Apollo 18
Quando A Bruxa de Blair estreou em 1999 foi um assombro. Uma história contada a partir de suas câmeras supostamente encontradas na floresta onde três amigos investigavam uma lenda local. O jogo eterno de câmeras subjetivas com ar amador conquistou platéias, além de críticos ferrenhos, e foi um fenômeno de bilheteria. Depois dele, muitos vieram. O mais popular atualmente é a franquia Atividade Paranormal. Apollo 18 do novato Gonzalo López-Galego tem essa mesma premissa, só que transporta sua história para o espaço em uma trama mirabolante que não consegue prender a platéia pela falta de verossimilhança e abuso dos clichês do gênero.
Tudo se baseia em arquivos confidenciais da NASA em sua corrida espacial nos anos 60 e 70. Segundo os dados oficiais, existiram 17 expedições do homem à lua e que o projeto fora abandonado por falta de verba. Esse ponto tem uma premissa interessante, já que muitos questionam até hoje o porquê do homem não ter voltado à lua, tendo algumas teorias, inclusive, de que ele nunca teria ido lá. Todo o esquema seria apenas uma encenação dos Estados Unidos para ganhar a corrida espacial durante a Guerra Fria. Outros, no entanto, acreditam que as expedições pararam para esconder a existência de vida extra-terrestre. É nesse segundo ponto que se baseia o roteiro de Cory Goodman e Brian Miller.
Ben e Nate são dois astronautas enviados à lua para testar novas sondas, supostamente para espionar os Russos, já que estavam em 1973, um ano após a Apollo 17, em plena Guerra Fria. O problema é que a missão é para ser completamente sigilosa e nem os próprios astronautas sabem exatamente o que vão fazer, nem para quê. A única regra é: documentar absolutamente tudo. Essa é uma boa desculpa para justificar a quantidade de câmeras e a preocupação dos astronautas em carregá-las nos momentos mais improváveis. Cuidar da câmera e documentar tudo parece mais importante do que preservar a própria vida. E, claro, como todo filme de terror, coisas estranhas vão acontecer no solo lunar.
O argumento é bom, tinha futuro. Mas, algo começa a não funcionar desde a concepção da forma como ele será contato. A começar, somos avisados que, apenas em 2011, um site clandestino lunartruth.org teria tido acesso às tais filmagens e feito uma montagem especial para revelar ao mundo o que a Nasa escondeu por tanto tempo. Fica pouco crível que tenham conseguido isso, e menos crível ainda a montagem final das tais 86 horas de gravação. Em um filme de entretenimento é justificável gastar tempo mostrando astronauta dormindo, comendo, brincando, etc. Em um filme denúncia, porque eles não vão logo para os finalmente? Além disso, no jogo que não se tem como ter certeza ao certo se é orçamentário ou para criar mais suspense, fica muito cômodo a câmera falhar exatamente em momentos-chaves, para que o espectador fique na tensão do que consegue ou não acompanhar do drama dos astronautas.
Ou seja, falta a Apollo 18 aquilo que Aristóteles na Grécia Antiga já dizia ser fundamental a uma história: verossimilhança. O espectador tem que comprar a idéia do filme, é o pacto. São tantos furos e situações incríveis que fica difícil embarcar na história que Gonzalo López-Galego está tentando nos mostrar. E nisso, nem vou entrar no mérito da revelação do perigo, que é lamentável de fato, mas é melhor assistirem para entender o quanto. Porque não é apenas o que é o monstro, mas o como e quando ele se revela que também não faz sentido algum. Por fim, a construção dos personagens é muito rasa, poderia trocar qualquer um ali que não faria diferença. Essa falta de personalidade, de construção de simpatia acaba fazendo com que o espectador não se importe com o destino deles, não criando a emoção necessária para o clímax da história.
A direção e montagem no entanto, devem ser elogiadas em alguns aspectos. Por ter a justificativa de várias câmeras, López-Galego consegue nos dar uma boa noção de espaço, captando movimentações mínimas dos astronautas dentro da nave, seu porto seguro. No solo lunar, como temos apenas três câmeras, as dos dois astronautas e a de cima da nave, tudo fica mais difícil, como deve ser um bom filme de terror. Afinal, quanto menos vemos, mais inseguros ficamos. Mesmo na nave, todas as cenas são construídas com quase na penumbra. O jogo de luz e sombra é importante para aclimatar a tensão crescente entre os dois e o que estaria lá fora. A montagem também é eficiente ao construir as elipses a partir das câmeras existentes, tentando dar ritmo ao filme para que ele não fique monótono.
Outros momentos, no entanto, essa mesma direção e montagem escorregam no clichê básico de fade in e out para esconder e revelar dando sustos na platéia. A tela se apaga e, quando a luz volta, já estamos com o monstro em nossa frente. O problema é que ele acaba denunciando sua intenção antes da hora e, quando o susto vem, a platéia já está preparada na maioria das vezes. Um exemplo claro disso é a cena da caverna. Principalmente pela conveniente falha da lanterna que deixa o astronauta quase no breu total. Fica claro que algo vem aí.
Apollo 18 é aquele filme bem intencionado, com uma boa idéia que não consegue se realizar em um filme satisfatório. Fora o fato de que o recurso usado por A Bruxa de Blair, REC, Cloverfield, Atividade Paranormal, etc, já está desgastado. O público parece que não consegue encontrar naquela história algo para se identificar, seja pelos personagens, seja pela narrativa pouco crível, ou pelo tal projeto que descobriu "a verdade" e veio nos revelar. É daquelas histórias difíceis de engolir. Mas, sempre vai ter alguém para tomar um susto e se divertir com ele.
