Grandes Cenas: Spartacus
Em 1960, Stanley Kubrick levou ao cinema um épico sobre um escravo romano de nome Spartacus. Interpretado por Kirk Douglas, o personagem que sonhava com sua liberdade e se tornou gladiador emocionou, contagiou e venceu vários prêmios. Não é a obra máxima de Kubrick, que na verdade pegou o projeto já iniciado, nem é o melhor épico sobre o Império Romano feito por Hollywood. Ainda assim, Spartacus possui cenas emocionantes e um roteiro envolvente. Como esquecer aquele final com o grito (SPOILER) "Olhe seu filho, Spartacus, ele é livre". Arrepia, assim como arrepia a cena escolhida para a análise de hoje.
Após a morte de um gladiador, Spartacus começa a liderar uma revolta dos escravos contra Roma, mas a situação não fica boa para eles que são pegos pelo exército. O senador Marcus Licinius Crassus, no entanto, oferece um acordo com os escravos. Basta que entreguem Spartacus que tudo será perdoado. Eles não se tornarão livres, é verdade, mas pelo menos não serão crucificados pela rebeldia. Claro que, como um bom herói, Spartacus vai se entregar, mas seus companheiros não deixam ao seguir o líder e gritar em uma bela cadência. "Eu sou Spartacus"!
A cena é bem arquitetada. Começa com um plano geral do vale, só ouvimos a voz do arauto, seguido por quadros mais próximos, porém ainda mostrando grupos de escravos. Quando o arauto diz "suas vidas serão poupadas", temos um plano fechado de Spartacus e seu amigo Antoninus. Percebam que a profundidade de campo é grande ainda nessa cena, o cenário de fundo, assim como as demais pessoas que ainda aparecem em cena estão totalmente focadas. Eles formam um grupo, independente de alguns liderarem ou não.
Dois planos depois, ainda do conjunto de escravos, temos Marcus Licinius Crassus em close pela primeira vez observando a cena. Percebam que aqui a profundidade de campo é pequena. Apenas seu rosto está focado. Todo o resto é desfocado, destacando ainda mais o senador e deixando-o sozinho no contexto. Voltamos a ver os escravos e o arauto está explicando que basta eles entregarem Spartacus que serão poupados. Temos um close de Antoninus, e toda a cena continua focada, ele ainda faz parte do grupo. Mas, aí, temos um close de Spartacus e ele já não está mais pertencente ao grupo, a profundidade de campo ficou pequena. Apenas ele está focado. Uma espécie de metáfora de sua situação delicada. Sua cabeça pela salvação do grupo.
Nesse momento, a trilha sonora ainda colabora com o clima tenso da cena. A expectativa, o suspense do que irá acontecer. A câmera intercala entre plano geral e close de Spartacus. Quanto ele se levanta, vai dando um zoom out e acompanhando o seu movimento para mostrar que junto com ele já se levantaram mais dois. A música aumenta. Spartacus olha para os dois lados, em close, ainda está com uma profundidade de campo pequena, avaliando a situação. Será que ele aceita esse sacrifício? Kubrick então coloca alguns escravos para se levantar, dois se levantam em plano aberto, outros em um plano mais fechado surgem na tela no momento em que se levantam, até que ouvimos o som de vários repetindo a frase "eu sou Spartacus", esse é um recurso para construir a cadência aos poucos das pessoas se levantando, até que todos estejam de pé.
O plano geral todos já estão de pé gritando "Eu sou Spartacus!" e quando voltamos para o plano fechado de Antoninus e Spartacus, a profundidade de campo voltou a ser grande. Spartacus está novamente inserido no grupo. Temos então, o contra-plano de Marcus Licinius Crassus em close, completamente isolado, com a mesma profundidade de campo da outra vez. Seu olhar é de incredulidade. E o contraste que Kubrick consegue passar intercalando ele com Spartacus é perfeito para descrever o simbolismo do verdadeiro poder de ambos. O escravo com o apoio de seu povo se torna forte, invencível, enquanto o Império continua sendo desafiado.
É emocionante a direção da cena e todo o balé das interpretações, vejam:
Após a morte de um gladiador, Spartacus começa a liderar uma revolta dos escravos contra Roma, mas a situação não fica boa para eles que são pegos pelo exército. O senador Marcus Licinius Crassus, no entanto, oferece um acordo com os escravos. Basta que entreguem Spartacus que tudo será perdoado. Eles não se tornarão livres, é verdade, mas pelo menos não serão crucificados pela rebeldia. Claro que, como um bom herói, Spartacus vai se entregar, mas seus companheiros não deixam ao seguir o líder e gritar em uma bela cadência. "Eu sou Spartacus"!
A cena é bem arquitetada. Começa com um plano geral do vale, só ouvimos a voz do arauto, seguido por quadros mais próximos, porém ainda mostrando grupos de escravos. Quando o arauto diz "suas vidas serão poupadas", temos um plano fechado de Spartacus e seu amigo Antoninus. Percebam que a profundidade de campo é grande ainda nessa cena, o cenário de fundo, assim como as demais pessoas que ainda aparecem em cena estão totalmente focadas. Eles formam um grupo, independente de alguns liderarem ou não.
Dois planos depois, ainda do conjunto de escravos, temos Marcus Licinius Crassus em close pela primeira vez observando a cena. Percebam que aqui a profundidade de campo é pequena. Apenas seu rosto está focado. Todo o resto é desfocado, destacando ainda mais o senador e deixando-o sozinho no contexto. Voltamos a ver os escravos e o arauto está explicando que basta eles entregarem Spartacus que serão poupados. Temos um close de Antoninus, e toda a cena continua focada, ele ainda faz parte do grupo. Mas, aí, temos um close de Spartacus e ele já não está mais pertencente ao grupo, a profundidade de campo ficou pequena. Apenas ele está focado. Uma espécie de metáfora de sua situação delicada. Sua cabeça pela salvação do grupo.
Nesse momento, a trilha sonora ainda colabora com o clima tenso da cena. A expectativa, o suspense do que irá acontecer. A câmera intercala entre plano geral e close de Spartacus. Quanto ele se levanta, vai dando um zoom out e acompanhando o seu movimento para mostrar que junto com ele já se levantaram mais dois. A música aumenta. Spartacus olha para os dois lados, em close, ainda está com uma profundidade de campo pequena, avaliando a situação. Será que ele aceita esse sacrifício? Kubrick então coloca alguns escravos para se levantar, dois se levantam em plano aberto, outros em um plano mais fechado surgem na tela no momento em que se levantam, até que ouvimos o som de vários repetindo a frase "eu sou Spartacus", esse é um recurso para construir a cadência aos poucos das pessoas se levantando, até que todos estejam de pé.
O plano geral todos já estão de pé gritando "Eu sou Spartacus!" e quando voltamos para o plano fechado de Antoninus e Spartacus, a profundidade de campo voltou a ser grande. Spartacus está novamente inserido no grupo. Temos então, o contra-plano de Marcus Licinius Crassus em close, completamente isolado, com a mesma profundidade de campo da outra vez. Seu olhar é de incredulidade. E o contraste que Kubrick consegue passar intercalando ele com Spartacus é perfeito para descrever o simbolismo do verdadeiro poder de ambos. O escravo com o apoio de seu povo se torna forte, invencível, enquanto o Império continua sendo desafiado.
É emocionante a direção da cena e todo o balé das interpretações, vejam:
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Spartacus
2011-06-21T11:04:00-03:00
Amanda Aouad
classicos|grandes cenas|Kirk Douglas|Laurence Olivier|Tony Curtis|
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