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Gretchen Filme Estrada
Gretchen Filme Estrada
Em 2008, Gretchen se candidatou a prefeita de Itamaracá, uma ilha no litoral de Pernambuco. Cantora e dançarina, entre um piripiripiri e um conga conga, ela resolveu fazer algo pela cidade em que mora há dez anos. Pelo menos é o seu discurso. Mas, o que o filme de Eliane Brum e Paschoal Samora tenta mostrar é o circo político que rege esse Brasil.
O filme constrói o seu roteiro no paralelo entre a campanha política de Gretchen e suas apresentações em circos de cidades do interior do nordeste. Desde o princípio não dá para levar a sério uma candidata que ao mesmo tempo que discute propostas em seu comitê, rebola em picadeiros em um playback pouco empolgante. Por vezes entra a voz over do diretor, sempre sobre uma estrada vazia tentando explicar o inexplicável ou filosofar sobre o óbvio. Ainda assim, consegue uma boa metáfora do rebolar. Afinal, Gretchen rebolou a vida inteira para sobreviver, criar seus seis filhos e continuar na mídia que ela tanto valoriza.
A política parece ser mais um rebolado que Gretchen pretende vencer. Eliane Brum e Paschoal Samora captam as reuniões, os comícios, os debates e as visitas populares sem interferir. Mas, a montagem é sempre traiçoeira aos intentos da artista, juntando cenas como ela dizendo que Deus a levou para aquele lugar com um close de seu bumbum rebolando em um picadeiro qualquer. Ou quando ela diz que não pode dar dinheiro ao povo que insiste em pedir algo, mas promete emprego a todos os militantes ao ser eleita. Na parte final, então, quando não há mais chances de eleição, os diretores afastam a câmera para mostrar os bastidores do verdadeiro circo político. Só falham ao querer deixar tudo muito explícito em uma explicação em voz over desnecessária.
A relação e comparação com a vice Anne é outro ponto interessante do filme. Verdadeira politica, Anne tem fala mansa, fácil, sempre se dizendo "por Ilha de Itamaracá". Enquanto que o discurso de Maria Odete se resume a ser Gretchen. Uma pessoa que se apresenta como não política, como uma pessoa do povo, igual aos seus eleitores, mas ao mesmo tempo, fala que é uma artista, que está na mídia e levará a mídia para aquele local. Que não precisa daquilo, mas que quer ajudar a todos. A forma como as duas racham, é muito bem construída. Desde a discussão a portas fechadas, em que Gretchen afasta a câmera, passando pelo telefone em voz over até a cena dos cartazes e panfletos das duas sendo queimados. E, com isso, cai por terra o slogan da campanha: a força da mulher. O novo vice nem chega a ter voz, seja no documentário ou no palanque.
A montagem em paralelo também é bem feita na entrevista que Gretchen dá para uma rádio local e no último debate televisivo entre três candidatos. Intercalando Gretchen no local com as pessoas assistindo, seja na praça ou no comitê. Isso faz a tensão, esperança e o diálogo com o povo crescer. Tudo é manipulado de uma forma que nos dá a impressão mesmo de que Gretchen tinha as melhores intenções para a ilha de Itamaracá. Mas, a medida que o documentário avança, os problemas financeiros vão ficando mais claros. "só o meu piripipi não está dando", ela fala. Em uma passeata, vários carros de som dos partidos adversários vão passando em fusão, demonstrando que é tudo igual, quando é a vez de Gretchen, mostra apenas um carro sendo empurrado pelos poucos militantes que aceitaram ficar com ela.
A rejeição é demonstrada também no circo. Se no início tínhamos um destaque maior para seu corpo no picadeiro com alguns poucos planos da platéia se divertindo e dando risada. Em determinado momento, a platéia começa a ser o foco. Em uma cidade, eles são enquadrados com uma expressão desanimada. Sobre a música tensa, a tela pisca e em voz over os problemas financeiros vão sendo narrados. Não apenas da campanha política, mas da vida da própria artista. Até a água da casa onde moram seus filhos foi cortada. A verba é pequena e nem rebolando Gretchen consegue superar a crise.
Gretchen Filme Estrada é um documentário bem feito que tenta desnudar a política do toma lá da cá, dos ensaios de discursos e dos jogos de interesses. Falha em um momento ou outro, quando tenta ser explícito demais ou quando cansa em cenas repetitivas. Ainda assim, é inteligente, satírico e bem realizado.