Apollo 18 (Apollo 18: 2011 / EUA)
Direção: Gonzalo López-Galego
Roteiro: Cory Goodman, baseado em roteiro de Brian Miller
Com: Warren Christie, Lloyd Owen
Duração: 88 min.
Tudo se baseia em arquivos confidenciais da NASA em sua corrida espacial nos anos 60 e 70. Segundo os dados oficiais, existiram 17 expedições do homem à lua e que o projeto fora abandonado por falta de verba. Esse ponto tem uma premissa interessante, já que muitos questionam até hoje o porquê do homem não ter voltado à lua, tendo algumas teorias, inclusive, de que ele nunca teria ido lá. Todo o esquema seria apenas uma encenação dos Estados Unidos para ganhar a corrida espacial durante a Guerra Fria. Outros, no entanto, acreditam que as expedições pararam para esconder a existência de vida extra-terrestre. É nesse segundo ponto que se baseia o roteiro de Cory Goodman e Brian Miller.
Ben e Nate são dois astronautas enviados à lua para testar novas sondas, supostamente para espionar os Russos, já que estavam em 1973, um ano após a Apollo 17, em plena Guerra Fria. O problema é que a missão é para ser completamente sigilosa e nem os próprios astronautas sabem exatamente o que vão fazer, nem para quê. A única regra é: documentar absolutamente tudo. Essa é uma boa desculpa para justificar a quantidade de câmeras e a preocupação dos astronautas em carregá-las nos momentos mais improváveis. Cuidar da câmera e documentar tudo parece mais importante do que preservar a própria vida. E, claro, como todo filme de terror, coisas estranhas vão acontecer no solo lunar.
O argumento é bom, tinha futuro. Mas, algo começa a não funcionar desde a concepção da forma como ele será contato. A começar, somos avisados que, apenas em 2011, um site clandestino lunartruth.org teria tido acesso às tais filmagens e feito uma montagem especial para revelar ao mundo o que a Nasa escondeu por tanto tempo. Fica pouco crível que tenham conseguido isso, e menos crível ainda a montagem final das tais 86 horas de gravação. Em um filme de entretenimento é justificável gastar tempo mostrando astronauta dormindo, comendo, brincando, etc. Em um filme denúncia, porque eles não vão logo para os finalmente? Além disso, no jogo que não se tem como ter certeza ao certo se é orçamentário ou para criar mais suspense, fica muito cômodo a câmera falhar exatamente em momentos-chaves, para que o espectador fique na tensão do que consegue ou não acompanhar do drama dos astronautas.
Ou seja, falta a Apollo 18 aquilo que Aristóteles na Grécia Antiga já dizia ser fundamental a uma história: verossimilhança. O espectador tem que comprar a idéia do filme, é o pacto. São tantos furos e situações incríveis que fica difícil embarcar na história que Gonzalo López-Galego está tentando nos mostrar. E nisso, nem vou entrar no mérito da revelação do perigo, que é lamentável de fato, mas é melhor assistirem para entender o quanto. Porque não é apenas o que é o monstro, mas o como e quando ele se revela que também não faz sentido algum. Por fim, a construção dos personagens é muito rasa, poderia trocar qualquer um ali que não faria diferença. Essa falta de personalidade, de construção de simpatia acaba fazendo com que o espectador não se importe com o destino deles, não criando a emoção necessária para o clímax da história.
A direção e montagem no entanto, devem ser elogiadas em alguns aspectos. Por ter a justificativa de várias câmeras, López-Galego consegue nos dar uma boa noção de espaço, captando movimentações mínimas dos astronautas dentro da nave, seu porto seguro. No solo lunar, como temos apenas três câmeras, as dos dois astronautas e a de cima da nave, tudo fica mais difícil, como deve ser um bom filme de terror. Afinal, quanto menos vemos, mais inseguros ficamos. Mesmo na nave, todas as cenas são construídas com quase na penumbra. O jogo de luz e sombra é importante para aclimatar a tensão crescente entre os dois e o que estaria lá fora. A montagem também é eficiente ao construir as elipses a partir das câmeras existentes, tentando dar ritmo ao filme para que ele não fique monótono.
Outros momentos, no entanto, essa mesma direção e montagem escorregam no clichê básico de fade in e out para esconder e revelar dando sustos na platéia. A tela se apaga e, quando a luz volta, já estamos com o monstro em nossa frente. O problema é que ele acaba denunciando sua intenção antes da hora e, quando o susto vem, a platéia já está preparada na maioria das vezes. Um exemplo claro disso é a cena da caverna. Principalmente pela conveniente falha da lanterna que deixa o astronauta quase no breu total. Fica claro que algo vem aí.
Apollo 18 é aquele filme bem intencionado, com uma boa idéia que não consegue se realizar em um filme satisfatório. Fora o fato de que o recurso usado por A Bruxa de Blair, REC, Cloverfield, Atividade Paranormal, etc, já está desgastado. O público parece que não consegue encontrar naquela história algo para se identificar, seja pelos personagens, seja pela narrativa pouco crível, ou pelo tal projeto que descobriu "a verdade" e veio nos revelar. É daquelas histórias difíceis de engolir. Mas, sempre vai ter alguém para tomar um susto e se divertir com ele.
Apollo 18 (Apollo 18: 2011 / EUA)
Direção: Gonzalo López-Galego
Roteiro: Cory Goodman, baseado em roteiro de Brian Miller
Com: Warren Christie, Lloyd Owen
Duração: 88 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Apollo 18
2011-09-03T22:43:00-03:00
Amanda Aouad
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