Potiche: Esposa Troféu
Ao assistir o filme Potiche: Esposa Troféu parece que voltamos no tempo. Em parte, literalmente, já que a história se passa em 1977. Mas, tudo parece lembrar o passado, a estética, o tema, a linguagem. Não que isso o torne ruim, mas é curioso ver uma obra tão deslocada de sua época.
Catherine Deneuve é Suzanne Pujol, a esposa troféu de um presidente de uma fábrica de guarda-chuvas totalmente autoritário. Robert Pujol é tão ditador que chega a ser comparado pelos funcionários a Hitler. Suzanne parece alheia a tudo, com suas corridas matinais e o cuidado com a casa, até que uma greve muda a rotina da família e ela tem que assumir a presidência da fábrica. A mudança mostra que Suzanne tem muito mais a oferecer ao mundo do que ser uma espécie de bibelô particular.
François Ozon constrói uma comédia farsesca deliciosa que mistura screwball comedy, melodrama e crítica política sempre com um tom irônico. Principalmente no primeiro ato, onde a vida de Suzanne é apresentada como uma espécie de conto de fadas. Em sua corrida matinal ela encontra com os bichinhos na floresta, destaque para as caras e bocas de Catherine Deneuve a cada bichinho que aparece, e quando chega em sua casa colorida, é possível ouvir o canto dos pássaros, bem ao estilo de Cinderela. O cenário é de uma casa de bonecas, as paredes rosas, detalhes floridos, bichinhos de pelúcia em cima da cama. Tudo meigo, fofo. A reconstituição de época também é destaque da direção de arte, com o cuidado nos objetos diversos, os carros e o figurino.
Transformar essa mulher bibelô na líder que Suzanne será pode parecer falso. Mas, os detalhes demonstram que ela sempre esteve atenta a tudo e também está cansada de ser tratada como um objeto. As conversas iniciais com o marido quando ela pergunta onde é o seu lugar, já que o marido não a deixa fazer nada. Ou quando está diante dos grevistas e diz que entende perfeitamente, porque é casada a mais de 30 anos com Pujol. E a cena mais simbólica é quando ela e a secretária tentam entender o grito dos manifestantes e, quando compreendem, se empolgam, gritando com eles: "Pujol estou farta".
Potiche: Esposa Troféu, no entanto, tem alguns exageros que cansam, como os flash backs de mau gosto, que podem ser interpretados como mais uma ironia, mas ainda assim é estranho de ver. A construção caricata do personagem Pujol e de sua filha Joëlle também parecem destoar da boa fórmula do filme. O personagem de Gérard Depardieu, no entanto, é um comunista caricato que funciona. É interessante ver a brincadeira com os valores da época e a forma como ele vai sendo desconstruido à medida em que Suzanne vai ganhando forçar, se tornando um símbolo fundamental da força da mulher e de sua luta igualitária.
Aliás, a personagem de Catherine Deneuve é rica em vários aspectos, com uma construção dramática muito curiosa de ser acompanhada. Isso sem falar nas referências à própria atriz, como a fábrica ser de guarda-chuvas e um de seus filmes mais famosos ser Os Guarda-Chuvas do Amor. Ou mesmo, uma certa lembrança de A Bela da Tarde. Não que Suzanne seja uma Séverine, cada uma tinha uma forma bem diferente de encarar a vida ou mesmo as relações sexuais. Mas, em alguns aspectos François Ozon parece ter feito uma leve referência ao filme de Buñuel. Fora o clima meio surrealista de várias cenas.
Potiche: Esposa Troféu está longe de ser uma obra-prima, mas é uma comédia divertida, despretensiosa. Como disse, parece deslocada do seu tempo com discussões políticas ultrapassadas e a velha guerra dos sexos. Ainda assim, passa o seu recado em uma França que se torna a cada dia mais distante das questões humanas.
Potiche: Esposa Troféu (Potiche: 2010 / França)
Direção: François Ozon
Roteiro: François Ozon
Com: Catherine Deneuve, Gérard Depardieu, Fabrice Luchini, Karin Viard.
