O casal
Carlos Alberto Riccelli e
Bruna Lombardi dispensam apresentações, com vasta carreira no cinema e televisão brasileira, foram para os Estados Unidos estudar a sétima arte e vieram a
Salvador lançar o filme
Onde Está a Felicidade? com roteiro dela e direção dele, o longametragem recebeu prêmio de melhor filme no
Festival de Paulínia pelo voto popular. Na pré-estreia, Bruna disse que o filme "foi fruto de grande estrada, grande jornada e muito amor" que quer, acima de tudo, fazer as pessoas felizes. Amigo do casal, o ator
Luis Miranda também compareceu à sessão, Riccelli o saudou dizendo que era "um ator maravilhoso que a gente quer sempre trabalhar e faz uma participação amorosa no filme, de amigo". Antes do filme, pudemos conversar um pouco com o casal.
Bruna Lombardi
Vamos começar pelo óbvio Onde está a Felicidade?
Pois é, essa é uma grande pergunta, né? Eu acho que quando a gente começou a pensar nesse filme, o tema felicidade foi tão forte, tão atual, contemporâneo. Todo mundo está em busca da felicidade e acho que a gente responde aos poucos durante a filmagem dizendo que a felicidade tem que estar aqui e agora de uma maneira simples, tem que estar no percurso, no caminho, e não um lugar que se alcança, é o durante.
Por que o Caminho de Santiago? Você já fez o trajeto?
Não tinha feito, mas tinha o sonho de fazer. E quando fomos fazer o filme, a gente fez um pedaço do caminho. E durante as filmagens, a gente teve que passar tantas vezes por ali que virou praticamente guia.
Fale um pouco de sua personagem, a Teodora.
A Teodora é uma chefe de cozinha que tem um programa de televisão que chama "
A Receita do Amor", onde ela faz receitas afrodisíacas , mas a crise na vida dela, no casamento e no trabalho, é tão grande que ela está precisando se encontrar. E ela está tão perdida que escuta o conselho de uma maquiadora e vai buscar finalmente a si mesma fazendo o
Caminho de Santiago. Só que ela vai buscar e o que encontra são um monte de desencontros porque o filme é uma grande comédia, tem um humor escrachado, super divertido. Conversa com o universo masculino e feminino, mostrando as diferenças, mas dando humor para os dois. Os homens dão muita risada nesse filme, o que foi um grande trunfo para mim, pois não esperava.
Em O Signo da Cidade sua personagem era uma astróloga, aqui ela faz um caminho considerado exotérico. A espiritualidade é um tema que lhe atrai?
A espiritualidade é algo essencial em minha vida, eu trabalho com ela. Todos os dias da minha vida eu penso em me melhorar como pessoa e distribuir felicidade para as pessoas. A proposta desse filme era exatamente de partilhar idéias de felicidade, deixar as pessoas mais felizes. Porque em
O Signo da Cidade elas choravam, agora elas vão rir. É um rito de passagem.
Onde está a felicidade venceu em Paulínia pelo voto popular, esperava essa receptividade do público?
Não, não esperava. Foi a primeira vez que a gente viu o filme com o público, primeira exibição pública. Eram 1.500 lugares no teatro e estava lotado, tanto que a gente teve que fazer sessão extra. E as pessoas riam tanto, aplaudiam durante o filme, foi tão emocionante tudo que já era um prêmio. E aí quando veio o prêmio mesmo, foi a consagração.
Esse é o seu terceiro roteiro. Você definiria um estilo seu? Onde busca inspirações?
Acho que o meu estilo é buscar a minha verdade no momento. O que estou querendo dizer ou o que eu sinto que está em volta de mim de alguma maneira. Acho que o humor fácil é baseado na observação e o público se identifica muito com os filmes. Tanto que comove as pessoas.
O Signo da Cidade que era um filme comovente, foi comovente em todas as platéias do mundo, daí eu percebi que o que eu tenho atinge e toca o coração das pessoas. E eu me considero grata por isso.
É mais fácil ou difícil escrever para si mesmo?
Na hora que eu escrevo não penso que é para mim, eu penso no personagem. Depois que eu escrevo é que penso se tem papel para mim ou não. (risos) Mas aí eu pego o melhor papel que eu não sou boba (risos).
E como é ser dirigida pelo próprio marido?
É muito fácil, porque ele é um ótimo diretor, conhece muito a narrativa. É muito calmo, paciente, não levanta a voz nem comigo, nem com ninguém no set. É um set feliz, as pessoas se dão super bem. Ele é um diretor muito delicado com todo mundo, conhece muito a natureza do ator, então facilita a gente ser ator também.
De escritora para roteirista foi um processo natural?
Eu queria muito fazer, tanto que fui para os Estados Unidos para estudar roteiro. Eu venho da poesia, minha primeira manifestação como escritora foi a poesia, depois passei por vários gêneros, livro infantil, romance, mas a poesia continua comigo e eu levo para os meus filmes. Mas, sempre quis escrever roteiro de cinema, é um sonho que se realiza.
Como você enxerga o cenário do cinema brasileiro atual?
Eu acho que o cinema está passando uma fase de ouro, maravilhosa. Estamos em um dos maiores e melhores momentos pela diversidade. Hoje em dia você tem filmes de muita categoria, muito bem feito, bem escrito, bem narrado, com bons atores e gêneros muito diferentes. Em nosso filme, a gente procura diversidade até na escolha dos atores. Tem atores de Salvador, do Piauí, vários atores espanhóis. A gente busca descentralizar, tirar só do Eixo Rio-São Paulo e viajar pelo mundo.
