Super 8
J.J. Abrams é fã de Steven Spielberg. Então, se você vai ao cinema esperando Lost, vai encontrar uma semelhança ou outra, mas Super 8 é uma homenagem explícita a obras do diretor de E.T. e Contatos Imediatos de 3º Grau. Uma ficção científica emotiva e repleta de referências as décadas de 70 e 80.
Em uma cidade industrial de Ohio, seis garotos têm um sonho: se tornar cineastas. Utilizando uma câmera Super 8 do pai, o garotinho Charles lidera a turma em um divertido roteiro de zumbis, com várias referências ao mestre do gênero George Romero. Como ajudante principal, conta com Joe Lamb vivido por Joel Courtney, filho do policial local Jackson Lamb, interpretado por Kyle Chandler. Além a musa de ambos, Alice, vivida por Elle Fanning de Um lugar qualquer e outros três amigos atrapalhados. O que parecia uma saga singela da descoberta da sétima arte e do amor, se transforma em um suspense empolgante a partir de um acidente de trem no set de filmagem, para se tornar, por fim, algo nem tão interessante.
A reconstituição de época está impecável. A atmosfera do final dos anos 70, as roupas, carros, casas, músicas, gírias, modo de se portar. Tudo está em tela. Talvez por isso nos lembre tanto E.T. e Os Goonies. É nostálgico e ao mesmo tempo nos transporta para aquela época, como se ela nunca tivesse acabado. Após o acidente do trem, o filme se torna um suspense inteligente. Há mistério, há o desconhecido, há a incerteza. Primeiro a ameaça: "não contem para ninguém, senão eles vão matá-los", depois as situações estranhas. Os cães que fogem, os sumiços de coisas, os barulhos na floresta. Nisso, os fãs de Lost vão se sentir em casa.
J.J. Abrams é bastante feliz ao construir sequências apenas utilizando o medo do desconhecido da platéia e dos personagens. A sequência do posto de gasolina, por exemplo, é um dos pontos mais altos do filme. O ataque ao delegado local não é explícito, temos que imaginar muita coisa porque ficamos com a visão, ou falta dela, do rapaz dentro da loja com o walkman. Assim como, quando ele sai, pouco é visto, sendo utilizado até mesmo o reflexo na poça de gasolina no chão. Os gritos nos impulsionam a ir em busca da solução do mistério, mas Abrams nos dá uma fuga na placa do estabelecimento, nos deixando ainda mais aflitos. Uma espécie de repetição do que Spielberg fez com Tubarão, onde o tal bicho do filme só aparecia na sequência final. Claro que ali, foi devido a cortes no orçamento, mas funcionou de uma maneira incrível.
Orçamento não faltou a J.J. Abrams. As explosões do trem, por exemplo, são impressionantes. Tanto que se alongam por um bom tempo. Vemos cada carreta descarrilhar, com garotos correndo e gritando ao som de ventos e trilha grandiosa. As sequências finais também não poupam efeitos especiais, dando um tom de Guerra dos Mundos. Tentado por tantas possibilidades, J.J. Abrams não conseguiu segurar seu monstro até o final como o Tubarão de Spielberg. E isso, fez o filme cair muito em qualidade, tornando-se até bobo em alguns momentos. É complicado ser um Tubarão e um E.T. ao mesmo tempo. Não que a premissa seja impossível. Na verdade, a denúncia em E.T. já era essa, ainda temos muito o que aprender em relação ao convívio com o diferente. É louvável até, mas o desenvolvimento do roteiro ficou tolo, sem força.
Em vez de desenvolver melhor sua premissa, J.J. Abrams preferiu retardá-la, focando na dificuldade de relação dos garotos Joe e Alice com seus respectivos pais, em uma trama que não nos convence, nem emociona. Da mesma forma, como o filme de zumbis na câmera Super 8 do título ficou em segundo plano à partir da metade da projeção. Uma pena, já que o paralelo entre o filme de zumbis e o mistério do trem era uma das coisas mais interessantes da trama. Ainda assim, a boa atuação dos seis garotos nos prende àquele universo de uma forma ou de outra.
Super 8 é um filme com primor artístico. Cada enquadramento é pensado de uma forma completa. Tanto que não vemos nunca, por exemplo, um céu totalmente azul, o que torna a fotografia pobre. Vemos nuvens claras criando um ambiente aconchegante no início, nascer e pôr-do-sol nos momentos inconstantes de transformação e nuvens negras nos momentos mais tensos, até nos aproximarmos da noite completa do ato final. Temos ainda uma boa utilização de efeitos especiais e uma história promissora. Poderia ser o nascimento de um clássico. Mas, além do tom requentado do roteiro, este se perde ao nos apresentar seu monstro e colocar tanta fé nele. E apesar de seis crianças e um motorista de uma picape, não, ele não é o oitavo passageiro.
UMA DICA: Quando as luzes acenderem mesmo antes do primeiro nome dos créditos em um convite a sair da sala, não aceite. Durante os créditos, tem um presente especial para todos que se envolveram na história desses seis garotos e sua câmera Super 8.
Super 8 (Super 8: 2011 / EUA)
Direção: J.J. Abrams
Roteiro: J.J. Abrams
Produção: J.J. Abrams, Steven Spielberg
Com: Kyle Chandler, Elle Fanning, Noah Emmerich, Joel Courtney, Riley Griffiths.