Duração: 103 min
Catherine Deneuve é Suzanne Pujol, a esposa troféu de um presidente de uma fábrica de guarda-chuvas totalmente autoritário. Robert Pujol é tão ditador que chega a ser comparado pelos funcionários a Hitler. Suzanne parece alheia a tudo, com suas corridas matinais e o cuidado com a casa, até que uma greve muda a rotina da família e ela tem que assumir a presidência da fábrica. A mudança mostra que Suzanne tem muito mais a oferecer ao mundo do que ser uma espécie de bibelô particular.
François Ozon constrói uma comédia farsesca deliciosa que mistura screwball comedy, melodrama e crítica política sempre com um tom irônico. Principalmente no primeiro ato, onde a vida de Suzanne é apresentada como uma espécie de conto de fadas. Em sua corrida matinal ela encontra com os bichinhos na floresta, destaque para as caras e bocas de Catherine Deneuve a cada bichinho que aparece, e quando chega em sua casa colorida, é possível ouvir o canto dos pássaros, bem ao estilo de Cinderela. O cenário é de uma casa de bonecas, as paredes rosas, detalhes floridos, bichinhos de pelúcia em cima da cama. Tudo meigo, fofo. A reconstituição de época também é destaque da direção de arte, com o cuidado nos objetos diversos, os carros e o figurino.
Transformar essa mulher bibelô na líder que Suzanne será pode parecer falso. Mas, os detalhes demonstram que ela sempre esteve atenta a tudo e também está cansada de ser tratada como um objeto. As conversas iniciais com o marido quando ela pergunta onde é o seu lugar, já que o marido não a deixa fazer nada. Ou quando está diante dos grevistas e diz que entende perfeitamente, porque é casada a mais de 30 anos com Pujol. E a cena mais simbólica é quando ela e a secretária tentam entender o grito dos manifestantes e, quando compreendem, se empolgam, gritando com eles: "Pujol estou farta".
Potiche: Esposa Troféu, no entanto, tem alguns exageros que cansam, como os flash backs de mau gosto, que podem ser interpretados como mais uma ironia, mas ainda assim é estranho de ver. A construção caricata do personagem Pujol e de sua filha Joëlle também parecem destoar da boa fórmula do filme. O personagem de Gérard Depardieu, no entanto, é um comunista caricato que funciona. É interessante ver a brincadeira com os valores da época e a forma como ele vai sendo desconstruido à medida em que Suzanne vai ganhando forçar, se tornando um símbolo fundamental da força da mulher e de sua luta igualitária.
Aliás, a personagem de Catherine Deneuve é rica em vários aspectos, com uma construção dramática muito curiosa de ser acompanhada. Isso sem falar nas referências à própria atriz, como a fábrica ser de guarda-chuvas e um de seus filmes mais famosos ser Os Guarda-Chuvas do Amor. Ou mesmo, uma certa lembrança de A Bela da Tarde. Não que Suzanne seja uma Séverine, cada uma tinha uma forma bem diferente de encarar a vida ou mesmo as relações sexuais. Mas, em alguns aspectos François Ozon parece ter feito uma leve referência ao filme de Buñuel. Fora o clima meio surrealista de várias cenas.
Potiche: Esposa Troféu está longe de ser uma obra-prima, mas é uma comédia divertida, despretensiosa. Como disse, parece deslocada do seu tempo com discussões políticas ultrapassadas e a velha guerra dos sexos. Ainda assim, passa o seu recado em uma França que se torna a cada dia mais distante das questões humanas.
Potiche: Esposa Troféu (Potiche: 2010 / França)
Direção: François Ozon
Roteiro: François Ozon
Com: Catherine Deneuve, Gérard Depardieu, Fabrice Luchini, Karin Viard.
Duração: 103 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Potiche: Esposa Troféu
2011-07-02T09:25:00-03:00
Amanda Aouad
Catherine Deneuve|cinema europeu|comedia|critica|Gerard Depardieu|
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