Anti-Herói Americano
Harvey Pekar pode não ser um Stan Lee, sua profissão nem mesmo era roteirista de histórias em quadrinhos. "American Splendor" surgiu como um desabafo, uma forma de expor sua rotina chata, suas reclamações íntimas. Fez sucesso e se tornou cult pelo humor e formato politicamente incorreto. Robert Pulcini e Shari Springer Berman construíram, então, uma interessante adaptação para as telas do cinema. Pena que a produtora brasileira não entendeu a sutileza irônica que tinha no título dos quadrinhos e filme original, deixando esse didático nome de O Anti-Herói Americano. Mas, tudo bem, já que esta também não é uma obra perfeita.
O Anti-Herói Americano começa muito bem, fazendo um resumo da história dos quadrinhos, mesclando os desenhos originais, o verdadeiro Harvey Pekar e Paul Giamatti, que o interpreta no filme. Tudo em formato de quadrinhos que passeiam na tela de uma forma visual bastante funcional. A partir dessa introdução, vamos nos preparando para o tema que iremos ver desenvolvido. Porém, quando a história começa realmente, Robert Pulcini e Shari Springer Berman pecam em não querer abandonar o real, criando uma espécie de docudrama que não nos permite o envolvimento completo com a história.
A narrativa é interrompida em vários momentos para vermos uma espécie de estúdio, onde primeiro Harvey Pekar fala em uma mesa, dando depoimentos sobre sua vida, depois outros personagens reais começam a aparecer também ali. E em determinado momento até uma espécie de making of é feito, com os atores terminando uma cena e interagindo com as pessoas reais. Isso torna o filme cansativo e repetitivo em algums momentos, pois ficamos com a sensação de que estamos apenas vendo uma encenação da história que aquele homem está contando, até porque sua voz em over continua narrando boa parte das cenas. O ápice dessa quebra é quando o personagem vai ao programa de David Letterman, vemos Paul Giamatti no camarim se preparando para entrar no palco e, quando corta, os diretores optam por exibir o programa original. Todo o pacto ficcional cai por terra ali.
Ainda assim, o filme é inteligente e bem construído em vários momentos. Principalmente quando eles esquecem Harvey Pekar no estúdio e ficamos com as cenas ficcionais misturadas aos quadrinhos. A cena da fila no supermercado é uma das mais geniais, quando o desenho de Harvey Pekar conversa com o personagem. É uma interação muito mais interessante e condizente com a proposta da história. A cena em que Joyce chega ao aeroporto é outro exemplo desse formato funcionando. Harvey Pekar apenas escrevia as histórias, precisando de outras pessoas para fazer os desenhos, e várias versões diferentes tinham sido feitas, então, era difícil ter uma idéia exata de como ele era, na cena, Joyce olha várias pessoas diferentes que se parecem com vários desenhos diferentes do personagem, até que Harvey Pekar se aproxima dela.
Por fim, há uma passagem de tempo, onde os diretores constroem um clipe que compara os quadrinhos com as cenas em tela. Esse momento é bastante condizente com a proposta de Harvey Pekar quando começou a escrever as histórias. Ele queria falar de seu dia a dia com um tom irônico, uma crítica pessoal, sem grandes pretensões iniciais. O clipe mostra exatamente isso, que tudo poderia ir para os quadrinhos, desde o leite que faltou na geladeira a uma fala solta do chefe ou mesmo um pensamento pessimista sobre o dia. O tom underground é o tom de sua própria vida. Bem diferente do Sonho Americano. Por isso o título dos quadrinhos ser Esplendor Americano é a maior de todas as ironias.
Anti-Herói Americano é um filme com altos e baixos e, mesmo tendo sido indicado a vários prêmios na época como Oscar e Bafta, e tendo ganho o prêmio da crítica de Nova York como o melhor filme de diretor estreante, não é um filme perfeito. A idéia do docudrama não funcionou tão bem aqui. Se tivessem ficado apenas com a mistura de filme com quadrinhos, teria tido um ritmo melhor, possibilitando o envolvimento completo da platéia com o personagem. Ainda assim, é um filme interessante de ser conferido. E gera a curiosidade para os quadrinhos que lhe deram origem.
