Grégoire Canvel é um produtor cinematográfico encrencado. Sonhador, otimista e amante da verdadeira arte, gere a sua produtora Moon Films como se estivesse realmente no mundo da lua. Todas as obras são possíveis, sempre há um jeito de conseguir mais dinheiro. Cinema é arte e ele não se preocupa exatamente com o lucro. Isso claro, gera dívidas incalculáveis e revolta entre seus funcionários. Em contrapartida, em casa, ele é um pai exemplar e um marido carinhoso. Adora brincar com as duas pequenas e parece ser o que melhor entende a filha mais velha, já adolescente. Sua relação com a esposa também é bastante tranquila. Ela parece não se estressar nem quando ele comete um deslize e tem sua carteira de motorista apreeendida. Um retrato de família feliz.
O roteiro se divide entre os dois momentos. Uma hora, Grégoire está na produtora, tentando resolver a crise, produzir um filme ou atender a um roteirista iniciante. Aqui, o clima é tenso. As cenas são montadas em planos mais curtos, criando um ritmo de urgência. Outra hora, vemos Grégoire como pai, passeando com a família pela cidade, dando aula de história às filhas ou assistindo a um divertido jornal criado pelas duas caçulas. Aqui tudo é contemplação. Daquelas em que parece que nada acontece, mas estamos ali como testemunhas. Interessante a quantidade de travelling utilizado por Mia Hansen-Love nessa parte do filme, sempre ampliando o plano, dando a sensação do tempo real. A diretora consegue passar muita coisa pela imagem, o que é bom, como na cena em que Grégoire começa a contar a história das ruínas rodeado por toda a família. Aos poucos, a caçula, depois a do meio vão se afastando do pai, ficando apenas ele com a esposa. Uma forma de demonstrar a paixão do pai da família por arte e história que, por vezes, parece desinteressante às filhas.
Tudo vai seguindo uma rotina comum até que acontece uma reviravolta. Como se fosse o ponto de virada do primeiro para o segundo ato dos manuais de roteiro. A questão aqui é que isso acontece com mais ou menos uma hora de projeção. E o mais interessante, apesar de mudar tudo, não muda nada. A divisão continua: crise na produtora e rotina na família, só que agora com uma pequena/grande diferença. E continuamos o nosso jogo entre adrenalina e contemplação. Talvez, com essa reviravolta o que chame mais a atenção é o título do filme. O pai dos meus filhos ganha um significado ainda mais forte para a história.
Outra coisa que chama a atenção no filme de Mia Hansen-Love é o distanciamento emocional. Em nenhum momento, apesar de ser um drama familiar com traços emotivos, a diretora flerta com o melodrama. Aqui o principal efeito não é emocionar o público, nem fazê-los cúmplices dos sentimentos dos personagens. Nem mesmo conseguimos sentir a dor, o desespero ou a alegria. Uma única cena realmente emociona. Quando a filha do meio, Valentine, conversa com o personagem de Eric Elmosnino. Aliás, a garotinha Alice Gautier merece aplausos pela interpretação, não apenas nesta cena, mas principalmente.Mesmo aqui a emoção está repleta de razão. Nada é exacerbado. Não que isso seja mérito ou demérito, é bom deixar claro. Apenas uma observação pertinente para aqueles que podem chamar os franceses de frios. E olha que Chiara Cavelli, que interpreta a esposa Sylvia, é italiana, assim como sua personagem. Mas, esse é um detalhe que passa quase despercebido no filme.
O pai dos meus filhos é um filme bem feito, bonito de acompanhar. Mas, parece que fica faltando algo. Não diria nem que falta um propósito ou um tema, pois filmes podem ser feitos de formas diversas. Mas, talvez lhe falte um certo brilho. Algo que o faça original e inesquecível. Assim, é apenas uma história, como a vida. E a gente vai acompanhando para ver no que dá.
O pai dos meus filhos (Le Pére des mes Enfants: 2009 /França, Alemanha)
Direção: Mia Hansen-Love
Roteiro: Mia Hansen-Love
Com: Louis-Do de Lencquesaing, Chiara Cavelli, Alice de Lancquesaing, Alice Gautier.
Duração: 110 min