale até mesmo abrir o quadro e mostrar a equipe de filmagem em alguns momentos. Uma verdadeira experiência.
Premiado no Brasil e no exterior, o documentário nunca tinha sido exibido na Bahia e tive a oportunidade de conferir no encerramento do Festival In-Edit Salvador. Sala cheia para ver o músico percorrer estradas conhecidas da platéia, em busca de sons. No caminho, conversou com rostos desconhecidos como a alegre taxista, as pessoas na feira e os meninos a quem deu aula musical. E com pessoas que representam algumas tradições locais como Mãe Gaiacu Luiza, Antonio Vieira, Dalva do Samba e Dona Edith do Prato. Isso, sem falar da bela exibição ao lado de Virgínia Rodrigues que permeia todo o filme.
O documentário dirigido por Paschoal Samora busca a música do sagrado e o sagrado da música, através de experiências diversas. Não há uma narração explicativa, Samora deixa que Naná nos conduza em sua busca pessoal da forma mais autêntica possível. É assim que assistimos sua aula sobre a origem dos instrumentos, africanos ou não, e a mistura brasileira que tanto encanta. O primeiro instrumento é a voz, ele fala e o melhor é o corpo, completa. Através do corpo Naná se manifesta e deixa sua musicalidade passar a mensagem. Pode ser em qualquer instrumento, desde uma cabaça ainda não posta no seu berimbau até chaves presas em um aro.
A sua busca por sons é simbolizada de forma poética em uma cena de captação das ondas do mar. Com um boom na mão, Naná Vasconcelos acompanha os movimentos marítimos, em uma dança de comunhão. Ele não apenas capta aquele som, mas interaje com ele. O filme ainda inclui um canto a Iemanjá em B.G. tornando a cena mágica. É música e espiritualidade em comunhão, afinal, é através da música que os adeptos se comunicam com os Orixás. Isso fica claro também no encontro com Mãe Gaiacu Luiza que cantarola diversas cantigas em Iorubá. Cada estímulo de Naná é motivo para evocar algum canto que serve de benção e ensinamento.
A simplicidade é a chave da maioria dos encontros. Em símbolos como o sorvete de côco levado para Antonio Vieira em um papo descontraído sobre cordel e Besouro, o herói do sertão. Ou no prato azul que Dona Edith do Prato pega e transforma em instrumento, sem nenhuma cerimônia. Ou ainda nas letras cotidianas de Dalva do Samba. Quer coisa mais interessante do que um samba feito a partir de um giló? Através desses encontros, Naná Vasconcelos resgata uma cultura popular típica desse espaço e que encontra-se perdida para muitos.
Como disse, o documentário não tem formato, nem mesmo preocupação em não quebrar a quarta parede. A equipe aparece em vários momentos, o microfone vaza, uma câmera capta outra, tudo é um jogo de experimentação constante. Assim como o percussionista que experimenta os sons e suas misturas. É difícil até mesmo analisá-lo. É preciso sentir. Como sentimos o batuque de um tambor, a marcação de um berimbau, o chacoalhar de chaves ou o bater da faca em um prato de louça.
Diário de Naná é uma busca espiritual e celebração da música. Poesia e fé se misturam no compasso do samba em pleno recôncavo baiano. Só vendo para ter uma noção exata do que seja.
Diário de Naná (Diário de Naná)
Lançamento: 2006 (Brasil)
Direção: Paschoal Samora
Roteiro: Daniel Augusto e Paschoal Samora
Duração: 60 min
Premiado no Brasil e no exterior, o documentário nunca tinha sido exibido na Bahia e tive a oportunidade de conferir no encerramento do Festival In-Edit Salvador. Sala cheia para ver o músico percorrer estradas conhecidas da platéia, em busca de sons. No caminho, conversou com rostos desconhecidos como a alegre taxista, as pessoas na feira e os meninos a quem deu aula musical. E com pessoas que representam algumas tradições locais como Mãe Gaiacu Luiza, Antonio Vieira, Dalva do Samba e Dona Edith do Prato. Isso, sem falar da bela exibição ao lado de Virgínia Rodrigues que permeia todo o filme.
O documentário dirigido por Paschoal Samora busca a música do sagrado e o sagrado da música, através de experiências diversas. Não há uma narração explicativa, Samora deixa que Naná nos conduza em sua busca pessoal da forma mais autêntica possível. É assim que assistimos sua aula sobre a origem dos instrumentos, africanos ou não, e a mistura brasileira que tanto encanta. O primeiro instrumento é a voz, ele fala e o melhor é o corpo, completa. Através do corpo Naná se manifesta e deixa sua musicalidade passar a mensagem. Pode ser em qualquer instrumento, desde uma cabaça ainda não posta no seu berimbau até chaves presas em um aro.
A sua busca por sons é simbolizada de forma poética em uma cena de captação das ondas do mar. Com um boom na mão, Naná Vasconcelos acompanha os movimentos marítimos, em uma dança de comunhão. Ele não apenas capta aquele som, mas interaje com ele. O filme ainda inclui um canto a Iemanjá em B.G. tornando a cena mágica. É música e espiritualidade em comunhão, afinal, é através da música que os adeptos se comunicam com os Orixás. Isso fica claro também no encontro com Mãe Gaiacu Luiza que cantarola diversas cantigas em Iorubá. Cada estímulo de Naná é motivo para evocar algum canto que serve de benção e ensinamento.
A simplicidade é a chave da maioria dos encontros. Em símbolos como o sorvete de côco levado para Antonio Vieira em um papo descontraído sobre cordel e Besouro, o herói do sertão. Ou no prato azul que Dona Edith do Prato pega e transforma em instrumento, sem nenhuma cerimônia. Ou ainda nas letras cotidianas de Dalva do Samba. Quer coisa mais interessante do que um samba feito a partir de um giló? Através desses encontros, Naná Vasconcelos resgata uma cultura popular típica desse espaço e que encontra-se perdida para muitos.
Como disse, o documentário não tem formato, nem mesmo preocupação em não quebrar a quarta parede. A equipe aparece em vários momentos, o microfone vaza, uma câmera capta outra, tudo é um jogo de experimentação constante. Assim como o percussionista que experimenta os sons e suas misturas. É difícil até mesmo analisá-lo. É preciso sentir. Como sentimos o batuque de um tambor, a marcação de um berimbau, o chacoalhar de chaves ou o bater da faca em um prato de louça.
Diário de Naná é uma busca espiritual e celebração da música. Poesia e fé se misturam no compasso do samba em pleno recôncavo baiano. Só vendo para ter uma noção exata do que seja.
Diário de Naná (Diário de Naná)
Lançamento: 2006 (Brasil)
Direção: Paschoal Samora
Roteiro: Daniel Augusto e Paschoal Samora
Duração: 60 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Diário de Naná
2011-06-13T08:15:00-03:00
Amanda Aouad
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