Duração: 112 min
Em uma cidade industrial de Ohio, seis garotos têm um sonho: se tornar cineastas. Utilizando uma câmera Super 8 do pai, o garotinho Charles lidera a turma em um divertido roteiro de zumbis, com várias referências ao mestre do gênero George Romero. Como ajudante principal, conta com Joe Lamb vivido por Joel Courtney, filho do policial local Jackson Lamb, interpretado por Kyle Chandler. Além a musa de ambos, Alice, vivida por Elle Fanning de Um lugar qualquer e outros três amigos atrapalhados. O que parecia uma saga singela da descoberta da sétima arte e do amor, se transforma em um suspense empolgante a partir de um acidente de trem no set de filmagem, para se tornar, por fim, algo nem tão interessante.
A reconstituição de época está impecável. A atmosfera do final dos anos 70, as roupas, carros, casas, músicas, gírias, modo de se portar. Tudo está em tela. Talvez por isso nos lembre tanto E.T. e Os Goonies. É nostálgico e ao mesmo tempo nos transporta para aquela época, como se ela nunca tivesse acabado. Após o acidente do trem, o filme se torna um suspense inteligente. Há mistério, há o desconhecido, há a incerteza. Primeiro a ameaça: "não contem para ninguém, senão eles vão matá-los", depois as situações estranhas. Os cães que fogem, os sumiços de coisas, os barulhos na floresta. Nisso, os fãs de Lost vão se sentir em casa.
J.J. Abrams é bastante feliz ao construir sequências apenas utilizando o medo do desconhecido da platéia e dos personagens. A sequência do posto de gasolina, por exemplo, é um dos pontos mais altos do filme. O ataque ao delegado local não é explícito, temos que imaginar muita coisa porque ficamos com a visão, ou falta dela, do rapaz dentro da loja com o walkman. Assim como, quando ele sai, pouco é visto, sendo utilizado até mesmo o reflexo na poça de gasolina no chão. Os gritos nos impulsionam a ir em busca da solução do mistério, mas Abrams nos dá uma fuga na placa do estabelecimento, nos deixando ainda mais aflitos. Uma espécie de repetição do que Spielberg fez com Tubarão, onde o tal bicho do filme só aparecia na sequência final. Claro que ali, foi devido a cortes no orçamento, mas funcionou de uma maneira incrível.
Orçamento não faltou a J.J. Abrams. As explosões do trem, por exemplo, são impressionantes. Tanto que se alongam por um bom tempo. Vemos cada carreta descarrilhar, com garotos correndo e gritando ao som de ventos e trilha grandiosa. As sequências finais também não poupam efeitos especiais, dando um tom de Guerra dos Mundos. Tentado por tantas possibilidades, J.J. Abrams não conseguiu segurar seu monstro até o final como o Tubarão de Spielberg. E isso, fez o filme cair muito em qualidade, tornando-se até bobo em alguns momentos. É complicado ser um Tubarão e um E.T. ao mesmo tempo. Não que a premissa seja impossível. Na verdade, a denúncia em E.T. já era essa, ainda temos muito o que aprender em relação ao convívio com o diferente. É louvável até, mas o desenvolvimento do roteiro ficou tolo, sem força.
Em vez de desenvolver melhor sua premissa, J.J. Abrams preferiu retardá-la, focando na dificuldade de relação dos garotos Joe e Alice com seus respectivos pais, em uma trama que não nos convence, nem emociona. Da mesma forma, como o filme de zumbis na câmera Super 8 do título ficou em segundo plano à partir da metade da projeção. Uma pena, já que o paralelo entre o filme de zumbis e o mistério do trem era uma das coisas mais interessantes da trama. Ainda assim, a boa atuação dos seis garotos nos prende àquele universo de uma forma ou de outra.
Super 8 é um filme com primor artístico. Cada enquadramento é pensado de uma forma completa. Tanto que não vemos nunca, por exemplo, um céu totalmente azul, o que torna a fotografia pobre. Vemos nuvens claras criando um ambiente aconchegante no início, nascer e pôr-do-sol nos momentos inconstantes de transformação e nuvens negras nos momentos mais tensos, até nos aproximarmos da noite completa do ato final. Temos ainda uma boa utilização de efeitos especiais e uma história promissora. Poderia ser o nascimento de um clássico. Mas, além do tom requentado do roteiro, este se perde ao nos apresentar seu monstro e colocar tanta fé nele. E apesar de seis crianças e um motorista de uma picape, não, ele não é o oitavo passageiro.
UMA DICA: Quando as luzes acenderem mesmo antes do primeiro nome dos créditos em um convite a sair da sala, não aceite. Durante os créditos, tem um presente especial para todos que se envolveram na história desses seis garotos e sua câmera Super 8.
Super 8 (Super 8: 2011 / EUA)
Direção: J.J. Abrams
Roteiro: J.J. Abrams
Produção: J.J. Abrams, Steven Spielberg
Com: Kyle Chandler, Elle Fanning, Noah Emmerich, Joel Courtney, Riley Griffiths.
Duração: 112 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Super 8
2011-08-11T08:55:00-03:00
Amanda Aouad
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