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O Último Imperador

O Último ImperadorUm épico, um clássico que ganhou oito Oscars, incluindo melhor filme e diretor, O Último Imperador é um marco na carreira de Bernardo Bertolucci. Uma aula de história, com uma boa dose de emoção e sem didatismo, a partir de um ótimo roteiro e sequências primorosas, coroadas por um visual de tirar o fôlego.

O filme, como o título já diz, conta a história do último imperador chinês, Pu Yi, que foi coroado com apenas 3 anos e viu de camarote todas as mudanças pelas quais seu país passou desde o fim da dinastia Ching, a instauração da Sun Ya-Sem - primeira república chinesa, a invasão japonesa, a II Guerra Mundial, até a instalação da República Popular da China de Mao Tse Tung. O filme de quase três horas passeia por todas essas épocas, sem seguir necessariamente a linha temporal, mas costurando muito bem todo o processo a partir da visão de Pu Yi.

O Último Imperador

O grande chamariz da história, que é baseada no real, é essa trajetória fantástica desse menino que aos três anos foi considerado praticamente um Deus. O Imperador chinês era um ser acima dos normais, a forma como ele era tratado, as coisas que lhe diziam e ensinavam. É preciso ter em mente que não era um filho sendo preparado para o trono, ele já era o dono dele. Claro que sua cabeça não poderia crescer de uma forma normal. Foi preciso apanhar muito para a humildade surgir naquele ser. É possível ver a crença desse Imperador especial em detalhes como na cena em que aparece um problema de visão e seus súditos dizem que um Imperador não pode precisar de óculos. Ou quando ainda adolescente ele explica ao irmão que as pessoas comuns não podem encarar o Imperador nos olhos. Isso sem falar em cenas posteriores quando ele ainda tem uma sensação de ser especial e diz à segunda esposa que ninguém pode se divorciar dele.

O Último ImperadorO roteiro está sempre nos passando a mensagem através de textos e imagens que traduzem essa situação, como a subserviência de todos na cidade proibida em relação àquela pessoa, em que até suas fezes são analisadas para melhorar a alimentação, por exemplo. A forma encontrada de mesclar o julgamento de Pu Yi com flashbacks a partir de um determinado momento também é feliz, afinal são mais de cinquenta anos de história, era preciso um corte, um recurso para ir e vir, pulando para as partes mais importantes. Mark People e Bernardo Bertolucci, que também assina o roteiro, foram bastante felizes ao conseguir transmitir para nossas mentes ocidentais o significado de tudo aquilo que estava acontecendo.

A direção é caprichada. Com a Cidade Proibida como cenário, Bertolucci brinca bastante com suas construções exuberantes, construindo sequências belas como a coroação de Pu Yi. Há também uma bela cena, dele já rapazinho brincando com os eunucos e as cortinas servindo de parede para criar um efeito interessante. Os imensos corredores formam um bom efeito também ao serem enquadrados quando Pu Yi corre atrás de sua babá Ar Mo que está sendo levada embora. Há cenas ainda em que há um jogo de imagem e som interessante como quando Pu Yi começa a ouvir os gritos da república do lado de fora dos muros. São sons de marcha, tiros e gritos que são explicados por Sr. Johnston. Ali, vemos também toda a vulnerabilidade de Pu Yi que é prisioneiro de luxo naquela cidade que não existe mais.

O Último ImperadorA direção de arte é primorosa em todos os detalhes e reconstituição de época assim como o figurino. E a fotografia, além de lidar bem com os cenários chineses ainda constrói tons para cada cenário. Vemos uma fotografia esverdeada na parte da República, quando Pu Yi é prisioneiro. Um tom mais avermelhado no passado, na Cidade Proibida, e um tom mais azulado no Ocidente e no Japão. Além de ajudar na distinção das épocas e cenários, ainda contribui para um tom mais assustador, quente ou frio respectivamente. Além disso, o enquadramento também muda, sendo sempre mais aberto na parte da infância, e vai se fechando a medida que sua vida vai se complicando.

O Último Imperador é daqueles filmes que impressiona do primeiro ao último frame. É impressionante ver a trajetória daquele personagem, ainda mais sabendo que ele foi real. O nó que deu em sua cabeça ser criado com Deus e terminar como o mais comuns dos seres. Em determinado momento, um personagem lhe diz para não se rebaixar tanto, pois ele sempre se achou melhor que todos e naquele momento acreditava ser o pior ser humano existente. Mas, o Oriente sempre acaba nos surpreendendo e mostrando que é sempre possível encontrar o equilíbrio. Uma aula de cinema e de vida.


O Último Imperador (The Last Emperor: 1987 /EUA)
Direção: Bernardo Bertolucci
Roteiro: Mark People e Bernardo Bertolucci
Com: John Lone, Joan Chen, Peter O'Toole, Ying Ruocheng.
Duração: 165 min

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