Assédio
Música e imagem dão o tom dessa bela obra de Bernardo Bertolucci. Assédio esconde no título em português a sutileza da relação entre uma imigrante africana fugida do regime ditatorial de seu país e um músico inglês, herdeiro de uma bela mansão onde passa os dias tocando o seu piano.
O filme já começa de forma inusitada, apenas o som de um canto africano com uma espécie de sacerdote sentado em uma árvore. A imagem pára e volta junto com a música, em uma relação perfeita com o som diegético da cena. Aliás, esse é o tom de toda a película, sempre intercalando a música erudita tocada por Sr. Kinsky em seu piano, com os sons africanos, seja quando mostra a África, ou quando Shandurai dança na cozinha. Mas, existem também os exageros, como a repetição da música africana sempre que aparecem imagens do continente. Dois mundos aparentemente sem nenhuma ligação que começam a se entrelaçar de uma forma bela, pura, sincera. Ele como patrão, ela como empregada, aos poucos, apenas amigos que se admiram, para finalmente apaixonados.
Após uma interessante introdução na África, quando vemos o marido de Shandurai dando aula e logo depois sendo preso, acompanhamos a imigrante em sua jornada tripla em um país estrangeiro. Faxineira na casa do inglês, onde trabalha duro, estudante de medicina na sala de aula, e estudante de medicina no hospital, acompanhando doentes. É interessante ressalvar que boa parte desse primeiro e segundo ato quase não tem diálogos, vamos construindo a história nos detalhes visuais que nos são oferecidos.
Assédio se baseia em imagens e, para isso, a interpretação dos atores também é essencial. Tanto Thandie Newton quanto David Thewlis, agora mais conhecido como Professor Lupin de Harry Potter, conseguem passar verdade em seus personagens, tanto no desconforto inicial, como na declaração repentina e no desenrolar daquela trama inusitada, mas cheia de sentimentos.
Aliás, o visual preenche a tela de diversas formas lúdicas e criativas. Há boas cenas na escada da casa, por exemplo, em plongée ou contra-plongée, mostrando Shandurai de cima para baixo, ouvindo a música do piano, descendo e esfregando os degraus ou fugindo de Sr. Kinsky. Temos também fusões simbólicas, como a espuma da cerveja que Shandurai bebe em um bar com a espuma do sabão com o qual ela esfrega o chão. Uma divisão incrível do seu estado de espírito.
A sequência em que ele compõe uma canção tendo ela na sala fazendo faxina é um dos melhores momentos do filme. O desconforto dela, tendo que limpar o local com ele ali, a insistência dele para que ela faça aqui. A forma como ele se desconcentra, observando os detalhes do corpo da moça. As expressões dela, querendo fugir, e a finalização fundindo a partitura com Shandurai varrendo o chão e o zoom out em plongée.
Bernardo Bertolucci acerta mais uma vez com Assédio. Um belo filme, sensível, apesar de não ser uma obra-prima do diretor.
Assédio (Besieged)
Lançamento: 1998 (França, Itália)
Direção: Bernardo Bertolucci
Atores: Thandie Newton, David Thewlis, Claudio Santamaria, John C. Ojwang.
Duração: 92 min
O filme já começa de forma inusitada, apenas o som de um canto africano com uma espécie de sacerdote sentado em uma árvore. A imagem pára e volta junto com a música, em uma relação perfeita com o som diegético da cena. Aliás, esse é o tom de toda a película, sempre intercalando a música erudita tocada por Sr. Kinsky em seu piano, com os sons africanos, seja quando mostra a África, ou quando Shandurai dança na cozinha. Mas, existem também os exageros, como a repetição da música africana sempre que aparecem imagens do continente. Dois mundos aparentemente sem nenhuma ligação que começam a se entrelaçar de uma forma bela, pura, sincera. Ele como patrão, ela como empregada, aos poucos, apenas amigos que se admiram, para finalmente apaixonados.
Após uma interessante introdução na África, quando vemos o marido de Shandurai dando aula e logo depois sendo preso, acompanhamos a imigrante em sua jornada tripla em um país estrangeiro. Faxineira na casa do inglês, onde trabalha duro, estudante de medicina na sala de aula, e estudante de medicina no hospital, acompanhando doentes. É interessante ressalvar que boa parte desse primeiro e segundo ato quase não tem diálogos, vamos construindo a história nos detalhes visuais que nos são oferecidos.
Assédio se baseia em imagens e, para isso, a interpretação dos atores também é essencial. Tanto Thandie Newton quanto David Thewlis, agora mais conhecido como Professor Lupin de Harry Potter, conseguem passar verdade em seus personagens, tanto no desconforto inicial, como na declaração repentina e no desenrolar daquela trama inusitada, mas cheia de sentimentos.
Aliás, o visual preenche a tela de diversas formas lúdicas e criativas. Há boas cenas na escada da casa, por exemplo, em plongée ou contra-plongée, mostrando Shandurai de cima para baixo, ouvindo a música do piano, descendo e esfregando os degraus ou fugindo de Sr. Kinsky. Temos também fusões simbólicas, como a espuma da cerveja que Shandurai bebe em um bar com a espuma do sabão com o qual ela esfrega o chão. Uma divisão incrível do seu estado de espírito.
A sequência em que ele compõe uma canção tendo ela na sala fazendo faxina é um dos melhores momentos do filme. O desconforto dela, tendo que limpar o local com ele ali, a insistência dele para que ela faça aqui. A forma como ele se desconcentra, observando os detalhes do corpo da moça. As expressões dela, querendo fugir, e a finalização fundindo a partitura com Shandurai varrendo o chão e o zoom out em plongée.
Bernardo Bertolucci acerta mais uma vez com Assédio. Um belo filme, sensível, apesar de não ser uma obra-prima do diretor.
Assédio (Besieged)
Lançamento: 1998 (França, Itália)
Direção: Bernardo Bertolucci
Atores: Thandie Newton, David Thewlis, Claudio Santamaria, John C. Ojwang.
Duração: 92 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Assédio
2011-07-27T13:43:00-03:00
Amanda Aouad
Bernardo Bertolucci|cinefuturo2011|critica|drama|
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