Seu último trabalho na Globo foi O Quinto dos Infernos, depois participou de Mandrake na HBO. Sente falta de fazer televisão?
Eu adoro televisão, mas não tem dado tempo. É uma dedicação a parte. Mas, eu gosto de tudo. Televisão, teatro, cinema, literatura, música. Artes em geral.
Quais os projetos atuais?
Estamos preparando outro filme, o roteiro já está pronto e estamos trabalhando no projeto. Vai ser a mesma parceria, roteiro meu e direção do Carlos Alberto Riccelli. Mas, a gente gosta muito de ir ao cinema, a gente vai a tudo, super cinéfilo, cinema independente, pequeno, de tudo.
Carlos Alberto Riccelli
Vamos começar pelo óbvio Onde está a Felicidade?
O óbvio é fácil de responder, né? (risos) Eu acho que é fácil mesmo, estava brincando, mas acho que é fácil. E eu acho que começa dentro da gente, na leveza de encarar as coisas, que ninguém pode ser feliz se encara muito gravemente, muito seriamente as coisas. A gente nessa vida tão louca de hoje em dia, a vida moderna, está sempre preocupado, sempre correndo, parece que está sempre faltando alguma coisa porque a gente está sempre se sentindo atrás. Não para nunca para se ouvir, ouvir os outros. Uma coisa que eu acho é que é impossível ser feliz sozinho. Os outros a sua volta tem que estar felizes para você estar feliz. Eu acho que é isso.
Você já tinha feito o Caminho de Santiago?
Não, eu sempre sonhei em fazer. Eu acho que é uma coisa que todo mundo tem vontade de fazer, uma mística, um caminho que é feito desde o século IX. Você pensar quantas pessoas passaram por aquele caminho em uma época em que o mundo era apenas o que você via até o horizonte, até onde sua vista ia. Você pode imaginar o que significava andar, andar e passar o horizonte? E continuar andando, andando. O que significava essa busca do desconhecido? É muito lindo. Eu sempre desejei essa coisa de parar 40 dias da sua vida pra se dedicar a isso, andar, andar. Às vezes sozinho, com amigos, família. Simplesmente andar.
E é nesse clima que você definiria o tema do filme? Nessa busca?
É, e é uma comédia. O que eu acho muito legal, porque falar de busca de espiritualidade, que é um dos temas do filme, não pode ser falado de uma forma séria. Pelo menos para a proposta que a gente queria fazer. Tem que ser com leveza, foi uma coisa que eu vi no caminho com os peregrinos. É duro, o caminho é duro, as pessoas se machucam, bolhas no pé, no entanto, a gente não vê gente de cara amarrada. Porque é um desafio que você vai para estar com você mesmo, é uma coisa que você se propôs. E a idéia foi de fazer disso uma comédia. Porque quando a Teodora, personagem da Bruna, decide fazer o caminho é se baseando no conselho da maquiadora dela que tinha uma sobrinha que ia fazer (risos) e ela decide fazer o caminho porque teve problemas no casamento e porque o programa dela foi acabado. Mas ela resolve com a intenção de ficar magérrima, se espiritualizar e achar um amante. (risos)
O fato de sua esposa ser a roteirista da obra ajuda ou complica nas decisões autorais? Vocês discutem as cenas antes?
Só facilita. O diretor quando vai trabalhar com o roteirista é uma parceria. Eles vão ter que trabalhar muito intimamente, então, essa relação tem que ser de confiança total, falta de ego total. Porque se um começa a se sentir invadido no seu campo, dançou. É um trabalho conjunto. E isso a gente tem. A gente tem confiança total, porque sabe que um quer o melhor do outro e o melhor pro projeto.
Você continua atuando em outras produções, mas não nos seus filmes, seria difícil se dirigir, ou é uma opção separar as funções?
Eu acho que não teria problema de me dirigir, porque cada vez que eu dirijo um ator eu estou fazendo o papel. Eu tenho essa consciência. Eu faço cada um dos papéis. Mas, eu quero muito continuar trabalhando como ator. O problema é o tempo, porque sou também o produtor do filme. E já estamos trabalhando em um novo projeto. Então, falta tempo.
Você já deu várias entrevistas, tem alguma pergunta que você gostaria de ter respondido, mas ainda não foi feita?
Não sei, as pessoas estão pegando bem a idéia. Porque o filme é uma grande comédia, mas tem muitas camadas, tem muito questionamento. Acredito que as pessoas estão vendo isso, vendo que essa Teodora representa muito a mulher moderna nessa busca desesperada de tanta coisa. Ninguém sabe não apenas
Onde Está a Felicidade, mas pra onde ir, o que deve fazer, a família, a carreira, os filhos, coisas que todo mundo se pergunta. E o que eu gosto muito no filme é ver a Bruna comediante, uma faceta que ninguém conhece.
Como você vê o cenário do cinema nacional hoje?
Cada vez melhor. Acho que o público brasileiro gosta muito do cinema brasileiro e eu estou muito contente com o resultado desse filme porque é uma comédia muito bem produzida, que se preocupa com detalhes, que mostra lugares muito lindos.