Gretchen Filme Estrada (Gretchen Filme Estrada: Brasil / 2010)
Direção: Eliane Brum, Paschoal Samora
Duração: 90 min.
O filme constrói o seu roteiro no paralelo entre a campanha política de Gretchen e suas apresentações em circos de cidades do interior do nordeste. Desde o princípio não dá para levar a sério uma candidata que ao mesmo tempo que discute propostas em seu comitê, rebola em picadeiros em um playback pouco empolgante. Por vezes entra a voz over do diretor, sempre sobre uma estrada vazia tentando explicar o inexplicável ou filosofar sobre o óbvio. Ainda assim, consegue uma boa metáfora do rebolar. Afinal, Gretchen rebolou a vida inteira para sobreviver, criar seus seis filhos e continuar na mídia que ela tanto valoriza.
A política parece ser mais um rebolado que Gretchen pretende vencer. Eliane Brum e Paschoal Samora captam as reuniões, os comícios, os debates e as visitas populares sem interferir. Mas, a montagem é sempre traiçoeira aos intentos da artista, juntando cenas como ela dizendo que Deus a levou para aquele lugar com um close de seu bumbum rebolando em um picadeiro qualquer. Ou quando ela diz que não pode dar dinheiro ao povo que insiste em pedir algo, mas promete emprego a todos os militantes ao ser eleita. Na parte final, então, quando não há mais chances de eleição, os diretores afastam a câmera para mostrar os bastidores do verdadeiro circo político. Só falham ao querer deixar tudo muito explícito em uma explicação em voz over desnecessária.
A relação e comparação com a vice Anne é outro ponto interessante do filme. Verdadeira politica, Anne tem fala mansa, fácil, sempre se dizendo "por Ilha de Itamaracá". Enquanto que o discurso de Maria Odete se resume a ser Gretchen. Uma pessoa que se apresenta como não política, como uma pessoa do povo, igual aos seus eleitores, mas ao mesmo tempo, fala que é uma artista, que está na mídia e levará a mídia para aquele local. Que não precisa daquilo, mas que quer ajudar a todos. A forma como as duas racham, é muito bem construída. Desde a discussão a portas fechadas, em que Gretchen afasta a câmera, passando pelo telefone em voz over até a cena dos cartazes e panfletos das duas sendo queimados. E, com isso, cai por terra o slogan da campanha: a força da mulher. O novo vice nem chega a ter voz, seja no documentário ou no palanque.
A montagem em paralelo também é bem feita na entrevista que Gretchen dá para uma rádio local e no último debate televisivo entre três candidatos. Intercalando Gretchen no local com as pessoas assistindo, seja na praça ou no comitê. Isso faz a tensão, esperança e o diálogo com o povo crescer. Tudo é manipulado de uma forma que nos dá a impressão mesmo de que Gretchen tinha as melhores intenções para a ilha de Itamaracá. Mas, a medida que o documentário avança, os problemas financeiros vão ficando mais claros. "só o meu piripipi não está dando", ela fala. Em uma passeata, vários carros de som dos partidos adversários vão passando em fusão, demonstrando que é tudo igual, quando é a vez de Gretchen, mostra apenas um carro sendo empurrado pelos poucos militantes que aceitaram ficar com ela.
A rejeição é demonstrada também no circo. Se no início tínhamos um destaque maior para seu corpo no picadeiro com alguns poucos planos da platéia se divertindo e dando risada. Em determinado momento, a platéia começa a ser o foco. Em uma cidade, eles são enquadrados com uma expressão desanimada. Sobre a música tensa, a tela pisca e em voz over os problemas financeiros vão sendo narrados. Não apenas da campanha política, mas da vida da própria artista. Até a água da casa onde moram seus filhos foi cortada. A verba é pequena e nem rebolando Gretchen consegue superar a crise.
Gretchen Filme Estrada é um documentário bem feito que tenta desnudar a política do toma lá da cá, dos ensaios de discursos e dos jogos de interesses. Falha em um momento ou outro, quando tenta ser explícito demais ou quando cansa em cenas repetitivas. Ainda assim, é inteligente, satírico e bem realizado.
Gretchen Filme Estrada (Gretchen Filme Estrada: Brasil / 2010)
Direção: Eliane Brum, Paschoal Samora
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Gretchen Filme Estrada
2011-06-13T13:17:00-03:00
Amanda Aouad
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