Anti-Herói Americano (American Splendor: 2003 /EUA)
Direção: Robert Pulcini, Shari Springer Berman
Roteiro: Robert Pulcini e Shari Springer Berman
Com: Paul Giamatti, Chris Ambrose, Joey Krajcar, Josh Hutcherson.
Duração: 100 min.
O Anti-Herói Americano começa muito bem, fazendo um resumo da história dos quadrinhos, mesclando os desenhos originais, o verdadeiro Harvey Pekar e Paul Giamatti, que o interpreta no filme. Tudo em formato de quadrinhos que passeiam na tela de uma forma visual bastante funcional. A partir dessa introdução, vamos nos preparando para o tema que iremos ver desenvolvido. Porém, quando a história começa realmente, Robert Pulcini e Shari Springer Berman pecam em não querer abandonar o real, criando uma espécie de docudrama que não nos permite o envolvimento completo com a história.
A narrativa é interrompida em vários momentos para vermos uma espécie de estúdio, onde primeiro Harvey Pekar fala em uma mesa, dando depoimentos sobre sua vida, depois outros personagens reais começam a aparecer também ali. E em determinado momento até uma espécie de making of é feito, com os atores terminando uma cena e interagindo com as pessoas reais. Isso torna o filme cansativo e repetitivo em algums momentos, pois ficamos com a sensação de que estamos apenas vendo uma encenação da história que aquele homem está contando, até porque sua voz em over continua narrando boa parte das cenas. O ápice dessa quebra é quando o personagem vai ao programa de David Letterman, vemos Paul Giamatti no camarim se preparando para entrar no palco e, quando corta, os diretores optam por exibir o programa original. Todo o pacto ficcional cai por terra ali.
Ainda assim, o filme é inteligente e bem construído em vários momentos. Principalmente quando eles esquecem Harvey Pekar no estúdio e ficamos com as cenas ficcionais misturadas aos quadrinhos. A cena da fila no supermercado é uma das mais geniais, quando o desenho de Harvey Pekar conversa com o personagem. É uma interação muito mais interessante e condizente com a proposta da história. A cena em que Joyce chega ao aeroporto é outro exemplo desse formato funcionando. Harvey Pekar apenas escrevia as histórias, precisando de outras pessoas para fazer os desenhos, e várias versões diferentes tinham sido feitas, então, era difícil ter uma idéia exata de como ele era, na cena, Joyce olha várias pessoas diferentes que se parecem com vários desenhos diferentes do personagem, até que Harvey Pekar se aproxima dela.
Por fim, há uma passagem de tempo, onde os diretores constroem um clipe que compara os quadrinhos com as cenas em tela. Esse momento é bastante condizente com a proposta de Harvey Pekar quando começou a escrever as histórias. Ele queria falar de seu dia a dia com um tom irônico, uma crítica pessoal, sem grandes pretensões iniciais. O clipe mostra exatamente isso, que tudo poderia ir para os quadrinhos, desde o leite que faltou na geladeira a uma fala solta do chefe ou mesmo um pensamento pessimista sobre o dia. O tom underground é o tom de sua própria vida. Bem diferente do Sonho Americano. Por isso o título dos quadrinhos ser Esplendor Americano é a maior de todas as ironias.
Anti-Herói Americano é um filme com altos e baixos e, mesmo tendo sido indicado a vários prêmios na época como Oscar e Bafta, e tendo ganho o prêmio da crítica de Nova York como o melhor filme de diretor estreante, não é um filme perfeito. A idéia do docudrama não funcionou tão bem aqui. Se tivessem ficado apenas com a mistura de filme com quadrinhos, teria tido um ritmo melhor, possibilitando o envolvimento completo da platéia com o personagem. Ainda assim, é um filme interessante de ser conferido. E gera a curiosidade para os quadrinhos que lhe deram origem.
Anti-Herói Americano (American Splendor: 2003 /EUA)
Direção: Robert Pulcini, Shari Springer Berman
Roteiro: Robert Pulcini e Shari Springer Berman
Com: Paul Giamatti, Chris Ambrose, Joey Krajcar, Josh Hutcherson.
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Anti-Herói Americano
2011-08-09T09:13:00-03:00
Amanda Aouad
critica|cult|drama|Paul Giamatti|quadrinhos|
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